Virada de 2021 foi dramática, por isso, ano chega repaginado por Jucelma
Ano passado, Jucelma "morreu", mas este ano, ela decidiu que não vai morrer de novo, como diria Belchior
A virada para 2021 foi dramática. Por isso, Jucelma Rocha Mendes decidiu comemorar com uma repaginada em 2022. Mas não foi com corte de cabelo ou comprinhas no shopping. Ela resolveu colorir os móveis, recuperar o que parecia perdido e fazer da casa um templo.
“Resolvi dar uma geral na casa. Coloquei cor em móveis antigos, mudei até os porta-retratos. Só a construção de um pergolado no jardim e a pintura que deixei para profissionais.”
A conversa serena com alguém que, no último ano, teve os projetos despencando é um presente a quem ouve. A servidora pública municipal descobriu um câncer em 2020, em pleno pico da pandemia, enfrentou a cirurgia em novembro e passou a viver sem o estômago.
O sofrimento logo vem à cabeça, até para quem nunca pensou nessa possibilidade. Foram mais de 40 dias de alimentação por sonda, Natal e Ano-Novo com o medo da morte e do futuro com as sequelas de um procedimento tão drástico.
“Depois da retirada do estômago, desenvolvi até uma síndrome (de Dumping - que provoca desmaios), a alimentação é muito regrada, tive de me readaptar completamente. Mas recuperei minhas forças.”
Desta vez, o ano começou diferente. Antes de 2021 acabar, ela entrou no ritmo do “faça você mesmo”, com ajudinha de pintor profissional e do marceneiro em 2 casos.
“Minha casa hoje é meu templo. É o canto de recarregar energias. Hoje, a importância desse espaço tem uma intensidade maior. Não tinha o hábito de almoçar em casa, por exemplo, a gente terceiriza tudo. Hoje, volto para comer com os meus dois filhos, tiro uma soneca antes de voltar para o trabalho... Ganhei o hábito de cozinhar. A gente acaba descobrindo que consegue fazer tantas coisas”, detalha.
O “álbum” de memórias o último ano teve “sentença de morte”, como diz Jucelma sobre o que se imagina diante do diagnóstico de câncer. Mas ela decidiu transformar isso em “sentença de luta”, encarou a adaptação à vida sem o estômago, perdeu 35 quilos e assistiu ao fim do ciclo do pai em Campo Grande, 7 anos após a morte da esposa. “Aos 89 anos, ele resolveu voltar para a Bahia, onde nasceu. Recomeçar também”, comemora a filha sobre a coragem dele.
Foi aí que a “chave virou”. Com a mudança, começaram a surgir pela casa do pai, lembranças da infância. Apareceram os armários, as mesas, as histórias impressas na cabeça pelos móveis.
Dois deles em especial ganharam destaque na casa de Jucelma, um armário, agora na cozinha, todo amarelo e uma estante de madeira que ganhou a cor branca. “Meu pai mandou fazer quando era criança, na marcenaria do Senai, que nem sei se existe mais”.
Aos 48 anos, Jucelma continua na luta, fazendo exames frequentes. Mas diz que já ganhou muito com a vida simples que resolveu ter a partir de agora. “Fazer todas essas mudanças, liberaram imagens de um tempo muito difícil. A gente aprende que viver é ter experiências boas e ruins. Mas é bom, apesar de todas as incertezas”, ensina.