Nem estética de paisagismo impediu Danilo de ver jardim tomado por horta
Família transformou quintal "sem graça" em horta orgânica e com matinho verde; tem de tudo um pouco, até o que não se ouve falar
Na Vila Bandeirantes, a família Marques dos Santos se orgulha de ter transformado a hortinha do quintal de casa em uma horta maior. Por lá, nada de "branco" moderninho ou paisagismo clean, a beleza está mais para o rústico mesmo. De modo simples e bem cuidado, naquele pedaço de terra no meio da cidade e a céu aberto eles cultivam de tudo um pouco, desde ervas às hortaliças… mas especialmente abóbora. Detalhe: plantação que, só de desviar os olhos, promete dar um pulo na piscina.
Quem faz questão de cuidar de todo aquele verde é o filho Danilo, de 20 anos. "Observando o nosso quintal de casa, percebi que a vegetação crescia melhor no gramado dos fundos. Consegui convencer meus pais que lá seria um ótimo lugar para semear, por mais que eles estivessem relutantes com a ideia por sempre adorarem uma grama limpinha e aparada. Nem eu imaginava que no final das contas viraria um mar de abóboras! Mas só foi surgir os frutos que todo mundo se acalmou", brinca. Agora, ele e sua família já estão pensando até no próximo ciclo de plantio.
Se a lista do que já cultivam é grande, imagina do que ainda não plantaram? Só nas ervas, tem manjericão, tomilho, alecrim, orégano, sálvia, salsa, cebolinha, coentro, hortelã, capim limão, nirá, melissa, lavanda, açafrão da terra. Nos vegetais, abobrinha, beterraba, couve-flor, brócolis, tomate e pimentas de todo o tipo – isso sem falar da plantação de abóbora. Já de frutas, tem jabuticaba, limão, acerola, pitanga, uva e coco. Está bom ou quer mais?
"Gostaria de dar destaque à chicória do Pará que também temos, um vegetal de suma importância para a culinária na região norte do país, que surgiu de forma autóctone no nosso quintal e foi transplantada para ser melhor cuidada. Um grande presente da natureza", comemora Danilo.
Quando se mudaram para a casa onde residem atualmente no bairro Bandeirantes, em meados de 2008, demorou alguns anos para começarem o processo do plantio de espécies alimentícias. Antes tudo terra, de pouquinho em pouquinho cada um foi colocando a mão no meio e fazendo a coisa tomar forma.
"Quando chegamos aqui, o terreno era pura terra seca, além do imenso pequizeiro que nos vence em idade. Meu pai sempre teve interesse por paisagismo e então ele mesmo iniciou a semear e transplantar plantas ornamentais. Minha mãe nunca se opôs e inclusive o ajudava. Assim, passamos todos a nos interessar mais e inclusive a trazer para o dia-a-dia temperos frescos e diversificados. Hoje, sabemos trabalhar melhor com a terra e atender as necessidades de cada planta, mas ainda temos muito a aprender", confessa.
Sobre viver cuidando da horta, Danilo pontua: "é trabalhoso e requer atenção diária. É preciso estar atento às individualidades de cada vegetação", frisa. Na conta da casa, provavelmente a de água é a mais cara.
"Como o clima em Campo Grande é por vezes rigoroso, então algumas plantas sofrem com o calor e a baixa umidade. As recentes chuvas têm sido uma grande ajuda. Quando não chove, somos obrigados a molhar o quintal inteiro", explica.
Já que a natureza tem o seu jeitinho especial de ser, é claro que pragas de pulgões, lagartas e caramujos marcaram presença na horta. "Algumas espécies costumam atrair mais pragas e precisam de cuidado redobrado. Aqui, as que mais sofrem são os tomateiros, couve-flor e brócolis. Como optamos por organicidade, tentamos controlá-las com produtos naturais como o óleo de neem", esclarece.
Estudante de gastronomia, ele brinca dizendo que se encontrou "bicho grilo" quando começou a se interessar mais a fundo pelo cultivo de horta caseira. "Eu, que tive uma criação urbana, de uns anos pra cá tenho me aproximado mais da natureza. Às vezes vou parar na chácara do meu tio, e ele acabou me ensinando a tirar leite fresco, pegar ovo do galinheiro, cuidar das plantas e da produção local… ando gostando muito dessas coisas", afirma.
Antes disso, o rapaz fazia faculdade em Balneário Camboriú e, mais recentemente, participou de um estágio no restaurante baiano Origem, uma revelação em Salvador. Quando a pandemia de covid-19 chegou, porém, Danilo partiu de volta para sua terra natal Campo Grande.
Agora, ainda mais por causa da horta, o jovem pretende sair pesquisando – quando assim for possível – sobre alimentos tradicionais enquanto cultura de um povo local. "Quero me aprofundar no passado de cada região, na alimentação originária, na fauna e flora autóctone de cada lugar. Entender como tudo isso se relaciona, tanto os ingredientes quanto a cultura. Também, encontrar pessoas que possam me inspirar a continuar cozinhando e pesquisando sobre", finaliza.
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