Antes da Lei Áurea, Corumbá já tinha sociedade para abolir escravidão
Proposta na então Vila de Santa Cruz de Corumbá era libertar os escravos independente da ação do governo
![Registro histórico do Forte Coimbra na época em que discussões sobre abolição ocorriam. (Foto: Arquivo/The American Museum Journal):](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2024/03/27/3222ys23xsys4.jpg)
Durante sua formação, Corumbá integra o cenário brasileiro com a exploração de escravos como ferramenta de colonização. Em celebração ao aniversário Comarca de Corumbá, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) incluiu no livro “Corumbá 150 Anos - Rastros da História” particularidades da cidade e, entre os destaques, está a Sociedade Abolicionista Corumbaense.
De acordo com a publicação, o movimento começou em 1884, quatro anos antes da publicação da Lei Áurea. Nesse ano, a sociedade tomou como base a Junta de Emancipação com o Fundo de Emancipação (uma contribuição que o governo imperial atribuiu aos municípios e províncias para indenizar os ‘senhores’ devido à libertação dos escravos).
Para conseguir seguir o processo, era necessário angariar fundos e, por isso, a sociedade desenvolveu a organização de conferências, quermesses, feiras, bazares, recitais e atividades típicas. Tudo isso também ocorria em outros locais do território nacional com o mesmo intuito.
“O movimento ganhou a adesão de senhoras uruguaias que enviaram ‘prendas’ para a campanha abolicionista”, descreve a publicação do TJMS.
Sobre a instalação real do grupo abolicionista, a historiadora Eunice Ajala Rocha relata que o evento foi realizado “num clima de entusiasmo e euforia, entre vivas e aplausos. Nela se manifestou a ação espontânea de dois dos seus organizadores, que libertaram seus únicos escravos em homenagem à sua fundação”.
Ainda conforme a historiadora, quem presidiu a cerimônia foi o juiz de direito da comarca, José Joaquim Ramos, convidado pela comissão organizadora.
No evento, o primeiro presidente eleito foi o coronel Arthur José da Costa. Além da sociedade, outras pessoas também se uniram e ofereceram seus serviços pela causa, além de integrantes do Exército e da Marinha.
Conforme os eventos se realizavam, o apoio às ideias abolicionistas seguiam aumentando e, conseguindo cartas de liberdade, outros escravos passavam a pedir valores para também conseguirem seus direitos.
Em seu estatuto, o principal objetivo era “a libertação do maior número possível de cativos dna vila” e eram processadas após o Poder Judiciário avaliá-las e os pagamentos serem feitos.
Durante seu primeiro ano, a sociedade realizou diversos eventos, mas o ritmo diminuiu até que não houve registro de atividades por quase quatro anos, conforme descreve o livro do Tribunal de Justiça.
Foi em 1888 que o único integrante que havia restado da formação original se reuniu com outros dois membros da sociedade para discutir sobre a Lei Áurea.
Ao entender que o grupo já havia cumprido sua missão, o grupo entregou o estatuto e fez uma prestação de contas à sociedade. Segundo os documentos históricos, seis escravos foram alforriados a partir dos eventos e doações recebidas pela Sociedade Abolicionista.
“O encerramento das atividades culminaram com os festejos da Abolição. Por ocasião do encerramento, a Sociedade possuía em seus cofres a importância de duzentos e trinta e oito mil e oitocentos e quarenta réis. Parte dessa importância foi utilizada com a aquisição de materiais destinados aos festejos”, relata a publicação.
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