Dançando, mulheres descobriram não haver limites para deficiência
Projeto 'Dança do Ventre Sem Limites' começou em 2015 e agrega bailarinas com e sem deficiência
Em ensaios e apresentações mulheres com e sem deficiência descobrem juntas novos movimentos e possibilidades do corpo. Criado em 2015, o Projeto Dança do Ventre Sem Limites fez elas realizarem o desejo de dançar e mudarem a forma como enxergam as próprias limitações.
Criado pela AMDEFMS (Associação de Mulheres com Deficiência de Mato Grosso do Sul), o projeto é gratuito e tem como professora voluntária Nidal Abdul, de 40 anos. A bailarina adotou a iniciativa em 2019 e, assim como as participantes, também foi transformada.
Nidal relata que soube do projeto através de uma conhecida e imediatamente sentiu que era uma oportunidade, um sinal da vida para fazer parte dele. “Eu estava na pior fase da minha vida, passando por uma depressão severa, síndrome do pânico, tomando seus remédios por dia. Estava no meu antigo restaurante e uma advogada conversou comigo no mesmo momento, parei, deixei o prato na mesa e falei: ‘Eu quero’”, recorda.
Veja o vídeo:
Quando conheceu a turma, a professora procurou trabalhar a individualidade de cada uma, pois as participantes têm deficiências diferentes. “Tem uma que tem um lado do corpo paralisado, uma que tem deficiência visual, uma não tem mobilidade do joelho pra baixo, outra usa cadeira de rodas e por aí vai”, cita.
Durante a pandemia, as aulas seguiram de forma online e quando voltaram a ser presenciais, o grupo começou a ensaiar para realizar apresentações em outros espaços. A professora fala sobre a proposta de levar o projeto para outros lugares.
“Começamos a fazer figurinos, coreografias e desenvolver um projeto de fazer apresentações em escolas, cidades e levar isso às pessoas para que elas tenham ideia de que uma mulher em cima da cadeira de rodas ou com qualquer tipo de deficiência é capaz de dançar”, comenta.
Entre as participantes do grupo está Ana Lúcia Serpa, de 48 anos, que aos nove anos foi diagnosticada com poliomielite. Ana explica que nunca se limitou em nada, porém com a dança era outra história.
“Desde quando me entendo por gente tenho deficiência e sempre fiz tudo na medida do possível e das minhas limitações. Eu não me limitava para levar uma vida com independência, mas a dança eu não tinha coragem, achava que não seria possível com as técnicas”, conta.
O projeto mudou esse pensamento da bailarina que descobriu que podia dançar sem restrições. “A experiência que tenho neste projeto foi um divisor de águas. Sempre quis dançar e como cadeirante achava que isso não era possível. Quando começamos a trabalhar neste projeto verificamos que era possível porque quem dança é alma”, destaca.
Com muita dedicação, Ana diz conseguir realizar os movimentos da dança que também impactou a autoestima. “A dança do ventre move a alma, a gente consegue autoestima, amor próprio. A gente entendeu que pode dançar e que a mulher com deficiência pode estar em qualquer lugar”, pontua.
No final de semana, as meninas do projeto viajaram para São Paulo onde realizaram a apresentação no Mercado Persa de 2023, que é um dos maiores eventos árabes do mundo.
Suzana Vieira Castro, de 40 anos, sofreu um acidente de carro há 15 anos e ficou paraplégica. Ela faz parte do grupo há cinco anos e esteve presente na apresentação em São Paulo. “A gente não imaginava que uma coreografia ia ficar tão perfeita quanto essa. Foi muita emoção, uma realização incrível”, ressalta.
No projeto, Suzana sente que a cada dia se supera através da execução de um movimento. “Por causa da deficiência a gente tem um certo bloqueio que é da nossa cabeça. A gente estava na associação e a partir das primeiras apresentações foi tudo tão lindo, bonito, a professora procurou outras alternativas”, afirma.
O projeto é gratuito e aberto para PcD (Pessoa com Deficiência) ou sem deficiência. Para participar, é necessário entrar em contato com a AMDEFMS através do (67) 9.9226-0661.
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