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Arquitetura

Mortos há décadas, pai e filho ainda se encontram em cruzamento movimentado

Sobre quem dá nome às ruas da cidade: Pedro Celestino ainda encontra o filho Fernando Corrêa da Costa

Thailla Torres | 19/08/2019 06:11
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Encontro de pai e filho é curiosidade de cruzamento movimentado da cidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Encontro de pai e filho é curiosidade de cruzamento movimentado da cidade. (Foto: Kísie Ainoã)
À esquerda, Fernando Corrêa da Costa e, à direita, Pedro Celestino Corrêa da Costa. (Foto: Arquivo histórico)
À esquerda, Fernando Corrêa da Costa e, à direita, Pedro Celestino Corrêa da Costa. (Foto: Arquivo histórico)

Algumas “coincidências” estampadas nas placas são tão pouco conhecidas que acabaram anônimas. O cruzamento da Rua Pedro Celestino com Avenida Fernando Corrêa da Costa, por exemplo, guarda as histórias de pai e filho, que décadas depois da partida se encontram em um dos lugares mais movimentados da cidade.

Pedro nasceu em um sítio da Chapada dos Guimarães, em 5 de julho de 1860. Era farmacêutico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas estreou na política como governador de Mato Grosso, entre 1908 a 1911, e depois entre 1922 e 1927. Também foi senador e líder do Partido Republicano Mato-Grossense. O filho, Fernando, nasceu em Cuiabá, em 29 de agosto de 1903, tornou herdeiro político e governou Mato Grosso entre 1951 e 1956 e de 1961 a 1966.

Atualmente, entre as figuras conhecidas da família Corrêa da Costa, que carrega “nas veias” a atuação política, está a bisneta de Pedro Celestino, também atual ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, de 65 anos, essa bem campo-grandense.

Warley gostou de saber da curiosidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Warley gostou de saber da curiosidade. (Foto: Kísie Ainoã)

Hoje, o comércio ocupa os prédios antigos do cruzamento que já foram moradias. As placas que simbolizam esse encontro eterno também surpreendem quem há muito tempo passa por ali. “Eu não sabia dessa coincidência, que interessante saber disso”, diz Warley Davidson Lopes, de 43 anos, encarregado de uma distribuidora de botijões de gás.

Há 10 anos trabalhando no mesmo endereço, ele acredita que poucas das pessoas sabem da história. “Só quem um dia voltou no tempo e estudou sobre essas pessoas”, diz.

Nem comerciante antigo escapa da surpresa. Ricardo Madrid Saad, mora e trabalha ali o mesmo tempo que tem de nascimento, 46 anos, e nem desconfiava da identidade dos nomes. “Eu não sabia, mas dia desses, inclusive, atendi um cliente que parou ali, olhando fixamente para as placas e comentando que alguém fazia parte da família. Mas não sabia desse detalhe de pai e filho”, afirma, lembrando-se do dia que atendeu o irmão da então ministra, bisneta de Pedro Celestino.

Ricardo tem lembranças do passado da Pedro Celestino. (Foto: Kísie Ainoã)
Ricardo tem lembranças do passado da Pedro Celestino. (Foto: Kísie Ainoã)

Comerciantes e funcionários relatam também uma história de “amor e susto” com o endereço. “Essa esquina é muito movimentada, mas nem todo mundo respeita a curva. Correm e batem nos estabelecimentos”, conta o encarregado.

O empresário vai mais longe no passado para lembrar-se das enchentes que eram um tormento para o comércio e moradores da região. Antes do início da canalização do córrego, na década de 1990. “Aqui inundava tudo, era um verdadeiro brejo”, lembra. “Meu pai, que morava na rua atrás, antiga Aeroviários, construiu um dique para conter as enchentes”.

 O pai de Ricardo era um comerciante conhecido na região, seu Tonico Saad, que terá sua história contada pelo Lado B nas próximas reportagens especiais que narram trechos da caminhada pelos 120 anos de Campo Grande.

O publicitário Klaus Neto, de 45 anos, nasceu na região e lembra-se da esquina que era chamada pelos moradores de “brejão”. “Era realmente um brejo, brincávamos ali quando não estava inundado, naquela época também a Fernando Corrêa, que nem tinha esse nome, era mão única e não tinha todo esse movimento de hoje. Naquele tempo, se alguém perguntasse, não imaginaríamos essa história e nem ligação”.

Antes de se tornar Fernando Corrêa da Costa, a avenida, também conhecida como “Marginal”, teve o nome “31 de Março”. 

