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Comportamento

Alunos reagem à homofobia com cartazes "fortes" e sala acaba incendiada na UFMS

Aline Araújo | 24/10/2014 06:19
Os livros eram doações para uma biblioteca. (Foto: Marcelo Calazans)
Os livros eram doações para uma biblioteca. (Foto: Marcelo Calazans)

“Beijo homem. Beijo mulher. Tenho direito de beijar quem eu quiser”. “Jesus ama sapatão”. “Tire o seu ódio do caminho, tô passando com o meu amor”. “O afeto te afeta?” As frases estão espalhadas pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), junto de outras bem mais "diretas". A ideia foi do Diretório Central dos Estudantes, em resposta à perseguição contra uma acadêmica transexual.

A aluna do curso de Letras foi hostilizada e perseguida por alguns estudantes, a ponto de ter de sair escoltada do Restaurante Universitário, por medo de sofrer agressão física.

“Ela chegou aqui no DCE e contou que estava sendo perseguida e ameaçada e queria saber o que fazer. Ela, então, decidiu tirar uma foto das pessoas que estavam fazendo chacota e quando ela levantou o celular, eles a ameaçaram e ela teve que sair escoltada pelos seguranças do RU”, explica Larissa Melo, de 22 anos, coordenadora do DCE.

Os dizeres foram tirados de frases já utilizadas pelo movimento LGBT. (Foto: Marcelo Calazans)
Os dizeres foram tirados de frases já utilizadas pelo movimento LGBT. (Foto: Marcelo Calazans)
Alguns dados sobre a homofobia no Brasil também foram divulgados. (Foto: Marcelo Calazans)
Alguns dados sobre a homofobia no Brasil também foram divulgados. (Foto: Marcelo Calazans)

O Diretório resolveu colocar em prática uma campanha contra a homofobia. Distribuiu os cartazes pelos corredores e organizou um debate para discutir preconceito.

O evento, com apoio de alguns diretórios acadêmicos e professores, foi divulgado pelo Facebook na sexta-feira passada e marcado para esta semana. Porém, no sábado, o local escolhido para o debate foi quase destruído pelo fogo, segundo a perícia, em incêndio criminoso.

“Eles juntaram todos os livros didáticos que nós recebemos para nossa biblioteca e colocaram fogo na sala. A perícia já veio e confirmou que é criminoso. Essa sala é para os alunos usarem, tanto, que nas paredes tem até coisas que a gente não concorda, porque cada um tem a liberdade de usar como quiser, é um espaço nosso e quase foi destruido”, conta Larissa.

Alunos chegaram a tempo para conter o fogo, antes que se alastrasse por outras salas. Mesmo assim, a cena assusta, principalmente, pelo suposto motivo do fogo. Os cacos de vidro no chão, a pilha de livros em cinzas e as paredes chamuscadas aumentaram a indignação.

Cauê Lima, de 25 anos, acadêmico de Psicologia, e também membro do DCE, explica que as frases nos cartazes já são conhecidas do movimento LGBT e que depois de expostas algumas pessoas escreveram ameaças nas paredes como resposta.

Além das frases, alguns dados de pesquisas também foram divulgados, como o fato de cada 28 horas um homossexual morrer no Brasil e em 2013, mais de 312 pessoas terem sido mortas por motivos homofóbicos.

Cauê e Larissa são do DCE e participaram do debate hoje. (Foto: Marcelo Calazans)
Cauê e Larissa são do DCE e participaram do debate hoje. (Foto: Marcelo Calazans)

“Os cartazes não ofendem ninguém. Já quem faz piadinhas homofóbicas pensa que não tá falando nada de mais, mas quem recebe pode ter um dano muito maior, um trauma, de anos, que a pessoa trabalha para desmarginalizar. Um comentário pode jogar tudo por água abaixo”, diz.

No meio do que parece ser caso de polícia, há quem passe pelos corredores e aumente a polêmica. Henrique, que preferiu não informar o sobrenome, chegou a enviar mensagem ao Lado B reclamando do teor dos cartazes. Ele entrou na universidade apenas para ir ao banco e ficou chocado com os dizeres, principalmente, com os que citam palavras que se referem a órgãos genitais. Um dos versos que ele mais reclama é "Eu chupo p..., eu chupo b..., se for para o inferno vou chupar o capeta."

Para Henrique, o protesto é totalmente depreciativo. "Eu fiquei com vergonha. Fiquei horrorizado é pornografia. Eu tenho certeza que isso é ofensivo. Palavras de baixo calão. É abuso. Liberdade tem que ter limite, senão vira uma anarquia. Não tem aluno que vai me convencer, é uma falta de respeito com a família. Estou indignado”, afirma.

O acadêmico de arquitetura Igor Cabreira, de 19 anos, defende o direito de cada um se expressar como quiser. “Você está na faculdade, aqui é um local de adquirir conhecimento e o saber faz a gente superar os preconceitos. Se as pessoas não sabem conviver com a diferença, elas estão no lugar errado”, defende.

O debate sobre homofobia ainda vai acontecer, na tarde hoje. Alunos e professores pretendem se reunir na sala multimídia do CCHS (Centro de Ciências Humanas e Sociais), às 16 horas, para discutir o assunto.

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