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Comportamento

Após 61 anos, Josefina voltou a abraçar cada um dos seus 5 filhos

A sergipana nunca mais voltou para sua terra natal, onde deixou os filhos; em reencontros emocionantes, só faltava o mais velho

Raul Delvizio | 14/12/2020 06:47
Carinho e afeto não falta entre Josefina e o filho José (Foto: Paulo Francis)
Carinho e afeto não falta entre Josefina e o filho José (Foto: Paulo Francis)

Foi sentindo o bater do coração num abraço apertado – entre lágrimas de felicidade – que Josefina Pereira de Jesus, de 88 anos, e seu filho mais velho José Evangelista Santana, de 70, tiveram o reencontro após 60 anos de espera, traçado com muita esperança para que esse dia finalmente chegasse. A matriarca ficou separada dele e de outros quatro durante 6 décadas e 1 ano, uma incerteza que como mãe ela diz "que não deseja para ninguém".

Ficava imaginando que não tinha mais nenhum vivo. Era uma dúvida de tantos anos que me corroía por dentro. Que ninguém passe pelo que eu passei".

Nordestina chora ao falar sobre a dor de se separar dos filhos (Foto: Paulo Francis)
Nordestina chora ao falar sobre a dor de se separar dos filhos (Foto: Paulo Francis)

"Mas tudo isso está gravado pelas mãos de Deus. É uma surpresa muito grande o que me tem acontecido, uma riqueza sem igual", agradece Josefina.

Do ano passado para cá, ela tem reencontrado "a conta-gotas" cada um dos 5 filhos que deixou em Itabaiana, município da região do agreste de Sergipe, a menos de 50 km de distância da capital Aracaju. Antes de José, seus irmãos Valdomiro, Maria, Osvaldo e Luzinete já haviam redescoberto como era sentir depois de tantos anos o calor do amor da mãe.

Sorriso no rosto de Josefina comprova: coração de mãe voltou a bater (Foto: Paulo Francis)
Sorriso no rosto de Josefina comprova: coração de mãe voltou a bater (Foto: Paulo Francis)

"Vixe, fico até sem palavras sobre rever minha 'veinha'. Simplesmente está sendo a melhor coisa do mundo. Eu sempre rezava em reencontrá-la, não a via desde os meus 9 anos de idade. São essas coisas de Deus, tivemos que esperar tudo isso de tempo para poder tocar um na mão um do outro, curtir um abraço", afirma José.

Quando Josefina partiu de Sergipe, largou do ex-marido, se despediu dos filhos e foi correr o Brasil com o verdadeiro amor de sua vida, Seu Ailton, com quem até ano passado foi casada antes de enviuvar. Por muitos anos viveram juntos no norte de Mato Grosso, antes de assentarem casa no recém-criado Estado de MS. Nesse meio tempo, ela e o falecido tiveram outros 7 filhos, sem que ela nunca se esquecesse daqueles que havia deixado em Itabaiana.

No toque das mãos, o calor no coração (Foto: Paulo Francis)
No toque das mãos, o calor no coração (Foto: Paulo Francis)
A frase está presa na parede desde o dia em que José chegou à Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
A frase está presa na parede desde o dia em que José chegou à Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

A família sul-mato-grossense sempre soube desse lado triste da vida da mulher, dessa angústia que a matriarca carregava no peito. Foi graças ao esforço da neta Cleidiane que, recentemente, teve o reencontro gradual com os filhos, após investigações pela internet e telefone.

"Não podemos negar que rememorar o passado, tanto pra mim quanto pra ela, é algo bastante doloroso, porque – vou dizer por mim – eu me lembro de tudo. Mas a gente não pode ficar lamentando a vida, que é feita de altos e baixos mesmo. Tem que só agradecer à Deus pela oportunidade", considera José.

A angústia de não saber sobre os 5 filhos corroía a matriarca (Foto: Paulo Francis)
A angústia de não saber sobre os 5 filhos corroía a matriarca (Foto: Paulo Francis)
José acredita que tudo faz parte da vida, e que Deus colocou os dois juntos novamente (Foto: Paulo Francis)
José acredita que tudo faz parte da vida, e que Deus colocou os dois juntos novamente (Foto: Paulo Francis)

"Não desejo esse sofrimento para ninguém. É uma tristeza tanto para mãe quanto para os filhos. Mas basta termos fé e esperança que tudo se resolve", acredita Josefina.

Para o filho, não há mágoas na descrição dessa história. Por mais que 60 anos separavam os dois, não se trata de "renúncia" ou muito menos "abandono" por parte da mãe. "São apenas coisas da vida. É difícil realmente viver na casa de um, depois de outro, sem a presença da 'mãinha'. Mas de alguma forma ela estava lá presente, na oração, e assim nos deixou encaminhado. Porque eu mesmo, vou dizer, sou analfabeto, sem berço de ouro, e me transformei em alguém do qual me orgulho, que faço questão de mostrar a minha pessoa pra ela", admite o filho.

"Rezava sempre à Deus para que meus filhos estivessem vivos" (Foto: Paulo Francis)
"Rezava sempre à Deus para que meus filhos estivessem vivos" (Foto: Paulo Francis)

Despedida – "Vixe Maria, já estou com saudades", fala José sobre a volta para casa marcada nesta terça-feira (15). Em Campo Grande, ele permaneceu por pouco mais de duas semanas. Ele confessa que agora vai ficar "entre a cruz e a espada", mas que com certeza vai tornar a voltar aqui de novo e de novo e de novo. "Até chorar eu já choro", se emociona.

"Não é porque minha mãe mora aqui, mas realmente MS é um bom lugar para se viver. Mesmo a gente até então ser 'desconhecido' um do outro, aqui é um canto de gente maravilhosa", acrescenta.

Com o reencontro, mãe e filho já combinam a próxima visita (Foto: Paulo Francis)
Com o reencontro, mãe e filho já combinam a próxima visita (Foto: Paulo Francis)

Mesmo com a proximidade da despedida, Josefina se diz tranquila. A marca no peito agora dá lugar aos carinhos de mãe e filho. Após a convivência ininterrupta com José na casa onde ela mora no bairro Paulo Coelho Machado, o "até logo" vai ser recheado de boas memórias. A próxima visita está marcada já para o ano que vem.

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Josefina agora sim tem motivos para sorrir de orelha a orelha (Foto: Paulo Francis)
Josefina agora sim tem motivos para sorrir de orelha a orelha (Foto: Paulo Francis)
Filha de José, a neta Claudinete também só conheceu agora a avó (Foto: Paulo Francis)
Filha de José, a neta Claudinete também só conheceu agora a avó (Foto: Paulo Francis)
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