Sem grana, Fernando abriu barbearia de ar rústico na improvisação e criatividade
No lugar, até aro de bicicleta e latão de leite viraram elementos da decoração; tudo para economizar e criar um espaço estiloso
Quem passa na frente da Barbearia Garagem, na Vila Carlota, nem imagina que a fachada comum esconde um ambiente cheio de criatividade e improvisação. Lá dentro, a mais inusitada coleção de objetivos se transformou em itens de decoração e móveis práticos, utilizados pelo inventivo barbeiro Fernando Fernandes, de 47 anos.
É ele que nos atende e conta toda a sua história, orgulhoso de tudo o que criou pra realizar o sonho de abrir a barbearia. "O que eu fico mais feliz é de mostrar pro meu filho e pra minha mulher que agora eu tenho um negócio meu, que eu dei certo", diz, contendo a emoção.
Fernando nem imaginava que tinha talento pra carpintaria e artesanato. "Foi tudo por necessidade", explica. Após sofrer um acidente de moto no ano 2000, ele ficou cinco anos "encostado", sem poder trabalhar. Levou 158 pontos na perna esquerda, passou por 10 cirurgias, e até hoje vive com algumas sequelas nos movimentos. Ex-frentista e com estudos apenas até a 6ª série, passou a trabalhar como taxista e depois virou funcionário terceirizado na UFMS. Quando nada deu muito certo, se viu desempregado e sem perspectivas.
Foi por sugestão da mulher, que é cabeleireira, que começou um curso para também ser cabeleireiro e barbeiro, no ano passado. Ele, que é vaidoso "mesmo sem nem ter cabelo", segundo a esposa, se deu bem no ofício e aí surgiu a vontade de abrir o próprio negócio. "Comecei atendendo na minha casa, ia montar a barbearia na minha garagem, por isso o nome", explica. "Mas acabei achando esse ponto. Peguei dinheiro emprestado de um amigo pra pagar o aluguel e fiquei vários dias aqui montando meus móveis", relata Fernando.
Sem dinheiro para comprar mobílias e todos os equipamentos necessários, ele colocou a criatividade em prática. Primeiro, usou ripas de madeira, encontradas em cargas de caminhão, para montar o painel do espelho e balcão. Também usou caixas de frutas usadas em feiras para criar compartimentos e garrafas de cerveja como recipientes de spray. "Tudo foi eu que fiz. Eu não tinha dinheiro. mas queria criar um lugar legal, diferente. Nem sabia que tinha habilidade de fazer tudo isso", afirma.
Carretéis de fios viraram placas na fachada e mesas de centro. Até latão de leite entrou para a decoração. Cabeceiras de cama são apoios de bancos feitos das ripas. Aros de bicicleta funcionam como lustres e latões de cerveja como luminárias. Na decoração, têm itens antigos, como máquina de escrever, rádio, telefone, ferro de passar, discos de vinil e até um tanque de moto. Alguns eram dele mesmo, outros foram doados. Um bar inteiro foi criado com estrutura de ripas de madeira. A cada canto que se olha, é possível encontrar uma improvisação diferente.
"Eu sempre gostei desse estilo rústico, chapéu, sertanejo, Jads e Jadson", ressalta Fernando, explicando o estilo escolhido. No som ambiente, tem música sertaneja tocando. Ele também serve cerveja, por R$ 5,00 a long neck. No logo da barbearia, que ele mesmo criou, aparece a foto do ator Clint Eastwood, nos antigos filmes de faroeste e bang bang. "Eu queria um cara de chapéu, e apareceu o Clint, achei perfeito".
Os clientes se surpreendem e gostam do que encontram. Um dos que aguardavam para ser atendido, Peterson Ataíde, 43 anos, diz que o visual é só um benefício extra. "O que eu gosto daqui é que ele é muito atencioso e caprichoso. Ele não faz o serviço rápido, você percebe que ele dá importância pra cada corte e cliente", alega. "Já indiquei aqui pra vários parentes e amigos".
É na base da indicação que o negócio de Fernando está prosperando aos poucos, com média de oito clientes por dia. O corte de cabelo e de barba custa R$ 15,00 cada, e dá pra fazer o combo por R$ 25,00. "Meu negócio não é ganhar dinheiro, é ir sobrevivendo", pontua o barbeiro.
Apesar do problema na perna, ele diz que consegue passar o dia inteiro de pé, trabalhando. "No começo tive que tomar muito remédio, por causa da dor. Agora estou bem, as vezes sento um pouco", explica. Fernando também tem um pouco de gagueira, mas não deixa que isso o impeça de falar bastante de todas as ideias que ainda têm para a barbearia. "Vou fazer bonés e camisetas com a logo, e ainda montar uns móveis diferentes para o bar", anuncia, animado.
"Com certeza nós ficamos muito orgulhoso dele", finaliza o filho, Alisson de Araújo, de 26 anos. A Barbearia Garagem fica na Rua da Rúpia, 515, na Vila Carlota. O telefone pra contato é 99190-4335.
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