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Artes

Humberto não sairia pelado pela arte, mas recorda os tempos de censura que viveu

Thailla Torres | 08/10/2017 07:10
"50 anos de Bovinocultura" do artista plástico Humberto Espíndola. (Foto: Thailla Torres)
"50 anos de Bovinocultura" do artista plástico Humberto Espíndola. (Foto: Thailla Torres)

É um colorido particular que carrega a identidade sul-mato-grossense nas artes plásticas. Quem visitar a Morada dos Baís até o dia 30 de outubro vai ver um pouco disso na exposição "50 anos de Bovinocultura", do artista plástico Humberto Espíndola. São 19 obras que explicam como a figura do boi e seu simbolismo ganharam tamanho status de importância cultural aqui no Estado e fora dele.

Durante a abertura, Humberto conversou sobre a comemoração e, principalmente, como suas obras foram capazes de simplificar um comportamento tão sul-mato-grossense. Ele que estudou poesia, fez Jornalismo, Filosofia e Letras, começou a pintar em 1964, quando sentiu que esse era o caminho, durante a organização de uma mostra de artistas mato-grossenses.

"Naquele tempo conheci Aline Figueiredo, que estava organizando a primeira exposição de artistas, que correspondia a uma semana da arte moderna. Na época me empolguei pela causa e percebemos que estávamos fora da arte de Mato Grosso, porque não havia artistas residentes e foi aí que me bateu a vontade", lembra.

Inspirado na Pop Art americana, Humberto passou a questionar o modo de viver da região e não teve dúvidas sobre o valor que o boi dever ter em suas obras. "Fiz quase 200 quadros até achar meu tema, até que de repente caiu a ficha. Havia uma sociedade em volta do boi. Não só como ruminante, mas como cultura universal, cheio de simbologias e histórias", recorda.

O tempo passou e o trabalho continua atual, por isso a arte é tão necessária. Até hoje, as obras de Humberto levam a interpretações contemporâneas sobre questões sociais, comerciais e de comportamento. "Abordo todos os temas, protesto social, economia, corpo e sexualidade. Tudo contribui para muitas questões e tem muita coisa que eu fiz há 50 anos que começaram a acontecer há 20 anos", diz.

Com exposições internacionais, premiações e produções pelo mundo, ele recorda um dos momentos mais marcantes do reconhecimento como artista plástico. "A coisa mais surpreendente foi a Bienal de Veneza. Inclusive, José Saramago me citou na obra dele, acho que só por isso já estou eternizado".

Levando em consideração que recentemente a arte contemporânea tem virado assunto e provocado discussões acaloradas, questionamos Humberto até que ponto ele iria pela arte, como por exemplo, ficar nu.

Na resposta, veio lembranças da censura quando flertou com a ousadia. "Eu não sairia pelado, até porque não é o estilo do meu trabalho. Mas recordo que em 1972 eu quis colocar um boi vivo na Bienal de São Paulo, mas fui censurado. Enquanto isso naquele mesmo ano colocaram um leão pardo em uma exposição da Argentina, enquanto isso fui tolido de fazer algo que ficaria marcado na história da arte nacional", diz.

O Sesc Morada dos Baís fica na Avenida Noroeste, 5140, Bairro Amambaí.

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