De uma sala de poesia ao teatro, grupo faz cidade sorrir há 10 anos
Com a coragem de seguir o sonho, Nildes Tristão possibilitou um espaço artístico para outras pessoas sonharem
Nesta semana, o Grupo Casa - coletivo de artistas, uma das Companhias que mais realizam projetos na área da cultura em Campo Grande está completando 10 anos de trajetória. Além de escola livre de teatro e Companhia, o "Casa", como os artistas chamam no dia a dia, também funciona uma produtora audiovisual e uma editora de livros.
Ao longo dos anos, o Grupo Casa esteve por várias regiões da cidade, mas desde maio de 2023, tem sede fixa na Rua Visconde de Taunay, no bairro Amambaí. Ao entrar pelo portão preto do espaço, o grafite do artista Rafael Mareco dá cor aos muros da parte externa do jardim.
Do lado de dentro, no corredor, tem o ateliê, com os figurinos nos cabides e objetos cênicos de espetáculos, também é onde ficam os instrumentos musicais e a parte técnica, como caixas de som. Ao lado do ateliê fica a direção, sala que sai toda a criação para escrever os espetáculos, roteiros e produções de projetos. Saindo do corredor de entrada, chegamos a biblioteca com mais de mil livros e a Caixa Cênica, que além de ser espaço para a realização das oficinas durante a semana, é palco de apresentações de espetáculos.
Mas antes deste espaço ser estruturado, no começo da trajetória, as aulas de teatro eram ministradas em uma sala da casa dos pais de Ligia Tristão Prieto. Além de atriz, teatróloga e psicóloga, ela também é a fundadora da Companhia e antes de ser Grupo Casa, essa mesma sala era o lugar em que a mãe de Ligia, Nildes Maria das Graças Tristão Prieto, oferecia aulas de poesia, construção de poemas e declamação de poesia. Um sonho que conseguiu realizar em 28 de maio de 2013, a esse espaço artístico chamou de "Casa da Poesia Dr. Alda Garcia".
Desde pequena Nildes escrevia e declamava poesias, mas, como profissão pôde assumir depois de estudar odontologia. De 11 irmãos, ela foi a única filha mulher a estudar e sua família acreditava que Nildes teria mais possibilidades de carreira sendo médica, advogada ou dentista. "Minha mãe veio para Campo Grande estudar odonto na Universidade Federal e continuava a escrever poesias e a declamar poesias nos lugares. Aqui ela conhece a professora Dra. Alda Garcia e começa a fazer todo o curso dela de poesia. E minha mãe sempre esteve com a poesia mas sem assumir como profissão", conta Ligia.
Em fevereiro de 2013, antes de abrir a casa da poesia, Nildes viaja até o Rio de Janeiro, onde Ligia estudava para o mestrado e trabalhava com teatro. Ao ver a filha trabalhar com arte, Nildes diz para Ligia que entendia arte como profissão. Depois desse encontro, Nildes volta a Campo Grande e abre a sala da poesia, ao lado do consultório de odontologia da família." A gente conversava todos os dias sobre sonhos, poesias, as coisas do cotidiano, sobre conquistas e desejos.
Eu ligava para ela e conversávamos um período longo. Eu não consegui estar no dia da inauguração da Casa da poesia, então pedi para meus irmãos entregarem um quadro com um texto que dizia que a coisa mais difícil na vida era entender o que você deseja e a segunda coisa mais difícil é lutar por aquilo que você mais deseja e eu desejava que as palavras dela ganhassem o mundo".
Em setembro de 2013 Nildes falece vítima de leucemia, poucos meses depois de abrir a a Casa de Poesia Dra. Alda Garcia.
Na época, Ligia ainda morava no Rio de Janeiro ministrando aulas de teatro, ela decide então voltar para a capital e dar continuidade ao espaço artístico que sua mãe começou. Assim nasce o Grupo Casa, a partir da sala de poesia, o lugar foi se transformando em um teatro com quarenta lugares, e o espaço onde se dava aula para dez alunos passou a oferecer curso de teatro para cem pessoas. Ao longo dos 10 anos, mais de 1.000 alunos já passaram pela escola.
Atualmente, o coletivo de artistas independentes se somam em ações de formações e criações teatrais, cinematográficas e literárias. Com formações ininterruptas, espetáculos premiados, festivais e mostras para todas as idades. No repertório conta com mais de 40 espetáculos teatrais, entre esses mais de 30 são voltados para a infância. Ainda este ano, pela produtora audiovisual, a equipe deve rodar o segundo curta-metragem chamado "Eleonora", com roteiro de Ligia. Em 2024, o espaço também abre para que outros artistas possam treinar e dar continuidade a sua pesquisa na arte.
"O Grupo Casa faz dez anos com uma certeza de que é só o começo ainda e que agora a gente consegue entender muitos passos, inclusive que antes a gente não conseguia ter tanta certeza que a gente foi experimentando, para encontrar os formatos que já são certos. Carinhosos, afetivos. Então o espaço está aí para que a gente consiga usá-lo enquanto pesquisa, enquanto experiência, enquanto formação, enquanto tudo que a gente precisar. Que seja positivo para nossa ampliação enquanto ser humano, porque teatro, arte trata das humanidades. Então é para isso que a gente está ali em funcionamento também".