Aviso no tronco mostra cuidado com árvore plantada de presente há 40 anos
“A árvore não é minha, mas fui eu que plantei. Ninguém tem direito de cortar ou machucar”, repete Jair Soares, aos 81 anos, enquanto não arreda o pé do lado da Sibipiruna que cuida como filha e aproveita a sombra como um presente. É tanto zelo, que o tronco recebeu recado especial há 15 anos e chama atenção de quem passa na Rua Salim Maluf, na Vila Bandeirante.
A árvore plantada em 1975 hoje é vistosa. Traz sombra e frescor para a calçada de Jair e ali ele fica todos os dias, enquanto acompanha a obra de uma sala na frente de casa, espaço para vender caldo de cana, após tantos anos trabalhando como barbeiro.
São vários os motivos de tanto apego. A muda foi plantada no aniversário de 40 anos, um presente dele mesmo à rua, pela felicidade da família. “Sou um homem muito feliz e sou um vencedor. E eu vim nessa vida para fazer o bem. Decidi plantar essa árvore porque sempre acreditei que é necessário plantar boas sementes para colher as frutas e a sombra”, justifica.
Ele jura que não se importa em dividir a sombra, mas fica aborrecido com o "atrevimento" de quem mexe com ela. Por isso deixou um aviso no tronco, seguido de uma mensagem de fé. “Esta árvore foi plantada por mim em 12/11/1975. Nem por isso ela é minha! Paz e Deus, sem ela, sem Deus. Reflita. Jair Soares”, exibe o recado.
“Deixei o recado porque fui eu que plantei e ela é de todos, só que uma vez o vizinho cortou escondido dois galhos e ninguém tem esse direito. E eu fiquei triste com isso, aborrecido, foi uma ferida que fez na árvore”, reclama.
Depois disso, Jair ficou mais vigilante. Enquanto a garaparia não fica pronta, ele aproveita as horas de prontidão, sentado numa cadeira de praia.
“Meus filhos foi eu quem fiz, hoje estão seguindo a vida. Com ela é a mesma coisa, enquanto eu estiver vivo, vai ficar em pé. Ninguém derruba”, afirma.
Nascido em São Paulo, ele chegou a Campo Grande aos 18 anos para servir ao Exército. Aqui se apaixonou e decidiu abraçar de vez a cidade que ele tem orgulho.
Casado há 56 anos, com 6 filhos e 10 netos, ele diz que tem muito a celebrar e cultivar. “Eu não conheci meu pai, ele morreu quando eu tinha 40 dias. Mas imagino que ele tenha me pegado nos braços, me abraçado e tido tanto amor quanto a minha mãe teve enquanto viveu. Quando ele morreu, deixou 9 filhos e toda vez que olho para essa árvore lembro da minha mãe, que lutou muito pela gente”, diz.
A saudade da mãe, o amor pela família e o encanto pela natureza fez do homem simples, de sorriso contagiante, um poeta.
Bendito seja o dia em que eu nasci,
e a mãe que me deu a luz
Bendito seja o dia em que eu nasci,
e o pai que me apertou nos braços e me chamou de filho
Bendito sejam os dias que já percorri,
e o dia de amanhã que somente pela misericórdia
e as graças de Deus ele irá me conceder
Bendito o sangue que corre em minhas veias,
e me faz pulsar pelo amor...