Bar fechado não impediu que amigos celebrassem "sobrevivência" à 2020
No ano da covid-19, grupo agradece a vida de uma maneira diferente; e olha que nem o boteco do ano passado sobreviveu ao "barco"
Em 2019, ex-alunos do Colégio Salesiano Dom Bosco se reuniram em maior clima de festa passados 40 anos sem se verem. Muito tempo antes, no ano de 1979, as diversas turmas da escola se encontravam sagradamente às 7 horas de segunda a sexta para o início das aulas matinais. Quem estudou lá já sabe: ritual era começar o dia ouvindo a oração do padre pelo alto-falante, momento de agradecer pela fé por mais uma manhã concedida. Neste ano pandêmico não vai ter novo reencontro, o vírus não permite aglomerações. O jeito, porém, foi mostrar gratidão de uma outra forma: pela "sobrevivência" à covid-19. E olha que nem o bar do ano passado sobreviveu a este barco.
"A ideia foi bolar uma camiseta brincando justamente com os nossos 41 anos de história, mas desta vez não é 'eu vivi isto tudo', é eu 'sobrevivi' mesmo – e o Parks não", diz Celso Kasumi Arakaki, o publicitário e designer gráfico de 59 anos responsável por bolar a estampa, referindo-se ao finado Park's Bar e Choperia (antigo Park's Burger), o tradicional boteco campo-grandense que fechou as portas em dezembro do ano passado.
"A gente resistiu e o Park's não. De maneira alguma criticar o bar, muito pelo contrário, era um excelente ambiente, gostávamos muito. Se pudéssemos este, seria no lá novamente com certeza", lamenta Celso.
Um mês antes de encerras as atividades, no dia 9 de novembro de 2019, cerca de 250 pessoas também fecharam o bar – desta vez com outro sentido: egressos do colégio salesiano fizeram o grande reencontro regada à feijoada em família. Cada ex-aluno trouxe parceiros de vida, filhos, netinhos… e o grupo foi crescendo.
"Foi super bacana, bem diferente de tudo que eu já vivi. Aquela sensação única de voltar no tempo. É rever pessoas, lembrar histórias, ver as transformações físicas e da evolução de cada um. Foi realmente muito gostoso", considera Gisela Luzia Fernandes, a engenheira de 58 anos.
Mas quem pertencia às turmas de 1979 do Dom Bosco? Fora Celso e Gisela, tem o governador do estado de MS, Reinaldo Azambuja; o ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta; secretário da pasta de saúde do Distrito Federal, Osnei Okumoto; senador da república, Nelsinho Trad; e até ex-deputada estadual, como Antonieta Amorim. Figuras conhecidas que também fizeram parte dessa história.
Tudo começou com Gildson, Soraya e Pedrinho. Os três montaram um grupo no WhatsApp e, sempre que adicionavam um, vinha logo outros dois. A lista de amigos foi crescendo, assim como as fotos compartilhadas, histórias lembradas, brincadeiras entre as "crianças". Só faltava marcar o "onde e quando" do encontro presencial.
"O Park's foi uma sugestão de Marcelo Marinho e na hora todo mundo foi topando. Justamente, o bar fez parte – de um forma ou de outra – da vida de todo mundo. Era aquele botecão que algum dia conhececemos", comenta Gisela. E acrescenta: "inclusive, Marinho foi uma das pessoas que nem morava mais em Campo Grande, mas fez questão de viajar pra cá e participar do evento. Foi dez!".
Infelizmente, não será possível um novo reencontro devido à pandemia de covid-19 – fora que nem mais Park's tem para se reunir. Entretanto, nem tudo é tragédia. Por conta da feijoada do ano passado, Gisela e Celso se reviram. De lá pra cá, surgiu uma paixão "sexagenária" que já dura 1 ano.
"Tem muitos casais que se formaram lá no Dom Bosco. Alguns se casaram e tiveram filhos, outros engataram namoro 40 anos depois", brinca Celso. "Desde o último reencontro, já vai fazer 1 ano que eu e Gisela estamos juntos. Acho que essa pandemia deu uma forcinha para permanecermos assim, na companhia um do outro", acredita.
"Depois da feijoada de 2019, fomos saindo eu e ele e só fui perceber que estava afinzona na virada do ano. Em janeiro já começamos o namoro. Quando eu tinha 15-16 anos, nós dois até tínhamos amigos em comum, mas estudávamos em turmas diferentes. Celso fala que ficava olhando pra mim á naquela época, de olho comprido, mas não lembro nada disso não! Eu não dava nenhuma bola", afirma Gisela – e não é que o jogo virou?
Mesmo que este ano não tenha festa, a camiseta ficou como o maior símbolo da resistência à covid-19, junto também com os anos vividos, as histórias guardadas, os laços de amizade e os relacionamentos amorosos. "Uma aproximação sem igual. Ano que vem há de nos abraçarmos novamente. Por enquanto, o esquema é só no virtual", finaliza a engenheira.
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