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Artes

Levi encontrou na arte uma forma de fortalecer a cultura indígena

Jovem produz cocares, colares e vestimentas para incentivar o povo Terena a abraçar a cultura

Por Idaicy Solano | 10/08/2024 07:35
Aos 24 anos, Levi leva sua arte como forma de fortalecer a cultura indígena (Foto: Arquivo/Levi Lipu)
Aos 24 anos, Levi leva sua arte como forma de fortalecer a cultura indígena (Foto: Arquivo/Levi Lipu)

“Nossos acessórios, nossos adornos que nós utilizamos, tudo isso faz parte de quem nós somos. É a nossa cultura, nosso símbolo de resistência”. É com essas palavras que o artesão de etnia Terena, Levi Lipu, de 24 anos, transformou sua arte em uma representação viva da cultura indígena. Nascido na terra indígena de Taunay/ Ipegue, no município de Aquidauana, interior de Mato Grosso do Sul, ele produz praticamente todos os adornos e vestimentas, incluindo colares, cocares e tiaras de pena.

Levi relata que o contato com o artesanato acontece desde criança na cultura indígena. Isso porque é uma tradição os mais velhos ensinarem aos pequenos a produzir as vestimentas, acessórios e demais materiais utilizados principalmente em danças tradicionais. “Desde pequeno, eu sempre tive muito interesse em ser participativo, estar presente na cultura. É uma coisa que a gente já aprende, em ver os mais velhos, ver a comunidade usando, é uma coisa que a gente vai tomando gosto”, diz.

Levi conta que um dos motivos que mais o influenciou a criar e comercializar as peças, foi ao observar que muitos indígenas não tinham interesse em utilizar os acessórios de sua própria cultura. Ela relata que a partir do momento que começou a trabalhar com isso, percebeu o quanto era importante a representatividade através da vestimenta.

“Quando um indígena sai com um colar, um brinco, um cocar na rua, ele é olhado diferente, ele sofre um preconceito só pelo olhar. O indígena sabe que isso acontece. E muitas das vezes a pessoa fica com vergonha de usar um cocar ou uma coisinha por medo de sofrer um preconceito. E a partir do momento que eu comecei a trabalhar com isso, eu vi que era importante ter essa representatividade”, declara o artesão.

O artesão explica que começou a comercializar suas produções durante a pandemia, mas antes disso, nunca tinha pensado em transformar o artesanato em uma fonte de renda, principalmente porque não haviam muitos exemplos de outros indígenas sobrevivendo apenas de artesanato.

“Quando começou a pandemia, eu não podia ter o contato com outras pessoas não saia de casa, aí eu comecei a trabalhar com isso. E com o tempo fui postando nas redes sociais, e foi embalando. As pessoas foram tendo mais interesse e eu fui vendo que ali podia ser uma fonte de renda. Atualmente, a gente já tem alguns indígenas que têm destaque, mas mesmo assim, você vê muitas pessoas que têm talento, que têm habilidade para mexer com isso, mas não conseguem sobreviver apenas trabalhando com o artesanato”, ressalta.

O artesão produz muitos cocares em variados tamanhos e cores (Foto: Arquivo/Levi Lipu)
O artesão produz muitos cocares em variados tamanhos e cores (Foto: Arquivo/Levi Lipu)
Variedade de colares em diferentes cores e penas (Foto: Arquivo/Levi Lipu)
Variedade de colares em diferentes cores e penas (Foto: Arquivo/Levi Lipu)
Brincos feitos por Levi (Foto: Arquivo/Levi Lipu)
Brincos feitos por Levi (Foto: Arquivo/Levi Lipu)

Processo de produção  

Os materiais mais utilizados por Levi são encontrados facilmente na natureza. Ele utiliza  jenipapo, sementes, tinta à base de cinzas, carvão, barro vermelho e urucum. As cores predominantes extraídas destes materiais são preto, branco e vermelho. Levi destaca que também conta com a colaboração de outros povos para arrumar maior diversidade de materiais, outros tipos de sementes e conhecimentos.

“Quando eu digo que trabalho com artesanato indígena, envolve especificamente minha região aqui. Se uma outra aldeia produz algo diferente do que é produzido aqui, pode ser diferente nas características, mas mesmo assim não deixa de ser o símbolo. Às vezes essa diferença é muito marcada pela dificuldade de encontrar material. O material que eu tenho aqui, às vezes o meu parente em outra aldeia não tem, mas a gente tem esse respeito, essa consideração por essa diversidade de conhecimento e cultura dentro dos próprios terena”, explica Levi.

Ele produz desde colar, brinco, cocar, ao traje de ema completo, incluindo cocar, saia de emas, o bracelete, tornozeleira e o arco e flecha. O traje é uma vestimenta tradicional feita para os guerreiros do lado vermelho.

“O que eu mais gosto de fazer é o traje terena, o traje kipaé, que é todo produzido com penas de ema. Tem toda uma história, uma simbologia, uma cultura por trás dessa veste, e é o mais procurado aqui na região. É um dos itens mais raros de se produzir, um traje completo. E esse é o que eu mais acho bonito, dentre todos os materiais que eu produzo” destaca.

Traje feito inteiramente de penas de ema é vendido sob encomenda (Foto: Arquivo/Levi Lipu)
Traje feito inteiramente de penas de ema é vendido sob encomenda (Foto: Arquivo/Levi Lipu)

Resistência Terena 

Através de suas produções, Levi busca destacar a rica cultura dos povos originários de Mato Grosso do Sul além de resgatar o sentimento de orgulho pelas suas raízes, através das vestimentas e acessórios, que também são uma forma de comunicar aos restante do mundo de onde ele e seu povo vieram.

“A nossa cultura é viva, ela é presente, ela é rica e tem que ser muito mais valorizada. Nós indígenas somos uma população grande, nós temos pessoas formadas em diversas áreas, nós temos pessoas que trabalham muito, pessoas muito inteligentes, anciãos que têm conhecimento sobre coisas inimagináveis, nós estamos aqui, nós precisamos ser respeitados, valorizados e termos nossa cultura conhecida”, ressalta Levi, que também é acadêmico do curso de Engenharia Civil no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), no campus Aquidauana.

Levi convida a todos para conhecerem seu trabalho, e ajudar a divulgar a cultura Terena. Quem tiver curiosidade e quiser acompanhar o trabalho dele, basta acessar o perfil do Instagram @artesaanto_terena.

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