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Artes

Da música à educação, 8 talentos negros de MS para você conhecer

Lenilde Ramos fez uma campanha nas redes sociais elencando nomes de personalidades que fazem a diferença na história do Estado

Alana Portela | 15/06/2020 06:34
Edson Silva é jornalista, pesquisador e doutor em comunicação. (Foto: Arquivo pessoal)
Edson Silva é jornalista, pesquisador e doutor em comunicação. (Foto: Arquivo pessoal)

Da música à educação, Mato Grosso do Sul tem talentos negros que merecem ser reconhecidos pelos trabalhos que marcam a cultura e a história do Estado. Recentemente, assuntos relacionados ao racismo tomaram conta das redes sociais e para “barrar” o preconceito, a escritora Lenilde Ramos levantou a bandeira “Petra Pátria Amada Brasil” no seu perfil do Facebook. A campanha mostra oito personalidades que fazem a diferença na sociedade.

“Uso as redes sociais como um site, uma página de jornal. É uma forma de acompanhar os fatos aqui e no mundo e, de alguma forma, provocar alguma reflexão das pessoas”, destaca Lenilde.

Aos 67 anos, ela é uma personalidade importante para cultura do Estado e sempre busca um viés positivo para os acontecimentos. “Sempre estive ligada ao movimento contra o racismo. Esse fato teve início em 1968, quando compus minha primeira música: O amor vence a cor. Essa música participou do Festival de 1969 e venceu. Naquele ano concorri com o José Octávio Guizzo e conheci a galera da música, que também estava começando: Paulo Simões e Geraldo Espíndola. O tema que abordei eram as revoltas dos negros nos Estados Unidos depois do assassinato de Martin Luther King. Ao longo de minha vida sempre estive ligada a essa luta”.

Lenilde vem de uma família de raízes negras e viu a luta dos tios e o esforço dos primos para estudar e definir profissionalmente seus sonhos. São histórias de luta e sobrevivência para chegar até aqui e através da campanha “Preta Pátria Amada Brasil”, ela mostra as personalidades.

Lenilde Ramos é escritora e integra a Academia Sul-mato-grossense de Lestras. (Foto: Arquivo pessoal)
Lenilde Ramos é escritora e integra a Academia Sul-mato-grossense de Lestras. (Foto: Arquivo pessoal)

“Nesses tempos de luta contra o racismo, escolhi mostrar personagens negros de Campo Grande que se destacam pelo trabalho, seja técnico, social, nas artes e na justiça social, que é um tema que valorizo muito”, diz ela.

“Quis contextualizar esses princípios nas figuras de personagens que contribuem com a história de Mato Grosso do Sul. Às vezes, temos a tendência de ver ou aplaudir pessoas que estão na televisão ou nas grandes notícias, que moram longe da gente. O fato de colocar o foco em pessoas que estão próximas, que fazem parte da vida de nossa cidade é importante, para mostrar nossas referências”, afirma.

A campanha foi curta, durou quatro dias, e entre as personalidades estão: Marta Cel, Francielle Cavalheri e Adriel Santos, dr. Aleixo Paraguassu, dr. Edson Silva, Zé Pretim, Lenilde e um menino chamado Saulo, que toca violino. “Conheço todas. Não foi difícil chegar a elas, O difícil foi selecioná-las entre tantos amigos e figuras de ponta em nossa cidade. Não tive tempo de fazer um texto maior sobre cada uma, então foi só uma legenda mesmo”, explica.

Se você ainda não conhece quem são essas personalidades, o Lado B te apresenta. Começando pela própria Lenilde Ramos, que foi a primeira mulher negra a fazer parte da Academia Sul-mato-grossense de Letras. Sua história começou em 1970, quando ingressou na Faculdade de Letras da Fucmat (Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso) e fortalece a ligação com o cenário cultural do Estado. Chegou a ser nomeada professora da Rede Estadual de Ensino no Hospital São Julião e assumiu também a função de secretária da Diretora Executiva do Hospital, Irmã Silvia Vecellio.

Em 79, foi nomeada a primeira técnica da área de música no novo Estado. Coordenou projetos de divulgação da música erudita, popular e regional e ações voltadas ao mercado de trabalho cultural nos 55 municípios da época e em 85, ganhou o prêmio Viagem à Itália pelos 15 anos de trabalho no Hospital São Julião.

