"Nuance" mergulha no universo sem padrões para mostrar o poder das plus size
Mais do que um trabalho conceitual, as fotógrafas Farid Fahed e Bruna Barbosa mergulharam no mundo das mulheres obesas que moram em Campo, participando de reuniões, vivenciando a rotina delas, para poder, enfim, criar a exposição “Nuance”, que estreia no shopping Norte Sul na próxima quinta-feira (8).
A escolha do endereço como espaço para receber a exposição foi proposital, porque reúne muitos padrões de beleza, diz Farid. “Ali se concentra vários tipos de padrões da nossa sociedade, por meio da moda, da beleza e, mesmo que apagado, o lance da obesidade faz parte daquele meio, com as redes de fast food que estão instaladas na praça de alimentação”, explica.
A ideia de fotografar mulheres gordas veio das redes sociais, a partir de uma enquete lançada por Farid em sua página pessoal. “Eu perguntei o que as pessoas gostariam de ver em série fotográficas, qual o tema, e curiosamente responderam que queriam ver mais coisas sobre a obesidade. Aquilo me chamou atenção porque, mesmo estando no meio, eu não vejo isso sendo retratado, a não ser quando se fala da doença em si”, diz.
Farid conheceu então Claryza Viveiros, ex-miss plus size campo-grandense, a primeira apoiadora do projeto. Ela inseriu as duas fotógrafas em um grupo de 30 mulheres gordas e obesas, foi nesse momento que as responsáveis pelo “Nuance” tiveram contato com o preconceito vivido diariamente na pele de cada uma delas.
“Isso tocou a gente. Por não termos contato com essa realidade nem imaginamos quão difícil é. A gordofobia existe, é um preconceito real e cruel com quem está acima do peso ou do padrão de beleza imposto pela sociedade. Por isso essas mulheres se ajudam, se empoderam, se sofrem algum tipo de preconceito o grupo está ali pra dar suporte e, de certa forma, todas as seis modelos fotografas, em seu meio, empoderam outras mulheres”.
Dessa forma, o projeto acabou se moldando nessa proposta: menos preconceito, mais empoderamento. “Participamos de reuniões com elas e estudamos como trabalhar o nu e essa temática”, completa Farid.
Naturalmente, o projeto envolveu apenas mulheres. Foram seis modelos, Claryza Viveiros, Laura Nascimento, Ju Brito, Jussara Brandão, Daiane Libero e Mariana Cabreira, fotografadas por outras duas mulheres, e produzidas com o apoio de maquiadoras e estilistas.
As fotos carregam cinco liguagens diferentes. “Algumas tem influências do Renascentismo. O nu não tem apelo sexual, não exibe os seis das modelos. Eu promovi uma releitura da personagem icônica Frida Kahlo. A nossa Frida tem 90 quilos, mas traz a mesma força e a mesma luta”, detalha,
Em outra série, Farid fotografou a modelo com frases de empoderamento escritas em suas peles, do tipo “tire os seus padrões do meu corpo”.
O processo envolveu confiança das modelos no trabalho de Bruna e Farid. O resultado agradou a ambas as partes e, segundo Farid, os depoimentos delas foram inspiradores. “Elas falaram que nunca se sentiram tão bonitas como nas fotos, então quer dizer, foi muito compensador o resultado final”, finaliza.
Para a produtora cultural Mariana Cabreira, uma das fotografadas, participar do projeto foi poder enxergar uma visão diferente sobre si mesma. "Senti liberdade. Éramos nós quem mais indicávamos como nos sentíamos bem, a equipe acatava nossas dicas, nossa opinião. Sem contar que estar junto de mulheres empoderadas, que já tem mais conhecimento sobre empoderamento plus size, me fez um bem danado", disse.
