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Comportamento

Azulejos na fachada guardam últimos sinais da antiga Feirona

Enquanto casas foram vendidas ou reformadas, família mantém fachada como se amanhã a feira voltasse

Aletheya Alves | 02/05/2022 06:40
Casa na Rua Abrão Júlio Rahe mantém fachada da época em que Feirona era ali. (Foto: Aletheya Alves)
Casa na Rua Abrão Júlio Rahe mantém fachada da época em que Feirona era ali. (Foto: Aletheya Alves)

Na Rua Abrão Júlio Rahe, apenas uma família segue preservando os sinais da antiga Feirona, que ocupou aquelas calçadas entre 1964 e 2004 na Capital. Sem alterar a fachada, a casa segue com os mesmos portões e, principalmente, com os tradicionais azulejos que se transformavam nas paredes dos “restaurantes”.

Autônoma, Márcia Sakugawa, de 46 anos, cresceu entre as estruturas da antiga Feira Central e chegou a trabalhar em uma das barracas de sobá. Hoje, ela conta que é a única moradora que restou das famílias que constituíam a feira na rua e continua vivendo na casa usada por anos como um dos pontos.

Márcia Sakugawa, de 46 anos, cresceu entre as barracas. (Foto: Aletheya Alves)
Márcia Sakugawa, de 46 anos, cresceu entre as barracas. (Foto: Aletheya Alves)

Sem condições de manter o ritmo de montagem das estruturas e produção dos alimentos, Márcia narra que sua família alugava o ponto da casa e trabalhava em outras barracas.

“Como era tudo exposto na rua, as barracas ficam aqui na frente. Minha mãe alugava para outras pessoas esse espaço, que é nosso, para venda de sobá. Isso porque era muito trabalhoso”, conta.

Especificamente sobre a fachada de azulejos, ela explica que várias casas da rua seguiam o mesmo padrão para facilitar a limpeza. Como os espaços eram usados pelas barracas, os muros se transformavam tanto em paredes de “cozinhas” como em áreas para alimentação.

Barracas ocupavam as ruas na área central de Campo Grande. (Foto: Arquivo pessoal/Eloiza Lopes)
Barracas ocupavam as ruas na área central de Campo Grande. (Foto: Arquivo pessoal/Eloiza Lopes)

De acordo com a moradora, o muro de sua casa era usado como fundo de uma das barracas, enquanto a cozinha era montada para o lado de dentro dos portões. Mesmo assim, os azulejos eram essenciais para garantir que tudo seguiria limpo.

Relembrando da rotina, Márcia diz que os preparativos para os dias de trabalho começavam logo cedo, por volta das 4h. “Aqui do lado, onde hoje é a faculdade, era um terreno em que os feirantes guardavam as estruturas de caibro e lona. Na época, a feira ocupava os dois lados da rua e tudo tinha que ser montado”, detalha.

Toda a estrutura precisava ser montada nos dias de feira. (Foto: Arquivo pessoal/Eloiza Lopes)
Toda a estrutura precisava ser montada nos dias de feira. (Foto: Arquivo pessoal/Eloiza Lopes)

Depois que a feira foi transferida para a Rua 14 de Julho, a maior parte das famílias começaram a se desfazer das antigas casas, conforme Márcia explica. “O pessoal que morava aqui foi vendendo por dívida, porque os pais faleceram e por motivos assim. Então, acabou ficando só a minha casa.”

Por alguns anos, Márcia chegou a trabalhar na nova Feira Central, mas acabou decidindo se afastar e trabalhar por conta. Já sobre a casa, ela relata que a família também pensou em vender após perder os pais, mas os rumos que a vida tomou fizeram com que ela continuasse no mesmo endereço.

Sobre o desejo de continuar por ali, ela diz que já não se imagina saindo da casa em que cresceu. Assim, as memórias da antiga Feirona devem continuar existindo, pelo menos na previsão de hoje.

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