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Arquitetura

Inspirado em revoada de pássaros, crematório é novo “ponto turístico”

Local abre só quarta-feira (7) para romper tabu sobre a morte, mas já tem atraído moradores com muita curiosidade sobre a cremação

Thailla Torres | 04/10/2020 09:10
Volumetria da fachada é ponto alto de empreendimento que tem gerado muita curiosidade no Vila Nasser. (Foto: Fellipe Lima)
Volumetria da fachada é ponto alto de empreendimento que tem gerado muita curiosidade no Vila Nasser. (Foto: Fellipe Lima)

As grandes paredes, as placas douradas e as curvas volumosas desenham o primeiro crematório de Campo Grande na Avenida Tamandaré. A arquitetura é a grande curiosidade no estabelecimento para quem imaginou um projeto mais padronizado nesse segmento.

“É uma escultura a céu aberto para tratar a dor através do belo”, comenta a arquiteta Alessandra Ribeiro. Apesar da abertura para o público ser apenas no dia 7 de outubro, próxima quarta-feira, o Lado B foi convidado a passear pela estrutura neste fim de semana.

O projeto é de Alessandra, também responsável por inúmeros projetos residenciais e comerciais em Campo Grande, e exigiu milhões de reais em investimentos, além de uma longa pesquisa. A arquitetura inspirada no desconstrutivismo é a menina dos olhos do grupo Pax Nacional, responsável pelo empreendimento. O prédio principal liberta o campo-grandense dos ângulos retos e de uma arquitetura monótona.

Imagem aérea de crematório na Vila Nasser. (Foto: Fellipe Lima)
Imagem aérea de crematório na Vila Nasser. (Foto: Fellipe Lima)
Fachada do 1º crematório da cidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Fachada do 1º crematório da cidade. (Foto: Kísie Ainoã)

Cobrada pela expectativa criada na cidade de um empreendimento inédito, que abraça um tema ainda tabu na vida de muitas pessoas, a morte, Alessandra acredita que a obra seja “um dos maiores desafios da carreira” e, por isso, apostou na arquitetura como marco. “A morte também é bela e ela simboliza que você cumpriu o seu papel aqui, mas ainda assim existe a dor da despedida. Daí a beleza da arquitetura do lugar, para que as pessoas encontrem a paz”, define.

O conceito desconstrutivista citado pela arquiteta aparece em detalhes da fachada que, no primeiro momento, causam certa confusão em quem não assimila muito o abstrato. Mas os elementos curiosos formam uma revoada de pássaros.

“A cremação é o fogo e a chama. E o símbolo que poderia abraçar todos é o pássaro, ou a pomba, que é unanime em todas as crenças e é o símbolo universal da paz. Então as aves serviram de inspiração para a volumetria. É como se eles pegassem a alma e elevassem ao divino no ponto mais alto da obra”, explica.

Alessandra Ribeiro é arquiteta responsável do projeto. (Foto: Kísie Ainoã)
Alessandra Ribeiro é arquiteta responsável do projeto. (Foto: Kísie Ainoã)
Uma das áreas da administração. (Foto: Kísie Ainoã)
Uma das áreas da administração. (Foto: Kísie Ainoã)

A conexão entre o minimalismo e materiais luxuosos é um dos pontos percebidos ao longo dos 800 metros quadrados de área construída em terreno de quatro mil metros quadrados.

O prédio principal tem três blocos sendo área administrativa, bloco de cerimônia e cremação. A unidade conta também com um amplo jardim que foi desenhado para receber as estruturas do cruzeiro, capela, columbário e ossuário. Vamos explicar também a utilização de cada um destes espaços.

Saindo da administração, que conta com uma iluminação clean e elementos que trazem aconchego, a arquiteta nos leva para ao bloco de cerimônia, onde há uma sofisticada sala de despedida.

Pétalas de rosas caem sobre a urna em sala de despedida. (Foto: Fellipe Lima)
Pétalas de rosas caem sobre a urna em sala de despedida. (Foto: Fellipe Lima)
Local tem decoração sofisticada. (Foto: Kísie Ainoã)
Local tem decoração sofisticada. (Foto: Kísie Ainoã)

O espaço conta com pé direito de 9 metros de altura, planejado para trazer a sensação de grandiosidade e “elevação ao divino”. “No início temos um pé direito mais baixo, para mostrar o nosso tamanho em relação ao universo, depois, quando entramos na sala de despedida, nos deparamos com a grandiosidade”.

No tripé da arquitetura que envolve funcionalidade, estrutura e beleza, o terceiro se destaca. Com tapete vermelho para entrada de quem fica, há confortáveis poltronas do mesmo tom aveludadas em sinal de conforto. Ao centro, espaço para a urna ou caixão, para que seja realizada cerimônia de despedida do ente querido.

