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Comportamento

Até ir ao salão de beleza pode ser complicado para quem não enxerga

Mulheres levam dicas à salão de beleza sobre como atender de forma respeitosa clientes com deficiência visual

Thailla Torres | 09/12/2020 06:10
Mulheres com deficiência visual levaram informação aos profissionais de um salão de beleza (Foto: Kísie Ainoã)
Mulheres com deficiência visual levaram informação aos profissionais de um salão de beleza (Foto: Kísie Ainoã)

Quem é cego ou baixa visão, desde que nasceu ou por outra circunstância, além de lidar com todas as dificuldades que a deficiência apresenta, ainda precisa lutar para viver momentos de prazer no dia a dia. Desta vez, não estamos falando de acessibilidade nas ruas ou nos estabelecimentos. A forma como salões de beleza lida principalmente com as mulheres com deficiência visual está entre os principais problemas.

Essa discussão apareceu na tarde terça-feira (8) durante encontro das mulheres da Associação dos Deficientes Visuais de Mato Grosso do Sul (ADVIMS) no salão de beleza do Chácara Cachoeira, Studio Sandra. A mulherada foi até o estabelecimento ensinar cabeleireiros e manicures sobre como abordar e atender corretamente mulheres com deficiência.

Foram algumas horas de conversa e histórias sobre o que pessoas cegas ou baixa visão enfrentam, principalmente na hora de cuidar do corpo e da autoestima.

Eneir citou os desafios que as mulheres enfrentam no dia a dia (Foto: Kísie Ainoã)
Eneir citou os desafios que as mulheres enfrentam no dia a dia (Foto: Kísie Ainoã)

Se a vontade é fazer um corte novo ou pintar as unhas com um esmalte da moda, isso pode ser bem complicado quando a comunicação não começa da forma correta. “Muitas vezes, os atendentes nem se dirigem a nós. Acham que porque somos pessoas com deficiência visual não escutamos e acabam sempre falando com o acompanhante, sem ao menos perguntar as nossas vontades sobre o serviço”, explica a assistente social Eneir Souza Soares, de 49 anos.

Cega desde o nascimento, Eneir já passou muitas situações desagradáveis, algumas que até desanimam a ida ao cabeleireiro. “As pessoas fazem comentários que não são necessário e muitas vezes pensam que, porque não enxergarmos, não temos a necessidade de nos cuidarmos. Mas é preciso entender que também nos preocupamos com a nossa autoestima, com os nossos cuidados com a beleza”, diz.

A estudante Taiza Santos da Silva, de 40 anos, perdeu a visão há três anos por causa de um glaucoma. Vaidosa, ela tem pessoas muito próximas que oferecem serviços como cabeleireiro e manicure, por isso, não passa perrengue quando sente vontade de renovar a tintura do cabelo ou ficar com as unhas esmaltadas no dia a dia, mas defende o diálogo com estabelecimentos que ainda patinam nas políticas de inclusão.

“Dicas simples como perguntar diretamente à pessoa com deficiência visual o que ela quer ou o que ela imagina que possa ficar bacana, sugerir algumas cores de esmalte e descrever algumas opções e também cumprimentá-la como qualquer outra pessoa é importante”, sugere Taiza.

Dicas de como recepcionar e falar sobre os serviços foram dadas pelas mulheres da associação (Foto: Kísie Ainoã)
Dicas de como recepcionar e falar sobre os serviços foram dadas pelas mulheres da associação (Foto: Kísie Ainoã)

A massoterapeuta Mônica Luz, de 54 anos, que é baixa visão, também falou dos desafios enfrentados, uma vez que, por enxergar com extrema dificuldade, já ouviu de pessoas na rua e até atendentes que é “mentirosa”. “Infelizmente há um preconceito também com as pessoas de baixa visão. Isso porque alguns não acreditam que somos pessoas com deficiência, falam até que estamos mentindo. Então eu luto por respeito, porque também temos nossas limitações”.

Para a advogada Jerusa Ferreira, que está à frente do departamento de empoderamento feminino da ADVIMS, a ação é mais do que importante. “Estamos desenvolvendo diversas ações ligadas ao empoderamento dessas mulheres e inclusão das pessoas com deficiência visual. São mulheres que são mães, profissionais, amigas, pessoas que se preocupam também com a sua imagem e merecem respeito, merecem inclusão”, destaca.

Sandra, proprietária do salão de beleza, fala da importância da iniciativa. (Foto: Kísie Ainoã)
Sandra, proprietária do salão de beleza, fala da importância da iniciativa. (Foto: Kísie Ainoã)

Proprietária do salão de beleza que abriu as portas para as mulheres darem dicas, Sandra Bezerra, defendeu a iniciativa. “Quando me falaram eu fiquei muito feliz. Sinto que, muitas vezes, as pessoas realmente não sabem como lidar e isso pode ser transformado com informação, com uma conversa aberta. Aqui não queremos ter receio de atender ninguém, queremos atender da forma correta, por isso, acho muito importante que a iniciativa chegue a outros salões”.

O bate papo desta terça-feira faz parte da séria de ações pelo Dia Nacional do Cego, que é celebrado no próximo domingo, 13 de dezembro. Além disso, as mulheres produziram uma série de vídeos sobre como abordar as pessoas deficiência corretamente.

Os vídeos serão disponibilizados no fim de semana na página da associação no Instagram.

Abaixo, confira algumas dicas para atender corretamente as pessoas com deficiência visual:


Ao encontrar uma pessoa com deficiência visual:

  • Identifique-se;
  • Antes de se afastar, avise sua ausência;
  • Quando apresentar uma pessoa com deficiência visual, posicione-a em frente ao locutor.

Quando receber uma pessoa com deficiência visual em um local que não lhe é habitual:

  • Descreva com riqueza de detalhes os ambientes.

Ao abrir a porta de um veículo para pessoa com deficiência visual:

  • Posicione a mão dela na porta para que ela se localize e evite acidentes.

Ao notar algo diferente no vestuário de uma pessoa com deficiência visual:

  • Avise-a com delicadeza.

Lembre-se: a pessoa com deficiência visual tem a audição bastante aguçada, por isso evite:

  • Comentários desagradáveis;
    Passar por ela e não cumprimentar.

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Atender corretamente as pessoas com deficiência visual é uma questão de humanidade (Foto: Kísie Ainoã)
Atender corretamente as pessoas com deficiência visual é uma questão de humanidade (Foto: Kísie Ainoã)
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