João Carreiro está entre 3% de cardíacos que não retornam da sala de cirurgia
Músico tinha mais de um problema no coração, tornando procedimento complexo, justifica médico
O cantor sertanejo João Sérgio Batista Corrêa Filho, o João Carreiro, de 41 anos, faz parte de um grupo reduzido, de 3% dos pacientes cardíacos submetidos à cirurgia, que não conseguem sobreviver ao procedimento. O artista morreu na noite de ontem, por volta de 22h, no Hospital do Coração de Campo Grande, após ficar cerca de 12 horas na mesa de cirurgia, sob intervenção de quatro médicos, para uma operação de colocação de prótese para corrigir uma deficiência congênita da válvula mitral do coração.
O diretor-clínico do hospital, Jandir Gomes Júnior, descreveu o esforço da equipe, que iniciou o procedimento e ia avaliando, a cada poucos minutos, o ritmo cardíaco de Carreiro. À medida que os batimentos reduziam, um aparelho ajudava na atuação do coração. O artista não chegou a ter paradas, o coração dele simplesmente foi perdendo a vitalidade e entrou em falência, explicou o diretor, que não participou da cirurgia. Nem a máquina sustentava mais os batimentos.
Ele conta que Carreiro tinha um agravante, que fez com que a cirurgia fosse tão demorada. Ela chega a ser realizada entre quatro e cinco horas.
O problema central era a “frouxidão” da válvula mitral, que não se fechava, permitindo o retorno de sangue ao coração. Isso causou o chamado prolapso, nome técnico para o sopro, provocando insuficiência cardíaca. Além disso, havia calcificação no entorno da válvula, o que tornou a intervenção muito mais delicada e complexa.
O processo da substituição da válvula chegou a ser realizado, entretanto, a retirada da calcificação se estendeu e o coração do músico não aguentou.
Jandir Júnior comentou que de forma geral as cirurgias cardíacas são arriscadas e pacientes e familiares são alertados. Carreiro procurou o hospital para fazer a cirurgia porque um amigo cardiologista alertou-o para a necessidade, explicou o diretor. Ele já sentia os reflexos do problema, como cansaço, segundo repassado.
O médico apontou que sem a cirurgia, a sobrevida poderia chegar a cinco anos e, caso Carreiro tivesse sobrevivido e se recuperado, poderia ter qualidade de vida ainda por 25 a 30 anos. Ele explicou que cerca de 10% das pessoas têm sopro no coração. Muitas morrem ignorando que tinham a doença.
Muitas vezes cirurgias cardíacas exigem um extenso corte no tórax dos pacientes. No caso de Carreiro, optou-se por uma incisão menor. O sucesso do procedimento demandaria um período aproximado de três meses de reabilitação.
Carreiro era cuiabano, mas morava em Campo Grande. O artista se destacava no cenário sertanejo, vivia um momento muito produtivo na carreira, com muitos shows pelo país. O corpo dele foi velado esta manhã na Câmara de Vereadores de Campo Grande e levado para Cuiabá, onde terá um velório aberto ao público em um ginásio de esportes e será sepultado na capital mato-grossense.