No Chácara Cachoeira, casarão tem memorial a Ilton Silva com série inacabada
Pelas paredes da residência de mais de 500m², se conta a história de Ilton, guardando até mesmo telas da série Crepúsculo
No bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande, um casarão virou memorial a Ilton Silva, artista autor da série "Cores e Mitos", filho de Conceição dos Bugres, que foi casado com a também artista Kátia D'Ângelo, e entre os filhos, o talento passou para Juan Silva, Abílio Antunes e Léo D'Ângelo. Pelas paredes da residência de mais de 500m², se conta a história de Ilton e da família, guardando até mesmo telas da série inacabada "Crepúsculo".
O espaço chegou até o Lado B através de uma leitora, amiga e jornalista, que foi cortar o cabelo em uma das salas que funciona como um salão de beleza e, se encantou com as cores, mitos e traços de toda a família. O acervo é do marchand, colecionador e um dos representantes de Ilton antes de sua morte, Gleiner Porto Rocha.
"Eu sou amigo do Ilton, por mais que ele faleceu, eu falo 'sou'. Eu o conheci em 2016, eu já gostava de arte, fiz design de interiores em 2009", conta Gleiner, de 34 anos. Uma das salas do casarão leva o nome de Ilton Silva e guarda telas que de lá só sairão para um museu, tamanho o apego e apreço de Gleiner. "Porque aí querendo, eu vou lá e vejo", diz.
Ilton morreu em 2018, aos 76 anos, em Joinville, Santa Catarina, depois de cinco dias internado com quadro de pneumonia e anemia. O corpo veio para Mato Grosso do Sul onde foi velado no Marco (Museu de Arte Contemporânea) e enterrado em Campo Grande.
A última conversa de Ilton com o Lado B foi em 2016, quando Ilton veio de Santa Catarina trazendo na bagagem a série mais famosa, "Cores e Mitos" e, ocupou um quarto cedido no Hotel União, no Centro de Campo Grande. Nascido em Ponta Porã, foi daquelas mulheres paraguaias e benzedeiras que ele contou ter vindo a inspiração para a série. "Minha mãe era uma das benzedeiras. Ela botava aquelas crianças no colo e benzia. As pessoas dizem que eu tenho anticorpos, mas na verdade é que naquela época a gente desenvolvia mais fé, porque não tinha doutor", volta ao passado.
"Era assim que a gente vivia. No terreiro, não se bate erva, se "cancha" ela para ensacar. Então eu varria aquele terreiro, aquela areia toda e aí que comecei a desenhar com uma vara e fazia aquelas mulheres e crianças", conta o artista. Na escola, a brincadeira era no quadro negro e giz.
"Ali eu já comecei a desenhar. Aquelas trabalhadoras da erva mate pegavam as criancinhas no colo e parecia que o amor que elas tinham era tão grande, que saravam", completa. De "Cores e Mitos", Ilton passou para outras séries, como "Peão" e "Natureza Viva". "Com o tempo vão entrando novos personagens. A gente não fica parado e não acaba nunca", ressaltou à época.
De volta à casa - Entre sofás ingleses e cômodas egípcias, peças que também compõem o acervo pessoal de Gleiner, as telas de Ilton encontram companhia pelos traços de Katia D'Ângelo, Juan Silva, Abílio Antunes, Léo D'Ângelo (o filho mais novo de Ilton), como também de Rafael D'Ângelo, sobrinho de Katia.
"Desde pequeno eu sempre gostei de coisas diferentes, minha avó por parte de pai não chegava a ser colecionadora, mas ela tinha muitas peças", contextualiza Gleiner. Da última vez que ele contou, somaram 98 telas do clã familiar de Ilton. Uma delas é de Juan, que colocou no quadro a avó e o pai.
A inspiração que Gleiner encontra no trabalho de Ilton está aberta a visitação. "Eu achava muito engraçado o jeito que ele explicava os seres inanimados e ele mostra muito de Mato Grosso do Sul, principalmente nas telas antigas, de quando ele adaptava as tintas", descreve. Isso porque se comparar as telas das décadas de 70 e 80, a aparência é outra. "Hoje se colocar os trabalhos a partir de 2005 para cá, já era mais fácil, se tinha acesso às tintas, que antes não. Ele quem fazia as tonalidades, era uma tinta artesanal", fala Gleiner.
Para conhecer parte do acervo de Gleiner, só entrar em contato e agendar visitação pelo telefone: 99887-7111.
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