Hotel em MS tem móveis esculpidos há cem anos por artesão europeu
Peças de demolições em São Paulo também compõem espaço aberto aos turistas ao lado do Rio Formoso, em Bonito
Armário de farmácia, móveis esculpidos por artesão europeu há cem anos, cadeiras desenhadas a mão, janela com madeira em processo de extinção e, claro, o portão francês do século XIX. Olhar as peças que formam o Hotel Santa Esmeralda, em Bonito, é ficar imerso em histórias que poderiam ter morrido no esquecimento, mas que vivem após serem reescritas.
Tendo como quintal o Rio Formoso, o hotel está localizado a 17 quilômetros do Centro de Bonito, em um “paraíso ecológico”, como é definido em seu site. Ao todo, são 29 hectares de espaço compostos por muita vegetação e arquitetura única.
Se pensarmos no espaço a partir dos termos do poeta Manoel de Barros, diríamos que os itens trazidos para compor o local foram "desacostumados", assim como as palavras de um poema, para ganhar novos sentidos.
Em meio à natureza, 19 suítes e um chalé foram criados para acolher os hóspedes. Proprietária do hotel ao lado do marido e arquiteto Rogério Valsani Sobrinho, Rosana Maria Guim Valsani resume que o espaço é único ao trazer à tona narrativas do passado às construções do presente.
Assim como todos os outros ambientes, as suítes foram construídas pouco a pouco, com materiais e peças de demolição trazidas de São Paulo, de acordo com Rosana. “Meu marido, Rogério, trabalhava com materiais de demolição e tinha contato com quem fazia as vendas em São Paulo", explica.
Foi deste jeito que a cobertura de cobre antes usada em uma casa no Morumbi, bairro rico e tradicional de São Paulo, se tornou peça de apresentação, na fachada da suíte prêmio do hotel.
Vitrais coloridos e portas de madeira também foram selecionadas em lotes de demolição. No interior do espaço, que tem 40 m² e acomoda até três adultos e uma criança, a janela de madeira lembra o trabalho de artesão do século XIX.
A suíte bangalô, sem terraço, usa ferragens para dividir espaços. “Aqui no Estado, essa cultura de reutilizar materiais está começando, mas isso em São Paulo é muito utilizado. Muitas pessoas falam que é coisa velha, mas na verdade, é antigo. É reutilizado”, defende Rosana.
É este “antigo” que se destaca ao olhar externamente para a suíte prêmio Ágata. Suas telhas vieram de uma fábrica demolida em São Paulo. “Trouxemos tudo em carretas. Nós esquecemos as funções antigas das coisas, tiramos de um lugar e colocamos em outro”.
Na suíte, grades foram postas em conjunto com uma base de tijolos para delimitar a área de cada cama. Nela é possível ver mais um detalhe que está espalhado por todo o hotel, os quadros pintados pela mãe de Rosana.
“Hoje, minha mãe não pinta mais, mas durante 15 anos, cada vez que eu ia para São Paulo, trazia um ou dois quadros. Todos que estão espalhados pelo hotel são dela. Muita gente pergunta se nós vendemos, mas isso não fazemos”, avisa a filha.
Já a suíte prêmio Cristal tem todo o seu piso feito com pedras e cadeiras que foram desenhadas por Rosana.
“Ela é incrível porque tem peças únicas e tentamos deixar cada decoração diferente da outra. Nada é comprado em lotes iguais. Colocamos um frigobar em um caixote que também mandamos fazer para ficar mais agradável. O armário da suíte é todo feito de ripinhas, nós também fizemos. Vamos criando conforme a criatividade e necessidade”, Rosana diz.
Espaço vivo - “A estrela aqui é o rio, assim como a localização”, avalia a proprietária. Dentro dos 29 hectares, o restaurante destinado aos hóspedes não sai da história de demolições e é mais um espaço de histórias vivas. Nele, um armário que era utilizado em farmácia antiga se tornou parte do bar.
Especial, a sala é composta por móveis entalhados por um artesão europeu há cerca de cem anos. “Em uma das demolições, o dono da casa viu que meu marido gostava dos materiais e disse que queria alguém para comprar seus móveis. Ele se casou em 1920 e seu pai trouxe um artesão da Europa para entalhar, é tudo feito de madeira nobre”.
Na época em que os móveis foram comprados, o hotel ainda não existia e, por isso, ficaram guardados por cerca de dez anos. “Mesa, cadeira, sofá, nós compramos quando nos casamos. Não tínhamos espaço na nossa casa e quando fizemos o hotel, trouxemos para cá. Também faz parte dessa história”.
Do lado de fora, o verde toma conta do hotel e, de acordo com Rosana, todas as árvores foram plantadas pela família. “Exceto o que tinha na beira do rio, tudo plantamos. Até hoje, continuamos, toda vez estamos plantando algo novo”.
Uma das estrelas, o portão de entrada para a mata da cachoeira é francês do século XIX e já teve a história contada pelo Lado B. Completamente de ferro maciço, ele era a porta de entrada em uma mansão paulista.
Resumindo, Rosana pontua que tudo no hotel foi feito pensando na recriação de histórias, como um texto recheado de palavras com novos significados. Deixando as funções originais no passado e dando novos olhares para cada item, cada espaço.
Valores e disponibilidade - Todos os preços dependem de vários fatores, conforme explicado pela proprietária. A quantidade de pessoas, data, período de estadia, tudo isso faz com que as tarifas não sejam gerais.
Por isso, para consultar, é necessário entrar em contato pelos números (67) 3255-2683, 3255-1043 ou 99986-4580.
Curta o Lado B no Facebook. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.