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Artes

Sem tema tabu, Raphael Montes usa livros e cinema para instigar pessoas

Criador de série famosa, ele fala que é contador de histórias antes de ser escritor e roteirista

Por Jéssica Fernandes | 27/04/2024 07:55
Escritor e roteirista, Raphael Montes participou de palestra na noite de sexta-feira. (Foto: Juliano Almeida)
Escritor e roteirista, Raphael Montes participou de palestra na noite de sexta-feira. (Foto: Juliano Almeida)

De ‘Suicidas’ a ‘Bom dia, Verônica’, Raphael Montes sabe como criar personagens que capturam a atenção e admiração do público. Escritor, roteirista e carioca, ele veio à Capital pela primeira vez para falar sobre suspense na literatura e cinema.

Ao Lado B, o romancista concedeu uma entrevista sobre os principais trabalhos na literatura, inspirações e curiosidades que não estão nas páginas e nem nas telas. Como ponto de partida, Raphael fala sobre seu romance de estreia: Suicidas.

Lançado em 2012, a obra traz a história de Alê e seus colegas, que pertencem à elite carioca do Rio de Janeiro. Os jovens são encontrados mortos no porão do sítio em condições misteriosas e que levam a crer que todos morreram devido ao jogo ‘roleta-russa’.

Raphael Montes concedeu entrevista exclusiva ao Lado B antes da palestra. (Foto: Alice Lemos)
Raphael Montes concedeu entrevista exclusiva ao Lado B antes da palestra. (Foto: Alice Lemos)

Como o título já entrega, o suicídio é um dos temas abordados no livro. Apesar de ser uma pauta delicada para alguns, o autor diz que a literatura concede liberdade para trabalhar temas com esse teor.

“Eu acredito como escritor que na literatura não existe tema proibido, ou seja, a boa literatura pode tudo, claro que, com responsabilidade e pesquisa. A boa literatura é o lugar da liberdade total, não existe tema tabu. Qualquer tentativa de limitar as possibilidades da literatura é censura”, destaca.

A ‘geração sem perspectiva’ é uma das bases que sustentam o suspense. O escritor comenta que quis retratar uma geração que recebeu muitas promessas de um futuro que se apresentou bem diferente do que disseram. “Quando chegou a vez dessa geração vem a crise econômica e política no país. Então é um livro sobre essa falta de perspectiva”, explica.

Público lotou Teatro Glauce Rocha, na UFMS, para prestigiar o escritor. (Foto: Juliano Almeida)
Público lotou Teatro Glauce Rocha, na UFMS, para prestigiar o escritor. (Foto: Juliano Almeida)

Nome de destaque no suspense brasileiro, Raphael também é autor de ‘Dias Perfeitos’, ‘O vilarejo’, ‘Jantar Secreto’, ‘Uma mulher no Escuro’ e ‘Uma Família Feliz’, sendo este último lançado neste ano. Com diversas ‘roupagens’, todos têm em comum o suspense, que é uma marca registrada do autor.

As obras de Raphael têm conquistado muitos jovens Brasil afora. Para ele, é algo positivo que tantos jovens estejam tendo contato com histórias de terror e suspense, pois isso, consequentemente, permite a formação de pessoas ‘de bem’ ao invés das que dizem ‘ser do bem’.

“Meus livros são todos muito provocativos e instigantes, então o jovem que está lendo meus livros, ele está refletindo, sendo instigado e provocado a pensar. Ao meu ver, isso é melhor do que a ignorância”, afirma.

Lançado neste ano, 'Uma família feliz' é o novo livro de suspense do autor. (Foto: Alice Lemos)
Lançado neste ano, 'Uma família feliz' é o novo livro de suspense do autor. (Foto: Alice Lemos)

Bom Dia, Verônica - Escrito por Raphael e Ilana Casoy, o suspense deu origem à série produzida pela Netflix. ‘Bom Dia, Verônica’ ganhou três temporadas e fez sucesso não só entre o público brasileiro. Apenas a primeira é inspirada diretamente na obra, enquanto as demais são originais.

Concluída neste ano, a série teve um elenco de peso do começo ao fim. Tainá Muller, Camila Morgado, Klara Castanho, Maitê Proença, Rodrigo Santoro e Reynaldo Gianecchini são alguns dos nomes importantíssimos que brilharam na série.

Na terceira temporada, o encontro entre os personagens de Reynaldo (Matias) e Rodrigo (Jerônimo) renderam muitos comentários na internet. Isso porque ambos protagonizaram uma cena cheia de tensão, que terminou em sexo.

Com menos episódios que as temporadas anteriores, a terceira exigiu um desafio por parte do roteirista. Raphael esclarece que só tinha uma cena para expor a relação entre os personagens e por essa razão criou algo marcante.

“Eu queria explorar essa relação entre eles e a maneira que eu encontrei foi a cena emblemática da temporada que realmente as pessoas comentam muito. Como autor gay, me sinto muito confortável por escrever”, comenta.

Além dessa cena, o roteirista conta que quis concluir a série com capítulos intensos. Apesar de curta, a produção, segundo ele, entrega uma caçada final potente. “São todos episódios que você não para e respira nenhum segundo. Acontece muita coisa e o final é surpreendente”, afirma.

Contador de histórias - Uma das atrações nacionais do Festival da Juventude, promovido pela AACIC (Associação dos Amigos do Cinema e da Cultura), Raphael foi convidado para ministrar uma palestra no Teatro Glauce Rocha, na UFMS, sobre o gênero de suspense nas páginas e nas telas.

Horas antes da palestra, ele falou sobre a relação que tem com esses dois formatos, como os dois são distintos e como ele consegue transitar de um para outro. O audiovisual é uma paixão para o carioca que foi roteirista em séries, como ‘Espinosa’, ‘Supermax’, ‘Tá tudo certo’, além das novelas ‘A regra do jogo’, ‘Beleza Fatal’ e os filmes ‘A menina que matou os pais' e 'O menino que matou meus pais’ e ‘Praça Paris’.

Seja no coletivo do audiovisual ou no íntimo da literatura, Raphael se coloca como um contador de histórias antes de ser escritor ou roteirista. “Eu me vejo como alguém que gosta de contar histórias, eu pego o assunto, o tema, personagens que me interessam e crio uma história para para falar, então sou um contador de histórias. [...] Literatura é o que me dá mais prazer, mas gosto muito de fazer audiovisual”, explica.

Campo Grande é mais uma das cidades que o autor visitou para falar sobre o seu trabalho. Além de falar, Raphael garante que gosta de participar de palestras para também ouvir o que o público tem a dizer. Para o autor é sempre bom encontrar leitores, ter esse contato que às vezes ocorre anos após o lançamento de um livro.

Por esse motivo, o roteirista sempre está aberto a convites, como o do Festival da Juventude. O encontro com leitores, conforme ele, faz parte de um ciclo.

“Ao meu ver é como se fechasse um ciclo, fechasse uma relação que foi criada e que se concretiza nesse encontro. Então, eu gosto muito de poder viajar pelo Brasil. Eu faço questão de ir e não só chegar para o evento. Porque para mim também parte do prazer que é conhecer o Brasil, seus lugares com essa culinária e as paisagens”, conclui.

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