Quatro irmãos que nunca casaram dividem mesma casa há 55 anos
Construída em 1966, lar conserva estrutura original e a união da família depois da morte dos pais
No dia quatro de janeiro de 1966, o casal Sebastião Quirino Sandim e Sebastiana Justino Sandim mudaram com os cinco filhos para um terreno no Bairro São Francisco, em Campo Grande. Em 2021, quatro deles continuam morando na casa de madeira azul e compartilhando juntos a calmaria da velhice.
Em 55 anos, o imóvel sofreu poucas mudanças e conserva a estrutura e madeiramento original. Com três quartos, sala, cozinha e uma generosa varanda, os irmãos Paulo Justino Sandim, 72 anos, Waldecidi Justino Sandim, 69 anos, Laurinda Justino Sandim, 65 anos, e Fátima Justino Sandim, 66 anos, vivem no mesmo lugar onde deixaram de ser crianças e se tornaram adultos.
Tirando os laços de sangue, os quatro dividem outras semelhanças que explicam o motivo de continuarem morando um na companhia do outro. Nenhum deles quis casar ou constituir uma família, além daquela que já conheciam.
Os quatro cuidam um do outro, dividem as tarefas da casa, jogam conversa fora e curtem a aposentadoria. Quando o Lado B chegou na residência, Paulo abriu o portão e fez as primeiras apresentações. No momento, a outra irmã, Fátima não estava e foi a única que não teve oportunidade de conversar com a equipe.
A história da casa está nos pequenos detalhes que entregam o quão antiga ela é. Na varanda, o poço perdeu a utilidade inicial, mas ganhou uma nova graças a criatividade dos moradores.
Agora, cactos, suculentas e vasinhos dividem espaço com duas esculturas de cisnes. “Esse poço tem vinte e dois metros, tem muitos anos, porque antigamente não tinha água encanada na casa”, explica Paulo.
Depois de mostrar a varanda, Paulo e Waldecidi mostraram o ambiente interno da propriedade.
O teto é forrado de madeira e o azul escuro preenche todos os ambientes, exceto os batentes das portas que são marrons. Assim como o restante do lar, alguns móveis também são de madeira e o filtro de barro é o charme da cozinha.
Questionado sobre como é morar até os dias atuais com os irmãos, Waldecidi é prático. “Minha mãe e meu pai moravam aqui, mas faleceram, então, para cuidar da minha irmã, nós ficamos”, explica.
A irmã que ele menciona é a Laurinda, que nasceu com paralisia infantil e vive sob os cuidados da família.
Solteiro convicto, Waldecidi relata que chegou a noivar, porém não seguiu adiante com o compromisso. “Eu fiquei noivo uma vez, depois não deu certo e não quis. Eu vi tanta briga, separação e falei: "Ah, não vai dar certo”, conta.
Quando chegaram com a família, a paisagem no Bairro São Francisco era completamente diferente. Paulo recorda que na época, os pais criavam porcos no quintal que hoje, é repleto de plantinhas. “Meu tio trazia porco e nos fundos, era tipo um chiqueiro.
No fim, foram saindo as casas e, por causa do cheiro, ele parou”, afirma. Apontando para a varanda, ele fala que o tio foi o responsável por erguer a estrutura. “Dali pra frente, meu pai construiu, mas isso foi meu tio, aí ficou", enfatiza.
Antes da aposentadoria, Paulo trabalhou durante 36 anos no extinto frigorífico Matel, enquanto Waldecidi ficou 43 anos nos Correios recebendo e transmitindo telegramas.
Bem-humorado, no fim da entrevista, Waldecidi faz piada com a situação dele e dos três irmãos. “Aqui vai virar o asilo Sandim”, ri. No sossego do bairro, a casa segue parada no tempo e recebendo anualmente uma pintura nova, mas sempre no mesmo tom. “Vamo pintar em janeiro”, finaliza Paulo.
Curta o Lado B no Facebook e Twitter. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563