Cinema que parecia distante surgiu na favela e fez o dia da criançada
Com direito a "refri" e pipoca, crianças e adultos da comunidade Só Por Deus curtiram cinema ao ar livre – alguns até pela 1ª vez
Apesar da liberação do funcionamento dos cinemas nos últimos meses, para crianças das comunidades mais pobres da cidade esse tipo de entretenimento parece distante. Por isso, um cinema improvisado ao ar livre nesta terça-feira (9) – com direito a telão, som, refrigerante e pipoquinha – ficou marcado como a primeira experiência de uma criançada (e até dos pais) lá na Comunidade Só Por Deus, no bairro Jardim Centro Oeste.
Apesar da orientação de distanciamento e uso de máscaras, por lá esse tipo de "regra" foi deixada de lado e a criançada parecia mesmo só pensar na experiência. "Quem aqui já viu o novo 'Rei Leão'?", pergunto aos pequenos. "Eu, tio!", e mais da metade levanta a mão.
Ana Julia, de 6 anos, sem nunca ter ido ao cinema "de verdade" e apaixonada por "Frozen", curtiu a experiência que antes era só imaginação. "Imaginei a tela igualzinha a de um cinema 'grandão', mas ao ar livre é muito mais divertido!", diz.
Tinha também os "mais velhos", como Fernanda da Silva e Isis Kauane, de 11 e 13 anos respectivamente. "Estamos acostumadas a ficar sem celular, internet e televisão, então poder ficar 'de boa' aqui com a criançada não tem menor problema, vai ser até bom. Inclusive, às vezes bom mesmo é voltar a ser criança", revelaram. Assim como muitas que estavam ali, elas duas também nunca haviam pisado em nenhum dos cinemas espalhados pelos shoppings da Capital.
Pai de dois filhos, um menino de 2 anos e outro de 9 meses, Celso Guedes Lopes, de 44 anos, é também líder comunitário da Só Por Deus. Nos 4 anos em que mora ali, nunca havia presenciado uma sessão de cinema. "Só de tomar um ar já é bom. É um benefício para todo mundo, para a criançada e também aos adultos, que ganham um descanso. Pelo menos por 2 horinhas ninguém tá fazendo nenhuma coisa errada por aí", considera.
Teve adulto que resolveu aproveitar o cineminha e fazer o mesmo: garantir sua "poltrona", sua pipoquinha e refrigerante e curtir o filme – nem que isso seja por 15 minutos. "Tudo é uma surpresa, eu nunca tinha visto nada igual na vida. Logo mais tenho compromisso, por isso só vou ficar um pouquinho aqui para conferir", falou Damiana de Souza Silvestre, 42.
Já para Marly Espindola, 48 anos, que ao lado de Celso também é líder comunitária, "todo mundo já estava esperando isso há muito tempo. Por causa do tempo chuvoso das últimas semanas, demorou para acontecer ao ar livre assim. Mas agora deu certo", agradece.
Segundo ela, os moradores sobrevivem com todo tipo de ajuda – nem que ela venha em formato de telão retangular, cadeiras de plástico e pipoca no saquinho. "Fico muito feliz de quem lembra da nossa comunidade. Nem começou ainda e a criançada já está toda inquietada. É muito bom ver isso, de reencontrar um brilho no olhar deles", ressalta.
O esquema do cinema ao ar livre na Só Por Deus foi uma mobilização coletiva de amigos e profissionais que se uniram para levar brincadeira e uma forma de distração à comunidade.
"A ideia é resgatar pelo bem, pelo esporte, pelo lazer e até mesmo pela escola quando tudo voltar ao normal. Aqui é um dos bairros 'esquecidos', então queremos fazer esse projeto vingar também para outras periferias, fazendo uma interação social e também educativa por meio de ações sobre o bem estar animal, de preocupação aos cuidados com os bichinhos", esclareceu Bruno Nóbrega, professor de educação física de 40 anos.
Na sequência, o garoto Matheus, de 8 anos, reclamou: "tá demorando para começar, né?". Ele não via a hora de ser surpreendido ao lado dos primos e amiguinhos. Perguntei a ele o que estava achando da experiência até então.
"Tá sendo muito boa, é maneiro curtir aqui fora com todo mundo junto. Estou doido para ver o filme, mas também aguardo ansiosamente pela pipoca!", admitiu. Solicitação ouvida. Em questão de minutos, todos ali foram servidos e assistiram à vontade – uma tarde cheia de novidades, difícil de ser esquecida.
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