Rapper dá voz à queimadas com rimas faladas em parede sem reboco
Alexander Alves, conhecido como Prechau, faz música sobre assuntos variados, dessa vez sobre os incêndios
“Rap pra mim significa a voz de um povo esquecido. A rima é uma ferramenta para que esse grito, daqueles que muitas vezes ficam calados, possa chegar a ser ouvido. Ele dá voz ao oprimido que fala para o opressor que isso não vai ficar assim”.
É com essa frase que Prechau, batizado como Alexander Alves Ferreira, de 25 anos, explica seu amor pelas palavras e como transforma elas em músicas faladas. Os versos são feitos em uma parede sem o que ele chama de ‘reboco’ e o resultado é postado nas redes sociais em forma de vídeo.
Recentemente, ele chamou atenção com rimas sobre as queimadas no Brasil. No vídeo, que também aborda o bioma pantaneiro, o rapper chama atenção para os efeitos da crise climática.
“Agora cinza, o verde e amarelo. Sol vermelho não deixa o céu belo e o ar carregado dificulta a respiração [...] Meu Pantanal também não escapa, casa de onça pintada. O Centro-Oeste coberto de fumaça. Aeronaves adaptadas com jatos d'água [...] Era futebol, Carnaval e fama, agora a matéria internacional é Brasil em chamas”, diz alguns dos trechos.
Ele explica que a ideia surgiu após ver uma reportagem sobre os primeiros focos de incêndios no Pantanal. “Um rapaz veio falar pra mim que o tempo estava nublado e não chovia, aí falei que era fumaça. Percebi que muitas pessoas não sabiam o que estava acontecendo, então eu tinha que de alguma forma falar. Eu busco integrar informação, tenho uma mensagem que tem que ser entregue”.
Sobre a forma de gravar os videos, atrás de um buraco de parede de tijolos, Prechau comenta que o objetivo é mostrar um conceito de arte urbana e o quanto ela é rica. Morador do bairro Tiradentes, o rapper faz questão de dizer que é preciso enxergar que, além de um bairro conhecido pelo tráfico de drogas, também existe vida, comércio e música.
“Apesar do fato de ser um bairro forte no tráfico, não tem só isso, tem artistas, comércios e pessoas de bem. A repercussão do vídeo foi um espanto pra mim”. As rimas e o rap fazem parte da história de Alexander. O primeiro contato foi aos 10 anos, com 14 ele começou a ouvir mais o gênero musical e com 15 a reproduzir as próprias rimas, consideradas por ele uma mistura de talento e esforço.
“Já tinha predisposição, me apaixonei pelo negócio e já era. Até hoje estamos aí. Com 10 anos pensava em como eles faziam isso, achei que era impossível. Depois comecei a escutar com mais frequência e achei que poderia fazer. Penso 24h sobre rima, se tô parado fazendo alguma coisa estou pensando em um verso. É natural”.
Para tentar externalizar os problemas de jovens que vivem às margens dos debates políticos, Prechau criou o projeto ‘histórias do meu bairro’, com 6 faixas inéditas. A primeira chamada ‘correria’ será lançada no dia 29 de outubro.
“Vou escrevendo na minha cabeça mesmo ai pego e anoto depois. Passo o dia pensando em música e quando durmo sonho que estou escrevendo. Esse projeto vai ter vídeo clipe. Ele é de rap. Nele eu conto sobre sonhos dos jovens de um bairro, experiências, vivências, no caso eu”.
Sobre o apelido, Prechau conta que recebeu de um amigo, ainda na escola. A justificativa foi devido tamanho do rapper. É a retração do nome de um duende chamado Leprechaun.
“Tenho 1,65. O duente tem um trevo de quatro folhas. Meu amigo disse que era muito sortudo e baixinho, aí pegou. Comecei a fazer rima indo pra escola, meu amigo me deu esse apelido, comecei a fazer batalha com ele e ganhava. 'ce só ganha na sorte, leprechaun', ele dizia".
Apesar de amar a rima, Alexander não consegue viver inteiramente da arte. Hoje o sonho dele é conseguir se dedicar integralmente à música e composições. “Estudo computação gráfica, mas trabalho como freelancer em um restaurante”.
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