Selma ajudou a fundar escola e nem câncer a faz desistir de sair na Aero Rancho
Selma é apaixonada pela ala das baianas desde criança e nesse ano deve sair no carro alegórico
A GRES (Grêmio Recreativo Escola de Samba) Unidos do Aero Rancho nasceu de um bloquinho carnavalesco e virou escola de samba em 1991. Desde a fundação, Selma Paulino, 52 anos, está na ala das baianas e toda a sua família a acompanha na folia. Nesse ano, ela está ansiosa para rodar na avenida, na ala das baianas, porém, as filhas e o presidente da escola de samba vetaram a ideia, pois, ela está em tratamento para câncer.
Selma conta que participou da criação do Bloco Unidos do Aero Rancho que, depois de dois anos, virou escola de samba. “O bloco era eu, meus três filhos, o Carioca, a ex-esposa [Maria Benites, que já foi presidente da escola] e o Maurão. Era só um bloco e a gente saiu na brincadeira. Só tinha uma baiana, que era eu. A minha filha e o meu filho eram da bateria. A outra filha saiu em uma ala. Umas 15 pessoas só”.
Baiana oficial da Unidos do Aero Rancho, Selma é de Fátima do Sul e veio para Campo Grande quando os filhos ainda eram pequenos, há 27 anos. O amor pela ala das baianas, ela atribui ao sangue baiano, que veio da mãe.
“Eu sempre gostei e acho que é porque a minha mãe é baiana e está no sangue. Eu sempre achei lindo, desde pequenininha e me vestia quando via na televisão. Eu jamais achava que ia entrar nesse mundo. Quando eu vim para cá, eu já gostava. Quando eu conheci o Carioca, ainda não tinha bloco. Depois que nos conhecemos é que inventaram de sair no bloco. O Carioca foi lá e registrou", conta Selma.
Selma relembra que, no começo, passava a noite toda costurando fantasias e ajudando na preparação do Carnaval. Na época em que não havia a sede da escola de samba, até a casa dela era “barracão”.
“A gente passava a noite costurando e as gurias [ass filhas] dormindo embaixo das mesas. Só esse ano que eu não fui ajudar, porque estou com problema de saúde, mas vou sair. Fazia tudo. A escola de samba foi na casa do Carioca mesmo. Depois foi na minha casa. Às vezes não dava nem para entrar em casa. Trabalhava na creche o dia inteiro, chegava a casa, fazia janta para dar para as crianças e para quem estava trabalhando e ficava a noite inteira”.
O amor pelo Carnaval passou de Selma para os filhos. Uma das filhas sai na bateria e outra também participa, porém, menos, por causa dos filhos bebês. Só o filho que, por conta do trabalho, acabou se afastando nos últimos tempos. Os netos já participam também. Derik, de 12 anos, vai sair na bateria tocando chocalho.
“Toda a família gosta de samba. As gurias [as filhas] ficam bravas dizendo que eu estou doente, mas, eu vou assim mesmo. Eu estou doente, mas não estou morta. Todo ano a gente sai e até os netos já saíram. É a ala que me deixa mais encantada. Gosto de ficar lá embaixo, no meio do povo. Eu não gosto de ficar quietinha não. Eu gosto é do lugar mais divertido”.
Nas memórias de Selma e da filha Michele, o Carnaval mais emocionante foi o que teve como tema “Da Tela para a Passarela”, de 2004. Outra passagem, que elas lembram é quando o ex-marido de Selma se vestiu de baiana. “Faltava uma baiana para completar a ala e ele se vestiu com a fantasia de baiana. Só percebemos quando o pessoal começou a gritar ‘Cição’”.
Selma diz que a escola evoluiu ao longo dos anos e que agora, por ter um local fixo, é bem melhor. “Eu achei bom que agora tem um lugar. Quando era em casa, às vezes não cabiam as fantasias e tinha que ficar mandando para casa de um e para a casa de outro. Na hora de ir para a avenida, ficava passa na casa de um passa na casa de outro e quando chegava lá, tinha fantasia que tinha que arrumar porque tinha estragado. Quando teve um lugar certinho, ficou mais prático”.
Selma está em tratamento para o câncer de mama há um ano. Mesmo com a rotina de quimioterapia, ela não para de fazer as coisas em casa e diz que quer desfilar no chão. A filha Michele diz que ela não vai não.
“O Carioca [presidente da escola] quer que eu saia no carro, disse que é difícil para eu ficar rodando. Mas, a minha preferência é sair lá embaixo. Eu não gosto de ficar quietinha, mas ele tem medo que eu passe mal lá embaixo. Toda a vida eu desfilei, já passei situação pior e desfilei. Não é o câncer que vai me impedir de desfilar. Isso não mata não. O que mata é ficar deitado na cama”, diz Selma.
Bahia na avenida - Os preparativos para o Carnaval foram feitos no barracão da escola de samba, que fica na rua Charlote, no Jardim Aero Rancho. De acordo com o presidente da agremiação, Alberto Vieira - o Carioca, a escola foi fundada em 5 de outubro de 1991.
Nesse ano, leva para a avenida o samba enredo “A Bahia é aqui meu rei, muita festança e axé”, que vai homenagear a Bahia e suas expressões culturais e de religiosidade. Serão 350 componentes em oito alas e três carros alegóricos.