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Artes

Mestre de bateria do Catedráticos do Samba, Eraldo praticamente nasceu na escola

Pai de Eraldo fundou a escola de samba há mais de 40 anos e hoje a mãe dele é a presidente

Wendy Tonhati | 26/02/2019 07:41
Eraldo comanda a bateria e é filho do fundador da escola de samba (Foto: Wendy Tonhati)
Eraldo comanda a bateria e é filho do fundador da escola de samba (Foto: Wendy Tonhati)

Quando questionado há quanto tempo está no G.R.E.S (Grêmio Recreativo Escola de Samba) Catedráticos do Samba, o mestre de bateria Eraldo Pulquério Alves, 34 anos, diz sem pensar “a vida inteira”. Um pouco mais novo do que a escola de samba, que tem 40 anos de fundação, ele praticamente nasceu ali e há 15 anos é mestre de bateria da escola.

A escola foi fundada pelo pai de Eraldo, Carlos Púlquério Alves, em dezembro de 1977. Na família de 7 irmãos, todos têm funções na escola. A mãe, Marilene Pereira de Barros, é a presidente. Ela assumiu após a morte do marido, em 2005.

Eraldo diz que o pai tinha medo de morrer e eles acabarem com a escola de samba. A família seguiu o desejo de Carlos e além da Marilene, os filhos entraram no ritmo do Carnaval. “Um é diretor, o outro toca cavaquinho, o outro faz samba enredo, o outro está mexendo com os carros alegóricos e fazendo as fantasias. Mexemos com um pouquinho de cada coisa”, cita.

Eraldo já estava 'metido' na bateria da escola de samba desde criança (Foto: Paulo Francis)
Eraldo já estava 'metido' na bateria da escola de samba desde criança (Foto: Paulo Francis)

Eraldo comanda a bateria da escola de samba e, nas memórias, se lembra de estar entre os ritmistas, quando tinha cerca de cinco anos, antes mesmo de poder participar do Carnaval.

“Tinha aquela vontade imensa de ir para o Carnaval e não podia. Fui crescendo e meu pai foi me ensinado, até participar e ser mestre de bateria. Comecei a me envolver com os mestres antigos, a tocar e a gostar. Comecei a assistir vídeos, entender de Carnaval até montar a bateria do Catedráticos do Samba. Hoje a nossa bateria tem um nome que é Bateria Águia Negra”.

Atualmente, a escola ensaia na quadra da rua Macaé, no bairro Sílvia Regina, mas, por muito tempo, os ensaios foram na praça do bairro Ana Maria do Couto. O mestre de bateria lembra que antes, a escola não tinha barracão e ensaiava na praça, em estacionamentos e locais que não forneciam muita estrutura.

O terreno do atual barracão não pertence à escola, porém, Eraldo foi um dos que construiu a estrutura. É possível até ver que o cimento do piso possui emendas e pedaços diferentes uns dos outros. O local foi sendo construído aos poucos e com a luta dos integrantes da escola de samba.

“Chovia e a gente tinha que recolher instrumento, recolher tudo e o pessoal ia embora. Foram muitas lutas e nunca desistimos. Éramos do terceiro grupo que tinha em Campo Grande e, de tanto a gente brigar, hoje somos uma das melhores escolas de samba de Campo Grande e temos o nosso próprio barracão para ensaiar e fazer fantasias. Isso aqui é um orgulho que temos para trazer a comunidade, afirma Eraldo”

Escola tem barracão próprio na rua Macaé há dois anos
Escola tem barracão próprio na rua Macaé há dois anos

Eraldo conta que o pai fundou a escola após ter contato com familiares e pessoas de fora que tocavam, cantavam samba e tinham relação com o Carnaval. Ele gostou tanto do clima que passou a tocar e decidiu fundar a escola de samba, junto com amigos. “Ele achava que entendia muito de samba e o nome veio do estudo e do saber. Ele falou vou colocar Catedráticos do Samba que é um nome muito bonito

O mestre da bateria diz que a evolução da escola, a longo dos anos, teve a participação de cada componente e da comunidade. Durante todo o ano, eles fazem festas para levantar fundos para o Carnaval do próximo ano e eventos beneficentes.

