Máquina do tempo prova que nem em 3018 mulheres terão direitos dos homens
Duas cientistas comprovaram, com uma máquina do tempo, que a humanidade acaba antes mesmo de as mulheres alcançarem os mesmos direitos que os homens! O respeito ao ser feminino, que exige nada mais que igualdade, esteve longe de ser encontrado em 1969, em pleno festival Woodstock. Na época das cavernas e, até mesmo, no tempo da Revolução Francesa, existíamos apenas para servir aos homens.
A notícia, dada em primeira mão pelo Lado B, comprova que, infelizmente, nem mesmo no ano de 3018, mulheres e homens serão tratados de maneira igualitária.
A viagem ao passado e ao futuro, afim de encontrar o exato momento da equidade de gêneros é coisa da cabeça de Breno Moroni, diretor da peça “Mulheres Sapiens Erectus”, que estreia nessa sexta-feira (1º) e no sábado (2) segue em cartaz no Teatro Prosa, às 20h.
Por meio do humor, a peça trabalha um tema muito atual, que faz parte do universo feminino, principalmente, sob o viés do diretor, o que pode soar bem cabeludo para a maioria das pessoas. Porém, as atrizes da Aplausos Cia Teatral, Kely Zerial, que dá vida a Doutora X, e Thathy D’Meo, a Doutora Y, toparam esse desafio depois que perceberam a abertura de Breno para suas considerações.
''A gente se sentiu até meio chata porque fomos cortando muita coisa dentro do texto original e adaptando isso. O Breno foi super paciente conosco. Tinham coisas que consideramos desnecessárias em relação ao feminino, então nesse processo aí se foram seis meses, cortando texto, adaptando, ensaiando e produzindo. É uma peça de comédia que não tem a intenção de ser pesada, ela aborda com leveza o feminismo'', diz Thathy.
A história se desenrola com as duas cientistas, responsáveis pelo grande feito nunca alcançado anteriormente: elas construíram uma máquina do tempo, que pode as levar para qual ano desejarem, seja no passado ou no futuro. O único personagem masculino, o chefe Doutor H Maiúsculo é representado por um manequim. A referência deixa claro que, para elas, de nada serve o doutor, tanto é que ele não tem voz nem ação.
''Essa representação é muito forte. O doutor é aquele homem que sempre esteve nessa humanidade, o mesmo do tempo das cavernas, que vai continuar sendo assim mesmo que anos se passem'', diz Kely.
Poucas das vezes vemos um homem representado dessa maneira, sem o protagonismo desconfortável imposto pelo patriarcado. Inclusive, é a partir da ''fala'' dele, de apresentação, que na verdade é uma espécie de efeito da equipe de som, que as duas se revoltam e decidem responder o tema que as guia por quase 1 hora de peça.
''Doutor H Maiúsculo é o patrocinador delas, a pessoa que dá o dinheiro, ou que, no caso, não dá, visto a reclamação das duas, de estarem sem receber para curtir o fim de semana. Ele não sabe como foi o processo de construção da máquina''.
A temática do texto é recorrente na vida das atrizes, que participam de movimentos que lutam pela igualdade de gênero. “Eu pesquiso e já fiz eventos para destacar a produção da palhaçaria feminina, que tem poucas representantes tanto em nosso Estado, em outros estados existe um número bem expressivo já de coletivos e uma organização de palhaças em rede pelo país, e a Kely faz parte do movimento de mulheres negras. Este é um assunto que temos que tratar nos palcos também”, defende Thathy.
O texto de Breno foi escrito no ano de 2013 e finalizado recentemente. No humor, ele consegue mergulhar, com calma, na seriedade que o tema carrega em algumas falas das doutoras. Ao brincar com as características femininas, que podem soar como esteriótipos, como por exemplo a mulher de TPM, o texto pode ser ofensivo para algumas mulheres mais radicias, cansadas dessa representação, mas mais uma vez, vale lembrar que a peça quer trabalhar com leveza.
Leve, a peça consegue interagir com o público, mas sem forçação. Quando elas precisam ligar a máquina, chamam alguém da plateia para isso. A troca de roupa para cada era tem que ser feita na correria, no tempo em que elas entram na máquina e fazem essa interação. São pelo menos 6 trocas de figurinos, feita em menos de 5 minutos.
Essa é a primeira vez que um diretor de fora da Aplausos Cia Teatral irá conduzir uma peça do grupo, desde que foi criado há 18 anos. “Está sendo um momento de bastante aprendizado porque eu sempre dirigi nossas montagens, como dramaturga defendo que nossos trabalhos possuem uma dramaturgia criada a partir das pesquisas e interesse do grupo. Mas vemos nesse oportunidade uma troca de saberes, isso algo muito bom já que aumenta nosso repertório, além de trabalhar com alguém do gabarito dele”, reflete Thathy.
Para as atrizes e para o diretor, infelizmente, assim como no texto, as mulheres não conseguirão chegar nesse lugar de igualdade porque é do ser humano a ideologia escravocrata. ''A gente espera que mais e mais mulheres tirem um pouco desse ser escravo de dentro de si mesmo. Que essa corrente de poder, querer e fazer o que se quer, e ser respeitada por isso alcance a mais mulheres, porque é isso que a gente precisa'', finaliza Kely.
A entrada é gratuita, mas os ingressos devem ser retirados uma hora antes do espetáculo. A classificação é livre. O Teatro Prosa fica no Sesc Horto, localizado na rua Anhanduí, 200, Centro.