Com sonho de ser barbeiro, Bruno improvisa salão em canteiro
Bruno usa mureta de concreto como banco, árvores como teto e retrovisor de moto virou espelho de mão
Há duas semanas trabalhando com corte de cabelo no canteiro da Avenida Afonso Pena, próximo a praça Ari Coelho, Bruno Inácio Barbosa de Souza, de 21 anos, começou a dar os primeiros passos em direção ao sonho de ser barbeiro. Sem condições financeiras para alugar um imóvel comercial, o homem improvisou um pequeno ‘salão’. Fez da grama o piso, das árvores o teto e da mureta de concreto um banco. Ali, até retrovisor de moto virou espelho de mão.
Bem humorado, o rapaz brinca com as dificuldades que enfrentou na vida e, mesmo com a falta de oportunidades, não perde a esperança de trabalhar com o que gosta. Nascido em Aparecida do Taboado, município a 458 quilômetros de Campo Grande, ele mostra que não faltam histórias para contar.
Na juventude morou na Uaica 4, masculina (Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes), foi lá que começou a se interessar pela profissão. Quando mais novo ele já demonstra aptidão para a coisa, pois cortava o cabelo dos meninos da casa.
“Vi em Campo Grande uma oportunidade de começar, uma referência. Fiz uma especialização de corte de cabelo aqui, mas não tive oportunidade de exercer em nenhum lugar, então resolvi trabalhar assim”.
Bruno comprou os materiais parcelados para dar o ‘start’ no negócio e partiu para a Avenida. No começo ofereceu o trabalho, de maneira voluntária, às pessoas em situação de rua. O plano era fazer com que outras olhassem para ele e o descobrissem.
Serviço - O diferencial no serviço é o preço. Ele diz que como não pode competir com barbeiros mais experientes, aposta na qualidade e no preço acessível, que não passa de R$ 30,00. O corte degradê sai a R$ 25,00, na máquina, já o degradê finalizado na navalha é R$ 30,00. Quem prefere cortes mais tradicionais também pode procurar o Bruno. O social na tesoura custa R$ 20,00 e na máquina R$ 15,00. “Deus tem me abençoado muito, não tenho cliente fixo, mas as pessoas que cortam estão gostando. Eu fico até a hora que tiver cliente”.
Marcos da Costa Txekewe, 23 anos, descobriu Bruno no famoso ‘boca a boca’. O consultor de vendas amazonense estava a procura de um barbeiro quando um homem na rua indicou Bruno.
“Um rapaz cortou com ele ontem e me disse. Achei que ele cortava em barbearia, aí me falaram que era na rua mesmo”. Marcos aprovou a experiência e destacou que gostou mais de cortar o cabelo assim que em barbearias. “Não vou mentir, está sendo melhor que barbearia. Você fica sentado ao ar livre”.
Lugar - O lugar escolhido por Bruno fica em frente às Casas Bahia, mas vez ou outra, também é possível encontrá-lo em frente da loja de telefonia Tim, entre Afonso Pena e a Rua 14 de julho. Apesar de esperançoso, ele comenta que as pessoas ainda têm muito receio pelo local de trabalho.
“As pessoas ficam com medo de eu errar o corte, ou do lugar não ser o que elas julgam apropriado para elas, então tento pegar o diferencial no valor, posto nas redes sociais e deixo que elas vejam meu trabalho, se sintam mais seguras para cortar aqui. Dou o melhor de mim. Sigo uma pessoa e acredito muito nessa frase que é “dê o seu melhor e quando tiver condições dê o melhor ainda. Essa é a condição que tenho hoje”.
História - Antes de se aventurar como barbeiro, Bruno trabalhava no interior de São Paulo, como vendedor. Lá ele dividia um apartamento no centro com um colega, mas não estava mais conseguindo manter as despesas. “Ele pagou dois meses sozinho porque não estava com condições o suficiente. Estava bem apertado”.
A oportunidade de sair do Estado e ir para o interior de São Paulo se deu devido a empresa precisar de funcionários no local. Há quatro meses Bruno resolveu vir para Campo Grande, conseguiu emprego como cozinheiro, depois vendedor em outra empresa de telefonia. Ele conta que chegou a dormir no escritório até conseguir alugar uma kitnet. Hoje ele fala sobre possíveis trabalhos e afirma que pretende ter o próprio negócio, mas não dispensa nada.
“Quero me prender no meu próprio negócio, mas se tiver a chance de trabalhar e começar com com outras pessoas eu aceito".
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