Produzido na Capital, documentário narra vida e obra de Helena Meirelles
Analfabeta, autodidata e um mito. A dama da viola, Helena Meirelles, protagoniza através de imagens de shows e arquivos da família, o documentário sul-mato-grossense “Flor da Guavira”. Embora a vida e a obra de dona Helena já tenham sido retratadas em dois outros trabalhos pelo país, a produção daqui garante imagens inéditas de forma a enriquecer a narração sobre quem deixou as cordas da viola há quase 10 anos.
Casada três vezes, mãe de 11 filhos e mais do que dona de um talento, Helena tinha o dom e a persistência que venceu as barreiras que a família tanto colocou. A história dela é de uma mulher nascida na fazenda Jararaca na região de Bataguassu, que criada entre peões e comitivas, teve desperta a paixão pelo violão a ponto de tocar escondido. Deixou filhos, maridos. Tocou a vida e a viola em bares e só foi descoberta aos 60 anos de idade.
De bagagem, gravou quatro álbuns “Helena Meirelles" (1994), "Flor da Guavira" (1996), "Raiz Pantaneira" (1997) e "De Volta ao Pantanal" (2003). O segundo deles é o que dá nome ao documentário produzido na Capital, com recursos do Fmic (Fundo Municipal de Incentivo à Cultura) de 2013, a agência Mart, que recolhe os direitos autorais de Helena Meirelles pela União Brasileira de Compositores, é quem está à frente do projeto.
Os primeiros depoimentos começaram a ser gravados em janeiro. O diretor do documentário, Rogério Zanetti, explica que estão sendo selecionados artistas que conviveram com ela, além do filho Francisco, único criado por Helena. “Tem dois documentários, um feito aqui, outro gaúcho, mas que tiveram a presença dela. Este vai ficar quase mais no mito que se tornou a vida e a obra dela”, avalia.
As participações já gravadas foram de Francisco e dos músicos Zezinho Nantes e Marcelo Loureiro, que dividiu o palco com a violeira em seu último show em Campo Grande, no Palácio Popular da Cultura.
No depoimento, Loureiro descreve, por assim dizer, os momentos de show que compartilhou com dona Helena. “Foram poucos em cima da experiência de vida que ela teve, convivi com ela em alguns momentos”, conta.
Hoje com 34 anos, o músico conheceu o trabalho da mestre quando começou a tocar violão, aos 13 anos, ainda em Guia Lopes da Laguna. “Ela foi a minha referência naquele começo pelo tipo de música. Chamamé, polca, era esse o repertório que ela fazia em mídia nacional”, relata.
Considerada figura singular, Marcelo relembra o carisma e o senso de humor. “Para mim era uma satisfação dividir o palco com ela, pela história de vida dela, que viveu de uma forma simples, mas muito genuína”.
O documentário, de aproximadamente 50 minutos, incluem desde o nascimento dela, em 1924, até 2005, ano em que viveu e morreu em Campo Grande. “Ela mesma contava histórias maravilhosas. Teve 11 filhos sem parteira, paria no mato. Não vamos focar muito no lado exótico, mas sim tratar detalhes curiosos da vida dela”, afirma o diretor.
Os 50 minutos ainda vão presentear o público com interpretações de canções e apresentações dela mesma, como no Festival América do Sul e de participações no programa de Inezita Barroso, além de depoimentos de Sérgio Reis, Renato Teixeira e Kid Vinil e da revista americana Guitar Player, que a colocou no rol dos 100 melhores músicos do mundo, dividindo espaço com Eric Clapton e B.B. King.
As imagens trazem o instrumento preferido dela, um violão Del Vechio, ganhado da loja em São Paulo, no dia em que foi escolher um para o filho. “Francisco, foi comprar um violão e ela o acompanhou. Ela resolveu ver um e pediu o que tivesse o braço pequeno e fino, compatível ao tamanho dela. Entre vários, escolheu este das imagens e o afinou. Ficou um tempão tocando e resolveu que o levaria. Quando foi pagar a conta, o gerente disse o do seu filho a senhora paga, este é um presente da Del Vechio para agradecer a visita da senhora em nossa loja”, conta Zanetti.
O recurso inicial para a produção do documentário são os R$ 49 mil disponibilizados pelo Fundo de Cultura. O material deve ficar pronto até julho e ser lançado ainda no segundo semestre.