Ateliê 118 é galeria de arte com obras e instalações que começam na calçada
Perto da Vila dos Ferroviários, é um presente à cidade com cores e disposição para recomeçar sempre
O espaço ainda tem muita coisa incompleta e os artistas têm liberdade para transformar tudo quando quiserem. É assim o clima da nova galeria de arte, Atêlie 118, que abriu as portas neste sábado (25), em Campo Grande. O endereço fica em uma das regiões históricas da cidade, próximo a Vila dos Ferroviários.
Com peças transformadas pela criação e cores chamativas na fachada, o lugar respira arte contemporânea por todos os lados. Mas o bacana é que chegou para romper com a falsa ideia de que arte é inacessível. Por isso, o encanto começa na calçada, para chamar a um novo olhar sobre o mundo.
"Esse olhar é demonstrado em coisas materiais, mas em que é possível criar uma relação dessas coisas com o ser humano. E não é preciso ser um estudioso das artes plásticas para entender uma obra. O mais bacana, é que pessoas simples conseguem fazer análises surpreendentes", explica o proprietário da galeria, o paulistano Guido Drummond, que há três anos resolveu deixar Lisboa para ser feliz em Campo Grande.
Guido começa o percurso da fachada exibindo obras de Luiz Xavier e Fábio Quill com pinturas expressivas, que gritam sobre a condição do planeta, como um pedido de socorro. "São estilos que vão do surreal a crítica. Fábio, por exemplo, é quadrinista e criou uma história em quadrinhos sem balão na fachada. O fantástico foi ver uma moradora compreendendo o que o artista quis dizer e refletir sobre isso, sobre essas condições".
Ainda na calçada, outro desenho que chama atenção faz referência ao Yellow Submarine de The Beatles. É uma instalação que vai fazer qualquer um na rua ter acesso a 'minúsculas' obras de artes. "À noite, o submarino vai acender e, dentro de cada janelinha, quem passa na rua vai poder ver uma mini galeria de arte com obras e frases de impacto. A proposta é ser todo interativo. Ainda vou brincar com frases para que as pessoas rodem os registros e possam pensar".
Do lado de dentro, obras de arte "mobíliam" a casa de madeira construída em 1973 que é tombada como Patrimônio Histórico da cidade. Cada peça, segundo Guido, torna-se uma excelente provocação para enxergar as belezas dentro da simplicidade. Ele demonstra as provocações em uma cadeira com asas de anjo, destaque no meio da sala, que foi trabalhada com tábuas velhas que um dia, provavelmente, alguém jogaria no lixo. "Isso aqui é de uma extrema beleza. Mas a gente só percebe quando começa a explorar as coisas e perceber que na essência delas, existe algo de belo. E com a arte, as pessoas podem se tocar que dentro delas também há algo belo".
O trabalho propõe a transformação do ser humano, garante o artista. "Muita gente anda sem perspectiva. As pessoas acreditam muito sistema, que é preciso só estudar, trabalhar, ganhar bem, comprar carrão. Mas não, você não precisa disso se não quiser. Eu moro numa casa de 9m² que pra mim tem tudo, por exemplo".
O projeto passou por várias mãos, até Guido encontrar parceiros para fazer a diferença. "Muita gente quer mudança, mas na hora de mudar, não está muito afim. Recentemente abortei a ideia de ter um coletivo e criamos uma startup de projetos de economia criativa, sustentabilidade e inclusão social. Isso vai trazer oportunidades de colocar o bairro no patamar de Distrito Cultural da cidade", acredita.
Quem quiser conhecer o Ateliê, a casa está aberta na Rua dos Ferroviários, 118, Cabreúva (esquina com Avenida Mato Grosso).