Com peça de 1854, museu conta a vida dos ferroviários pelos trilhos de MS
Em uma das salas da Associação dos Ferroviários Aposentados, na 13 de Maio, em pleno Centro da cidade, peças antigas da Noroeste Brasil levam quem olha a uma viagem no tempo e, de trem. Montado há três anos, o Museu dos Trabalhadores Ferroviários costura entre histórias e maquinários, o que foram as décadas de trem pelo Estado.
O acervo foi sendo montado ao longo de uma década pelo presidente da então Afapedi (Associação dos Ferroviários Aposentados, Pensionistas Demitidos e Idosos) de Mato Grosso do Sul, Valdemir Vieira.
"Trabalhei 25 anos na ferrovia e em várias funções. A gente tinha um sonho de montar um espaço sobre a história, um museu com vagões", conta. Enquanto este trem não chega à realidade, o museu foi montado da maneira mais viável e com peças que pertenciam aos próprios trabalhadores.
"Nós temos aqui desde escritório, aos serviços de funcionar o tem, peças que usavam no dia a dia, maquinário administrativo, licenças de circulação, sinais...", enumera. Apesar de poucas prateleiras, se perde a conta em meio a tantos elementos que faziam todo o trecho de 1,6 mil quilômetros correspondentes à malha ferroviária da nossa região, de Corumbá a Bauru.
Na ferrovia, Valdemir chegou até a perder a perna num acidente e nem assim se desencantou. Começou como manobrador, um serviço considerado pesado. "Você trabalha fazendo o desvio dos trens de uma linha para outra", exemplifica. A peça funcionava com os pés. E depois ele foi transferido para a administração, onde atuava na conferência dos bilhetes.
"Isso aqui é uma passagem que eu mesmo tirei, era um passe livre para viajar 30 dias, de 3 de dezembro de 1990 até 4 de janeiro de 1991", mostra Valdemir.
A saudade materializada está no setor de comunicação, o preferido do ferroviário. "Aqui o cara anunciava: 'atenção, o trem partirá dentro de cinco minutos', cantarola. Esta era a trilha sonora da estação.
Como à época da criação, eram muitas as pessoas não alfabetizadas, placas verdes, amarelas e vermelhas eram postas ao longo dos trilhos como alerta. Sinalização que também está no museu.
"Este aparelho aqui é o staff, de 1854 e veio da Inglaterra. Era o sistema de segurança da época e não existiam acidentes, porque para o trem circular de uma estação para outra, tinha de se tirar esta corrente e colocar o bastão", exemplifica.
Valdemir passou por 19 setores da ferrovia, de 1983 até 2005. E o que lhe vem à memória? Além do som dos trilhos, a música hino de Mato Grosso do Sul. "Enquanto este velho trem atravessa o Pantanal... Sabe por que? Era muito marcante, a gente viajava, quem era ferroviário, com a família e não pagava. Então eu trabalhava e viajava muito".
Apaixonado pela ferrovia, até livro Valdemir já escreveu, sobre trilhos e prosa. "E esta foi a nossa realidade, sentida na própria pele".
O museu está aberto de segunda a sexta, das 8h às 17h, na Rua 13 de Maio, nº 4509.
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