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Artes

Nina traz discussão sobre ancestralidade e caminhos da literatura

Escritora participa nesta sexta-feira (30), da 36° Noite da Poesia, no Centro Cultural José Octavio Guizzo

Por Idaicy Solano | 30/08/2024 07:05
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

“Vim do Ceará com a mala vazia, com expectativa do que vai acontecer, de quem são as mulheres que eu vou conhecer? Que histórias elas vão contar? O que eu vou aprender? E aí eu volto para casa com a mala cheia das experiências, sabendo mais de outras pessoas, conseguindo contemplar outras narrativas, como as pessoas aqui têm se organizado, como têm feito a vida acontecer, como o que elas escrevem vai impactar no meio que elas estão e em mim também, porque sempre impacta. Eu sempre volto diferente, é muito rico”, escritora e poetisa Nina Rizzi.

Pela primeira vez em solo sul-mato-grossense, a professora, escritora e poetisa Nina Rizzi está em Campo Grande para participar da 36° Noite da Poesia, que acontece nesta sexta-feira (30).

Nina resume que trará para a roda de conversa diálogos sobre a poesia fora do cânone, destacando o que pessoas pretas, indígenas, negras, de terreiro, estão fazendo, e como que o pensamento dessas pessoas se revela dentro da poesia.

“Me interessa pensar, junto com as pessoas que vão estar lá, nessas outras literaturas, que é o que eu faço. O meu cânone, por exemplo, é formado por Mauro Bandeira e por Ana Cristina César. O que essas pessoas estavam pensando e como elas romperam com um outro cânone que era estabelecido? E como que nós, hoje, vamos rompendo também com essas verdades ou com esses caminhos literários?”, adianta Nina, sobre o que será debatido.

O intuito da roda de conversa será ponderar sobre como escritores à margem da literatura tradicional trabalham, se reinventam e atuam para trilhar novos caminhos. “Que novos caminhos a gente está trilhando? O que a gente quer dizer com a nossa literatura, que é diferente dessa outra branca, sulista, sudestina, proprietária”, questiona a escritora.

Nina é professora de história e artes, e já publicou dois livros infantis e seis de poesias, incluindo ‘A Melhor Mãe do Mundo’, que narra as visitas do filho a sua mãe, que está encarcerada. Sua escrita é baseada em uma perspectiva interseccional de raça, gênero e classe, tendo o protagonismo feminino e racial como principais temas.

Em seu currículo, também conta com uma série de trabalhos de tradução de livros de escritores renomados, incluindo Bell Hooks, Alice Walker, Toni Cade Bambara e James Baldwin.

Palestras e oficinas 

Em Campo Grande, Nina também foi convidada para uma oficina de literatura na CUFA (Central Única das Favelas) de Campo Grande, na tarde de ontem (29), com as mães da comunidade.

Na ocasião, a escritora participou de uma dinâmica com as mulheres da comunidade, ouviu suas histórias, recitou poemas e, no final, ministrou uma oficina de escrita criativa para as mulheres presentes.

Nina começou a fazer oficinas de escrita criativa há 25 anos, na CUFA de São Paulo. Ela conta que tudo começou ao ser designada para liderar um dia de trabalho no coletivo de mulheres da comunidade.

“Eu fiquei apavorada. Não tinha ideia, assim, do que fazer, porque elas que deviam estar me liderando. E aí me deu um estalo, porque eu já fazia poesia. Depois que fiz essa oficina com essas mulheres, nunca mais deixei de fazer”, comenta.

Depois de São Paulo, Nina também realizou oficinas com pessoas em situação de encarceramento, no MST (Movimento Sem Terra), no setor Sócio Educativo, com adolescentes privadas de liberdade, e em iniciativas privadas, por meio de edital. Posteriormente, a escritora também passou a trabalhar com crianças em instituições de ensino.

A dinâmica é feita com grupos de mulheres, mulheres em situação de vulnerabilidade social, crianças, e em eventos. Clique aqui para ler sobre a visita da escritora na CUFA de Campo Grande.

Nina em entrevista com o Lado B, durante a oficina de escrita criativa ministrada na CUFA de Campo Grande (Foto: Osmar Veiga)
Nina em entrevista com o Lado B, durante a oficina de escrita criativa ministrada na CUFA de Campo Grande (Foto: Osmar Veiga)

Próximas publicações 

O próximo livro publicado pela escritora se chama 'Diáspora Não é Lar', e deve ser lançado ainda este ano. "Esse livro fala sobre viver em diáspora, retrata como é para uma pessoa negra saber que seus ancestrais foram sequestrados. É um livro dividido em três partes. A primeira fala sobre essa infância empobrecida, com familiares atuando em trabalhos muitas vezes não-dignos. Enfim, experiências de infância, mas apontando uma coisa para o futuro", resume.

Nina também adiantou que deve publicar um novo livro infantil, em 2025. Em relação aos futuros projetos, ela deseja escrever um livro baseado em sua fé e crença. "Eu sou de terreiro, e tenho pensado em escrever um livro que deseje boas coisas pras pessoas. Que seja vocalizado e as pessoas consigam se sentir bem. Eu ainda tô pensando em como fazer isso", finaliza.

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