Foi nomeada para o Conselho Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul e diretora de Difusão Cultural da Fundação de Cultura de MS, coordenando projetos e eventos artísticos e culturais em todo do Estado. Em 91, integrou a equipe que organizava a visita do Papa João Paulo II ao Hospital São Julião.

Já atuou também como redatora na publicação “Vozes da Literatura”, editada pela Fundação de Cultura de MS, escrevendo a biografia de Paulo Coelho Machado.

Com livro nas mãos, dr. Aleixo Paraguassu Netto foi o primeiro juiz negro do Estado. (Foto: Divulgação)
Com livro nas mãos, dr. Aleixo Paraguassu Netto foi o primeiro juiz negro do Estado. (Foto: Divulgação)

Aleixo Paraguassu Netto foi o primeiro juiz negro do Estado e símbolo da consciência negra. Ele já foi pauta no Lado B em 2017, quando contou um pouco da sua história (leia aqui). Nasceu em Minas Gerais, mas vive em Campo Grande há mais de 44 anos.

Antes de se tornar juiz, ele era militar e foi até delegado de polícia, e sempre lutou por espaço na sociedade. Fundou o ILK (Instituto Luther King) com o sonho de estabelecer uma sociedade mais justa, com a inclusão de cidadãos menos favorecidos.

“Difícil resumir a riquíssima folha de serviços do Dr. Aleixo Paraguassu à justiça social. Em janeiro passado tive a honra de estar presente na cerimônia que outorgou a ele a Comenda Nacional de Direitos Humanos, no Senado da República”, conta Lenilde.

Música - Marta Cel é cantora e compositora de voz singular, com autenticidade e suingue. Reforçou o gosto pela música ainda na infância e foi acadêmica do curso de Música na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Marta Cel é cantora negra e talentosa de Campo Grande. (Foto: Arquivo pessoal)
Marta Cel é cantora negra e talentosa de Campo Grande. (Foto: Arquivo pessoal)

É uma mulher poderosa, de fibra e nos palcos, mostra seu talento. Já se apresentou em vários espaços da Capital e participou do Festival América do Sul Pantanal em Corumbá e Festival de Inverno de Bonito. Aos 44 anos de idade e 24 de carreira, ela conta com um repertório misto do black music ao samba.

“A cantora é um fenômeno de talento, empatia e sensibilidade que hoje representa as mulheres negras do cenário das artes de Campo Grande e de qualquer outro lugar onde elas possam levar sua música”, destaca Lenilde.

Franciella Cavalheri é terapeuta ocupacional e artista de dança (Foto: Arquivo pessoal)
Franciella Cavalheri é terapeuta ocupacional e artista de dança (Foto: Arquivo pessoal)

Arte – Franciella Cavalheri e Adriel Santos também estão na lista dos artistas que fazem a história. Ele é músico baterista, percussionista, produtor cultural, especialista em áudio, fotógrafo e filmmaker. Sua carreira começou quando fundou o estúdio Nova Unção em Campo Grande, em 2000. Em 2004, ingressou na banda Aldeia Black, que integrou até 2012. Também atuou na função de diretor de estúdio da gravadora Viva Music de Florianópolis - SC.

Adriel atuou na cena exercendo diferentes funções e com grandes nomes da música sul-mato-grossense, nacional e internacional, sendo: Fat Family, Sandra de Sá, Zeca Baleiro, Jorge Aragão, Gabriel Sater, Seu Jorge, Carolina Zingler, Fernando Deluqui, Tetê Espíndola, Dani Black, O Bando do Velho Jack, Sergio Carvalho, Jaques Morelembaum, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Atitude 67, Badi Assad, Lucenzo e Orlando Bonzi.

Participou de importantes festivais em Florianópolis, como o “Floripa Tem”, a Virada Cultural e a Bienal do livro de São Paulo, assim como o Festival Tensamba (Madri e Barcelona/ESP). Em Mato Grosso do Sul, exerce as funções de músico e técnico de som no Festival América do Sul e Festival de Inverno de Bonito.

Os trabalhos mais recentes é a função de músico e produtor do grupo El Trio, também já foi consultor de soluções de iluminação, sonoras e acústicas do Sesc Cultura Campo Grande.  Desde 2015, como sócio-fundador da Cravo Filmes, Adriel assina diversas produções que vão de curtas-metragens, passando por videoclipes, teasers, até registros de espetáculos.

Franciella é terapeuta ocupacional e artista de dança, graduada em 2001 e pós-graduada 2010 pela Universidade Católica Dom Bosco. Tem formação complementar em Dançaterapia, fotógrafia e é professora de pilates, com dez anos de atuação na área.