Ao olhar para cima se destacam as formas curvadas do teto. Segundo a arquiteta é a representação lúdica de um céu infantil para simbolizar a pureza. “A nossa alma e o nosso espírito é puro. Então quando você entra é como se tivesse elevando tudo ao divino, de acordo com a crença de cada um”, destaca, mostrando um pequeno espaço de onde caem pétalas de rosas em cima da urna.

Ainda há dois telões para exibição de fotos ou homenagens, de acordo com a preferência dos clientes, para uma despedida mais harmoniosa. As janelas que permitem luz natural foram inspiradas na Capela de Ronchamp, um clássico da arquitetura no sudeste de Paris.

Neste espaço estão localizados os columbários, onde são depositadas as cinzas caso a família não queira levar para casa. (Foto: Fellipe Lima)
Neste espaço estão localizados os columbários, onde são depositadas as cinzas caso a família não queira levar para casa. (Foto: Fellipe Lima)
Espaço é amplo e minimalista, em respeito a todas as crenças. (Foto: Fellipe Lima)
Espaço é amplo e minimalista, em respeito a todas as crenças. (Foto: Fellipe Lima)
Outro ângulo que mostra volumes que chamam a atenção. (Foto: Kísie Ainoã)
Outro ângulo que mostra volumes que chamam a atenção. (Foto: Kísie Ainoã)
Capela para momento reservado de familiares que visitam as cinzas. (Foto: Kísie Ainoã)
Capela para momento reservado de familiares que visitam as cinzas. (Foto: Kísie Ainoã)

Do lado de fora, o jardim que abriga o cruzeiro, capela, columbário e ossuário também tem história e foi pensado para ser um atrativo em conjunto com toda a estrutura do crematório. “Além de uma obra inédita para Campo Grande pensada para as despedidas, a arquitetura também foi trabalhada para visitas, assim como em lugares conhecidos pelo mundo, onde os crematórios e cemitérios são verdadeiros pontos turísticos. Aqui visamos ser um ponto turístico da Capital”.

O cruzeiro é um espaço onde as pessoas podem acender suas velas. A capela, um espaço pequeno e mais reservado que foi feito para aqueles que desejam ter um momento reservado durante a visita, seja para o choro ou até mesmo meditação. Já os columbários, são espaços onde são depositadas as urnas contendo as cinzas dos mortos. Há também ossuários, em caso de exumação ou espera para que os ossos sejam cremados.

Neste espaço também há um investimento em sensações. Haverá, por exemplo, trilha sonora especial durante as visitas, com playlist que já está disponível nas redes sociais do crematório.

“A morte desestrutura todo mundo. É o momento que a gente sente mais fragilidade. Já que não aprendemos muito na vida a lidar com os términos e as despedidas, ter um espaço bem feito, bonito, acolhedor, que ofereça essa despedida de forma tão grandiosa, certamente torna mais leve essa ultima instância da vida”, finaliza Alessandra.

Sala para entrega das cinzas aos familiares após cremação. (Foto: Kísie Ainoã)
Sala para entrega das cinzas aos familiares após cremação. (Foto: Kísie Ainoã)
Urna para depósito das cinzas. (Foto: Kísie Ainoã)
Urna para depósito das cinzas. (Foto: Kísie Ainoã)

Funcionamento - O processo de cremação é um assunto que permeia nossas vidas há muito tempo, inclusive em filmes que retratam rituais funerários e mostram pessoas jogando cinzas em locais que o ente querido desejou. Mas ao contrário do enterro, que hoje é visto como ato comum, o processo de cremação ainda gera curiosidade e, às vezes, resistência, já que em algumas religiões ele não é aceito.

No entanto, em enquete realizada pelo Campo Grande News neste sábado (3), 65% dos leitores responderam que preferem ser cremados, já 35% afirmam que preferem o enterro.

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Durante visita não tivemos acesso ao forno de cremação e informações detalhadas de seu funcionamento porque o local estava fechado, mas uma visita com os diretores na próxima terça-feira revelará todo o sistema operacional.

Vale destacar que muitos curiosos já apareceram no empreendimento questionando, por exemplo, se o forno é à lenha, quanto tempo demoramos a virar cinza e até se crianças podem ser cremadas.

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Área do estacionamento. (Foto: Fellipe Lima)
Área do estacionamento. (Foto: Fellipe Lima)
Fim de tarde, pôr do sol ilumina arquitetura nada monótona. (Foto: Kísie Ainoã)
Fim de tarde, pôr do sol ilumina arquitetura nada monótona. (Foto: Kísie Ainoã)


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