Após largar as drogas e perder 3 bebês, Jaqueline sonha ser mãe
Ao lado do marido, ela recomeçou a vida longe das drogas e agora sonha em formar família por meio da inseminação artificial
Quando a equipe do Lado B chegou à residência de Jaqueline Dorneles de Souza, 33 anos, e seu marido Jeferson de Campos Reis, 26, lá no Jardim Centro Oeste, imediatamente fomos recebidos na tranquilidade de uma oração. Mesmo confidenciando coisas tão amargas, ainda sim ela encontra motivos para sorrir. Com a bíblia sempre ao lado e o esposo do outro, a fé que lhe ajudou a largar o vício nas drogas ainda é a mesma que, algum dia, há de realizar seu maior sonho: o de ser mãe.
Deus não nos castiga. Assim como me foi concedida vida nova, acredito que logo logo ainda vai acontecer de nascer uma sementinha em mim", confia.
Na jornada de formar uma família ao lado de Jeferson, Jaqueline engravidou e perdeu 3 vezes seguidas. Duas foram gestações ectópicas, quando o óvulo fertilizado se desenvolve fora do útero – mas a 1ª delas foi a mais grave. Aos 30 anos de idade, viu morrer a ideia de ser "mamãe de primeira viagem" e ainda teve que retirar a trompa direita.
"O ano foi 2018. Tinha pouco mais de 3 meses de gravidez quando descobriram o risco que se tratava. Se eu não tivesse feito a cirurgia de cesárea naquela época, eu ia morrer de hemorragia em pouco tempo. Eu estava tão em choque, tão desesperada por dentro, que me deram logo uma anestesia geral. Só fui acordar no quarto, já toda cortada e sem o filho nos braços. Só queria fugir", relembra.
"Ela ficava deitada em casa, sem ânimo pra nada. Chorava baixinho. Isso durou uns bons 4 meses. Eu e sua família ficamos aflitos e com medo de ela não sair mais dessa depressão. Nessas horas, cabe ao homem ser mais 'forte' até porque não somos nós que sofremos com o processo físico da gravidez e o desgaste emocional de uma perda. Ficava junto o máximo que eu conseguia, mostrando que estava a pensar nela", revela Jeferson.
Passados alguns meses, Jaqueline engravidou pela 2ª vez e também não decolou – abortou espontaneamente. Já em agosto do ano passado, veio a 3ª gravidez, mais uma ectópica, desta vez na trompa esquerda, a única que lhe havia sobrado.
"Mesmo eu estando 'calejada' e crente na fé em Deus, eu fiquei bastante abalada na última. Tive um sangramento pesado em casa e fui correndo para o hospital. Aconteceu tudo de novo, mas sem que houvesse a necessidade de retirada da trompa, o que foi um alívio. Quando recebi alta, pedi para minha cunhada guardar tudo que era presentinho e lembrancinha de bebê em sua casa, porque eu não queria ver nada", recordou.
Jaqueline e Jeferson sempre mantiveram um diálogo aberto e franco sobre o que experimentaram enquanto casal, dessa ida e vinda de se tornarem pais. A fé que os dois dividem – de que um dia tudo ainda há de dar certo – caminha ao lado do amor e respeito que nutrem um pelo outro.
Vício – A história dessa evangélica fervorosa no meio das drogas começou lá pelo ano de 2010 quando, segundo ela, "ainda não tinha Jesus no coração". Caiu no vício da cocaína em Ponta Porã para na sequência ir direto pro crack na sua cidade natal, Sidrolândia. "Vivia com medo, passei semanas fora de casa, fui presa por furto… enfim, só coisa de louco, porque gente sã não sobrevive a tanto fantasma interior assim", considera.
Uma menina que rodava comigo foi morta a pauladas por uma dívida de R$ 10 em pedra. Podia ter sido comigo".
"Meu irmão rodava nas 'biqueiras' à minha procura se arriscando e tudo. Eu lembro como se fosse ontem. Me sentia envergonhada, com um medo terrível, culpada por fazer minha família viver aquilo por causa da filha aqui", afirma.
Mas Jaqueline ganhou uma 2ª chance, quando passou pela reabilitação no ano de 2015 na Clínica da Alma aqui na Capital. Hoje, faz questão de revelar esse seu passado para mostrar que é possível abandonar o vício. "Não é preciso dizer que foi difícil. Não sou melhor ou pior do que ninguém, então digo com absoluta certeza: basta realmente querer. Não carrego mais o sentimento de vergonha, apenas se eu ainda vivesse dessa forma. Sempre há esperança, então é preciso acreditar", reitera.
Recuperada, foi nessa época em que conheceu Jeferson, revelando ter encontrado de fato seu "maior companheiro". Dramas pessoais no passado, buscam agora o futuro pela frente de ainda sim serem papai e mamãe de sua própria prole. E quem sabe a inseminação artificial possa ser o caminho.
"Enquanto eu for jovem vamos tentar ter o nosso próprio filho. Mesmo eu engravidando e parindo um bebê bem saudável e feliz, ainda sim queremos adotar uma criança também – isso é uma certeza. Mas, se depender dos genes do pai, é provável que venha aí uma duplinha de gêmeos. É o que mais corre na família dele! Então pelo menos 3 filhos já estão garantidos", brinca Jaqueline.
Próximo passo – A orientação de inseminação veio da própria médica que a atendeu pelo SUS (Sistema Único de Saúde) nas últimas ocorrências. Mesmo que ela ainda tenha uma única trompa, o risco de desenvolver uma nova gravidez ectópica é muito alta. Aqui em Mato Grosso do Sul, o SUS não auxilia casos como o de Jaqueline – ou seja, de mulheres "tentantes" –, apenas disponibiliza certos exames e acompanhamento médico. Por isso, para acontecer tem que ser pela via privada.
Na internet, o casal até fez uma vaquinha inicial para adquirir os R$ 35 mil para o procedimento. Porém, foi numa boa e velha feijoada comunitária que a coisa tomou forma – e até contou com um ajudinha extra.
"Uma mulher de São Gabriel do Oeste ficou tão sensibilizada que resolveu simplesmente dar R$ 600 para que eu fizesse um dos exames necessários. Achei que ela quisesse o valor em convites, mas na realidade ela só queria me presentear. Fiquei tão emocionada, chorei, só agradecia", diz.
Fora o dinheiro arrecadado, Jaqueline e Jeferson tiveram a surpresa da própria médica de que, especialmente para eles, ela atenderia o caso no seu consultório particular. Pediu apenas para que conseguissem outras duas mulheres como "moeda de troca" – uma das cunhadas e uma pastora da congregação – que também doassem óvulos.
"Fizemos questão de pagar todos os exames necessários para elas duas, além do meu. Então ainda sim temos custos a arcar para realizar esse sonho. Seguimos com o coração tranquilo, firmes e fortes no nosso intuito", ressaltam. O que Jeferson mais deseja é ser pai de uma "princesinha". Já para Jaqueline, "o que vier está bom".
"Não vou questionar a vontade divina. Assim como Jac quer ser mãe, tenho muita vontade de ser paizão. Queremos muito, mas também temos sabedoria e paciência de que tudo deve seguir seu próprio tempo. O que Deus enviar pra gente, nossa, vai ser a maior bênção que algum dia já recebemos", finaliza Jeferson.
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