“Fomos começando a entender de Carnaval, conversando e nos unindo. Hoje isso aqui é uma família, não é nem só amigos mais. Com uma força daqui e dali e tornamos isso aqui um império para a gente. Acaba carnaval e fazemos brincadeiras para crianças, entrega de presentes, ajudamos as pessoas que precisam. A gente não para mais, fazendo festa e promoções durante o ano.

Segundo Eraldo, neste ano, a bateria vai levar 55 componentes para a avenida com cinco instrumentos: surdo, malacacheta, tamborim, repinique e ganzá. Durante todo o ano, a bateria ensaia e trabalha com shows, formaturas e eventos. Eles também estão montando uma bateria mirim. “Estamos montando a bateria mirim do Catedráticos e fazendo as crianças gostarem do samba. As crianças que vão ser o nosso futuro. É muito bom ver a criança sorrindo e aprendendo. Você sabe que isso aqui vai continuar crescendo”.

Nesta terça-feira, será o último dos integrantes na quadra. “Meu pai foi o fundador da escola e ensinou para a gente muita coisa. A gostar e amar o Carnaval como ele amava. Eu hoje, como diretor e mestre de bateria, vai fazer 15 anos, aprendi a amar e levo isso aqui com o maior amor. Faltando uma semana para o Carnaval, o coração bate forte e doído para mostrar a maravilha que estamos construindo aqui dentro”.

Carnavalesco Paulo Matias ainda finaliza detalhes das fantasias e carros alegóricos (Foto: Paulo Francis)
Carnavalesco Paulo Matias ainda finaliza detalhes das fantasias e carros alegóricos (Foto: Paulo Francis)

Mundo árabe na avenida - O carnavalesco Paulo Matias, explica que o enredo deste ano é “A Magia do Mundo Árabe é do Oriente, um Fascínio Sem Igual. Salaam Aleikum, que a Paz Permaneça Sobre Vós”. Na avenida, os espectadores vão acompanhar elementos do mundo árabe que estão presentes na nossa cultura, como cultivo do café, especiarias, a música, o narguilé e até as odaliscas das Mil e Uma Noites.

“É um tema rico, desde a história deles, a culinária, a religião, as especiarias e eles mexem muito hoje em dia no comércio. Eu procurei desenvolver o enredo um pouco em cima disso. Contar a história do Brasil-Oriente e estou trazendo o mundo árabe para o Brasil”, adianta o carnavalesco sobre o que será visto na avenida. Por enquanto, as fantasias são mantidas em segredo e não podem ser fotografadas.

Agora, os ensaios são na rua, para que os carros alegóricos possam ser finalizados dentro da quadra. Conforme Matias, a escola levará cerca de 550 componentes em 7 alas e quatro carros alegóricos para o desfile. Perto do Carnaval, ainda faltam alguns detalhes de acabamento nas fantasias e carros alegóricos.

“O que está prejudicando a gente é só a questão da verba do governo. Tem atrapalhado não só a nós, mas, a todas as escolas. Coisas foram planejadas desde o ano passado, mas, infelizmente, não foram cumpridas. Não é questão de não receber [a verba], mas, é muito tarde. O tanto de coisa para fazer e o dinheiro vai sair, provavelmente, na quarta-feira. Temos que ir para São Paulo, comprar tecido para fazer o acabamento os carros”.

Maria Campos, diretora do setor financeiro diz que são necessários eventos durante todo o ano para levantar fundos para a escola (Foto: Paulo Francis)
Maria Campos, diretora do setor financeiro diz que são necessários eventos durante todo o ano para levantar fundos para a escola (Foto: Paulo Francis)

A diretora-financeiro da escola, Maria Campos diz que a previsão de gastos da escola para o Carnaval é de R$ 130 mil a R$ 150 mil. O valor de repasse do poder público, segundo ela, fica em cerca de 30%. Como até o momento apenas uma parcela da Prefeitura foi liberada, o acabamento de parte das fantasias ainda aguarda para ser feito. Assim que o valor for liberado, provavelmente na quarta-feira, o carnavalesco da escola irá a São Paulo para comprar os materiais que não têm em Campo Grande.

“Passou a quaresma, o pessoal já começa a pensar no próximo Carnaval. Em julho, agosto, já começam a pensar nas fantasias. Para conseguir fazer o Carnaval, tem promoções, festival de prêmios, pasteladas e eventos com amigos e parceiros para angariar fundos. O que faz diferença, é que aqui, é que é uma família que vem junto, voluntários que trabalham para ver a escola bem”, diz Maria.

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