Algumas “coincidências” estampadas nas placas são tão pouco conhecidas do grande público que viraram anônimas. (Foto: Kísie Ainoã)
Algumas “coincidências” estampadas nas placas são tão pouco conhecidas do grande público que viraram anônimas. (Foto: Kísie Ainoã)

Outros encontros - Embora nem todos os cruzamentos da cidade revelem uma relação tão próxima e familiar quanto a de Pedro Celestino com Fernando Corrêa, veja alguns encontros conhecidos e estampados nas placas da cidade.

Afonso Pena com Ernesto Geisel – É encontro entre dois presidentes que governaram o Brasil. No início da urbanização de Campo Grande, a partir de 1909, a Avenida Afonso Pena se chamava Avenida Marechal Hermes, mas logo depois, com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a Câmara Municipal homenageou o Presidente Afonso Pena, responsável político pela vinda da Noroeste para a cidade. Ele nasceu em 30 de novembro de 1847 e foi o 6º presidente do Brasil em uma época de prosperidade com a política de valorização do café.

Já Ernesto Geisel, nascido em 3 de agosto de 1907, foi o 29º presidente do Brasil e o 4º a exercer o cargo na ditadura militar brasileira, de 1974 a 1979. Diferente de Afonso Pena, seu nome já foi alvo de um movimento que pede mudança do nome da avenida Presidente Ernesto Geisel. Recentemente, em 2018, um memorando da CIA, a agência de inteligência norte-americana, revelou que o general autorizou o assassinato de opositores no período em que foi presidente.

A mudança foi requerida pelo Comitê Memória, Verdade e Justiça de Mato Grosso do Sul, levando em conta a lei municipal 5.820/2014, que proíbe o batismo de logradouros públicos com nomes de torturadores ou pessoas que tenham cometido atos de “lesa humanidade” e corrupção. À época, uma enquete realizada pelo Campo Grande News mostrou que 75% dos leitores eram contra a mudança.

Barão do Rio Branco com Rui Barbosa - Dois políticos, diplomatas e ocupantes Academia Brasileira de Letras. Barão foi ministro das Relações Exteriores durante o governo de quatro presidentes e segundo ocupante da cadeira nº. 34 da Academia. Empreendeu diversas negociações com outros países que definiram os contornos do território brasileiro. Ele também negociou com a Bolívia a assinatura do Tratado de Petrópolis, que incorporou o Acre ao Brasil.

Rui Barbosa foi um político, diplomata, advogado e jurista brasileiro. No governo de Afonso Pena, Representou o Brasil na Conferência de Haia, que reuniu as grandes personalidades da diplomacia mundial e foi reconhecido como “O Águia de Haia”, também foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e seu presidente entre 1908 e 1919.

Manoel da Costa Lima com Fillinto Muller – O encontro de paranaibense e um cuiabano com caminhos diferentes na história. Manoel foi um construtor e empreendedor brasileiro, pioneiro na abertura de ligação do então sul de Mato Grosso com São Paulo. Também niciou-se a primeira navegação a vapor do Rio Paraná. Contruiu balsas-currais, mangueiros, embarcadouros com brete e outras obras rústicas tanto em Mato Grosso do Sul, como na margem paulista do rio Paraná, além de instalar uma das primeiras linhas telefônicas nas fazendas da região.

Já Fillinto, se destacou durante o governo Vargas, como chefe da polícia política, e foi acusado de promover prisões arbitrárias e a tortura de prisioneiros. Também se destacou no caso da prisão da judia alemã Olga Benário, militante comunista e companheira de Luís Carlos Prestes, deportada do Brasil para a Alemanha, onde foi executada na câmara de gás do campo de extermínio de Bernburg, em 1942. 

Antônio Maria Coelho com Professor Luís Alexandre de Oliveira – Antônio foi o primeiro e único barão do Amambaí que faz referência ao rio sul-mato-grossense na região de Amambai, onde ele atuou durante a Guerra do Paraguai. Nasceu em em Cuiabá, em 8 de setembro de 1827 e morreu em Corumbá, 1894, também foi um militar e político brasileiro, que após sua atuação durante a Guerra do Paraguai, ocupou o cargo de governador do Mato Grosso após a proclamação da República. É dele a autoria da atual bandeira de Mato Grosso.

Já Luis Alexandre, que dá nome ao trecho popularmente conhecido como Via Parque, entre Avenida Mato Grosso e Afonso Pena, foi um mineiro que ocupou a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras como membro fundador e ficou conhecido por prestar serviços à comunidade nipo-brasileira. A partir dos “anos 20”, fundou em Campo Grande o Instituto Rui Barbosa, depois foi professor e diretor na escola Visconde de Cairu e proprietário do Colégio Oswaldo Cruz.

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