Após 73 anos fora da sala de aula, felicidade de Antônio é tirar CNH
Apesar de duas reprovações e sentir vontade de desistir, família não deixou Antônio abandonar o sonho
Dos 79 anos de vida, Antônio Bezerra da Silva, morador de Dourados, não pisava numa “sala de aula” há 73. Foi no ano passado que ele decidiu encarar os estudos e realizar um de seus sonhos, ter a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Foram duas reprovações e uma vontade de desistir, mas a família o apoiou e fez seu Antônio finalmente sair do Detran com a carteira em mãos.
Antônio estudou apenas até a segunda série do Ensino Fundamental e passou anos da sua vida dirigindo sem carteira. No início do ano passado, ele então decidiu tirar a habilitação.
Em entrevista no quintal de casa, acompanhado da esposa, Gercelina Senna da Silva, de 74 anos, e rodeado pela família, ele contou que se tornou “popular” junto ao CFC (Centro de Formação de Condutores) que o atendeu na cidade por conta da persistência após mais de sete décadas de vida.
“Eu já dirigia, minha filha. Aprendi sozinho! Já puxei muita tora com aqueles caminhões velhos, sabe?”, contou o recém habilitado à assessoria de imprensa do Detran.
Dos anos de trabalho em fazenda, ele lembra que “naquela época”, as coisas eram “muito diferentes", mas se inspirou no ditado “antes tarde do que nunca” para realizar o seu sonho. “Pensei: eu tenho carro, vou dar um jeito de tirar essa habilitação, mesmo que eu sofra um pouco mais”.
O processo foi longo e cheio de desafios. Apesar da saúde física e mental em dia, voltar para sala de aula foi o mais desafiador. Antônio reprovou duas vezes antes de passar. “A gente tem que ‘moringar’ muito. Na segunda vez, quando me falaram que eu tinha reprovado de novo, deu vontade de desistir, fiquei até nervoso”, reclamou. “Mas depois voltei atrás e falei que iria até o fim. Acho que Deus me ajudou”.
Nas aulas práticas, ele se sentiu “o mestre da baliza”. “Dois, três minutos”, revela ao lembrar do tempo que gastava para passar. Mas se deu mal no percurso por duas vezes. A primeira prova, esqueceu do cinto e acabou reprovado. Na segunda, não deu seta para virar. Apenas na terceira avaliação de percurso é que ele não esqueceu nada e foi aprovado. “Passei em primeiro lugar. Todo mundo ficou tão feliz que quis tirar até foto comigo lá na autoescola”.
O recém habilitado atribuiu a conquista à família. “Foi muito importante para essa conquista”. A esposa contou que ele chegava em casa nervoso, mas não desistia. “Eu tinha medo era que ele tivesse um treco no coração. Fazia até chazinho pra ele se acalmar”, lembrou orgulhosa.
Após entrevista, Antônio fez questão de posar ao lado do guerreiro, seu Gol Branco de 1993. “Andei fazendo uns reparos e tá tudo certinho aqui. Dirijo sempre com cuidado e nunca me envolvi em acidente. O pior tipo de motorista é aquele desatento e sem consciência, mas eu não sou assim”, concluiu.
Com informações da jornalista Vivianne Nunes.
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