É fundadora e bailarina do Conectivo Corpomancia, um agrupamento de artistas da dança de Campo Grande e desenvolve, desde 2008, experimentos em dança contemporânea e elaboração criativa de espetáculos com foco na improvisação. Além do Corpomancia, atua na preparação corporal e apoio a criações junto às principais companias de dança do Mato Grosso do Sul, como a Cia. Dançurbana e a Ginga Cia. de dança.

Como filmmaker e diretora, tem atuado em documentários, videoclipes, mas principalmente em projetos de videodança pela produtora Cravo Filmes. Entre os destaques, assinou a videodança/curta-metragem "Maria, Madalena" e os teasers, bem como o vídeo versão quarentena da obra "Se você me olhasse nos olhos".

Zé Pretim é o bluesman pantaneiro. (Foto: Divulgação)
Zé Pretim é o bluesman pantaneiro. (Foto: Divulgação)

Bluesman - José Geraldo Rodrigues, mais conhecido como Zé Pretim é um ícone da música. Nascido no Interior de Minas Gerais, mas morando em Campo Grande desde 1973, começou a ficar conhecido no meio musical quando participou das bandas “Zutrik” e “Euphoria” onde se apresentava em festas e nos bares da Capital.

Nos anos 80, adotou sua identidade musical, misturando o blues com o caipira de suas origens. A carreira solo trouxe reconhecimento e ele virou destaque no programa do Jô Soares em 2006, como o “bluesman pantaneiro”. Também participou do programa de calouros do apresentador Raul Gil.

“É uma amizade de quase meio século e uma admiração tão grande quanto esse tempo. Zé Pretim Bluesman, um gigante da nossa música. Emprestei dele esse cartaz”, diz Lenilde.

Educação – Edson Silva é jornalista, pesquisador e doutor em Comunicación y Periodismo pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), na Espanha. Também é proprietário da reserva particular do patrimônio natural Cara da Onça, em Bodoquena.

Mestre em Teoria da Comunicação pela Universidade Metodista de São Bernardo do Campo, SP. Foi coordenador do Laboratório Griot-Jornalismo, Direitos Humanos e Narrativas Complexas e professor universitário por 30 anos junto à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Foi presidente na primeira diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado (Sindjor), de 1984 a 1987, e atuou vice-presidente do sindicato de 2016 a 2019. Hoje, é coordenador do Conselho de Ética do local.

Como jornalista, tem foco no Jornalismo Investigativo/narrativas jornalísticas de viagem, com projetos desenvolvidos em Mato Grosso do Sul, pelas regiões brasileiras e viagens culturais pela América do Sul, Europa (França, Espanha, Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, Itália, Holanda); Ásia (Índia, Nepal); África (Marrocos), América Central (Cuba).

Detentor do Prêmio Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 92, com a reportagem “Trabalhadores do Carvão”, versando sobre a exploração de trabalhadores (crianças e adultos) pelas carvoarias da região de Ribas do Rio Pardo e Água Clara. Também ganhou o Prêmio Federação Nacional dos Jornalistas com a reportagem “O Ninho da Tortura”, sobre a violação dos Direitos Humanos pelos aparelhos policiais do Estado.

Atualmente investe em projetos com autofinanciamento e financiamento coletivo como o “De frente para a América do Sul - Um olhar biográfico sobre assentamentos humanos sul-americanos na perspectiva dos direitos humanos fundamentais”, uma pesquisa científica para produção de livro-reportagem e outros produtos jornalísticos.

“O nome do jornalista e professor doutor Edson Silva está entre os fundadores do Curso de Jornalismo da UFMS e de uma determinada e consciente carreira de militante da justiça social e da preservação do meio ambiente”, afirma Lenilde.

Saulo é um menino que toca violino. (Foto: Divulgação)
Saulo é um menino que toca violino. (Foto: Divulgação)

Não encontrado – A campanha também mostra o menino Saulo, que fez parte da Orquestra Infantil da Fundação Zahran. “Esse belíssimo projeto coordenado pelo maestro Eduardo Martinelli Danzi e Jardel Vinicius Tartari trabalha com crianças indígenas e crianças que moram nas áreas do lixão. Arte dá dignidade, dá educação e dá futuro”, destaca Lenilde.

O Lado B foi atrás para saber mais informações sobre Saulo, como nome completo, idade e o gosto pela música. Contudo, a única informação que tivemos foi de que o menino se mudou com a família para o Nordeste.

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