Alegria da avó curandeira ensinou à neta que a morte nem sempre é o fim
A neta aprendeu a lidar com o luto de forma positiva e prefere guardar as boas lembranças para fazer a avó "continuar vivendo".
Anaisa Huga Bastos era uma mulher forte, de sorriso fácil que adorava curtir a vida ao lado dos netos. Tinha "energia positiva", segundo a neta, Renata Bastos, que cresceu em sua casa brincando com os priminhos. A avó curandeira era o alicerce da família que, mesmo depois de partir, ensina à neta que a morte não é o fim.
“A sensação é de que o corpo aprisionava uma potência muito grande e isso gerou uma explosão que a libertou e agora se espalhou e está acessível a todos. É um sentimento de expansão, de que a vida continua com a sua alegria porque era uma pessoa muito divertida, animada”, diz Renata, que é doula e instrutora de yoga.
A neta conta que a avó lutava contra um linfoma há dez anos e partiu duas semanas atrás, aos 89 anos. “Esperava que isso fosse acontecer porque tive um sonho com a filha dela que também já faleceu. Disse-me que estava tudo pronto para recebê-la, pediu para não me preocupar. Entendi a mensagem e me preparei”, lembra.
Pouco tempo depois Anaisa realizou dois procedimentos de quimioterapia e adoeceu. Estava frágil, com problemas respiratórios e teve infecção no pulmão, que virou pneumonia. Foi internada, mas o quadro clínico agravou e a encaminharam para UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). “Isso aconteceu enquanto acompanhava um parto. Quando soube, avisei a todos para vê-la, para ter o último contato”.
Um dia antes do falecimento, Renata foi até o hospital para se despedir e encontrou Anaisa deitada, com aparelhos em volta da maca. Na unidade, percebeu que a avó estava com o olhar perdido e decidiu segurar sua mão para rezar, como faziam juntas. “Era muito religiosa então abracei e rezei. Poucas vezes me olhou com brilho nos olhos. Senti que iria partir comigo, ela fechava os olhos e voltava, e quando acabou o horário de visita ficou nervosa”, recorda.
A neta voltou para a casa e acendeu uma vela. “A sensação que tive era que partiria logo porque estava muito frágil. Fiz minha oração mentalizando ela e quando acordei às 4h fiz reiki. Minha mãe me ligou perguntando como estava e falou do falecimento”, comenta. A notícia fez Renata ir de emoção, por saber da libertação da avó. “É um desprendimento. Sinto que a gente é egoísta porque querer que a pessoa continue aqui, não é apenas saudade. Minha mãe sempre soube lidar com isso e desmistificamos a morte”, completa.
“A morte não tem que ser triste, é apenas um processo. Vivi bem essa fase quando meu avô morreu, pois no momento estava com ele. Essa vivência me mostrou que não tem fim e que as memórias boas continuam. Quando a chamo, ela agora vem em sonho”, comenta a neta.
Elas tinham uma relação próxima de amor e companheirismo. Renata cresceu na casa da Anaisa, onde se reunia com os irmãos e primos para brincar com a avó. “Brincávamos de cabeleireiro, casinha e até futebol. Depois que todos cresceram, casaram, trabalharam e isso fez com que diminuísse as visitas, mas sempre ligávamos pra ela”.
Mesmo quando se mudou para uma chácara, Renata não deixou de entrar em contato com Anaisa, e as duas usavam o WhatsApp para conversar e matar a saudade. “Depois voltei para cidade passei a visitá-la a cada 15 dias e levar minha filha para brincar com ela. Era uma alegria, sempre feliz”.
No velório, quem chegou cabisbaixo, chorando de tristeza com a partida, saiu feliz. “Foi bonito, eu sorri e logo todos sorriram. Tiveram momentos tristes, mas a alegria contagiou porque minha avó sempre feliz. Ela deixou a alegria, a espiritualidade e a fé de uma pessoa abençoada”, diz.
Renata usou a conta do Instagram e dez uma postagem de despedida para a avó. Na publicação está a foto de Anaisa sentada e sorrindo. Na descrição da imagem está a legenda “Hoje vai ter festa! Nossa luz, nossa pretinha, a alegria em pessoa vai chegar, já está tudo pronto...Hoje vai ter festa pra receber a linda mulher curandeira! Vai serena e cheirosa! Amada!”, declarou a neta.