De sorveteria às noites no Chatanooga, endereços antigos “moram” na saudade
Do que você mais sente saudade em Campo Grande? A certeza é que dezenas de sentimentos vem à tona quando se volta ao passado
Aproveitando o Dia da Saudade, comemorado hoje, o Lado B saiu por aí perguntando qual o endereço ainda vive na memória do campo-grandense. A cada resposta, um sorriso, uma respiração funda e olhos brilhantes. A certeza é que dezenas de sentimentos vem à tona quando se volta ao passado.
O casal, Rosângela Leão, 49, e Isac Barbosa, 53, olha para o outro lado da Rua 14 de Julho e ainda não acredita no que vê. Ela lambe os lábios como quem acabara de comer algo saboroso. Lembra, de olhos fechados: “Era o melhor sorvete de tamarindo da vida”.
E conta que a antiga sorveteria Torino atrai visitantes até hoje. Pessoas desinformadas, segundo ela, “que há muito tempo não visitam o Centro” e desconhecem o fechamento nos anos 2000.
“Muita gente para aqui na Praça Ary Coelho e pergunta: onde está a Torino?”, lembra. “Quando contamos que fechou elas saem tristes, assim como nós que sentimos saudade até hoje”, afirma Rosângela.
No número 1829, ficava a sorveteria que durante os anos 70, 80 e 90 era ponto de encontro do campo-grandense, após as matinês e as sessões do Cine Alhambra. O local já foi atração para quem quisesse ouvir as máquinas de sorvete funcionando ou experimentar os tradicionais sabores italianos.
O sábado mal tinha nascido quando Rudinei Mederli, 38 anos, foi contar o dinheiro e escolher a roupa para frequentar a Chatanooga. “A gente acordava esperançoso. Era a melhor balada de Campo Grande. Não tem como esquecer”.
Apaixonado pelos tempos da casa noturna, que ficava na Rua José Antônio, ele conta que a primeira vez que viu a boate percebeu que jamais deixaria o lugar. “Fiquei impressionado, era diferente de tudo que a gente já tinha visto por aqui. Se tornou o point de quem amava balada”. A Chatanooga abriu em 1987 e na época só tinha duas casas noturnas aqui. “Por isso ela tinha todo um glamour”.
Além dela, ele recorda do antigo Karaokê Frisson, que funcionou durante anos na Rua 7 de Setembro. Um tempo depois o mesmo endereço virou casa de strip-tease e hoje é balada de música eletrônica. “Mas nada se compara aos tempos do karaokê. Ele funcionava até tarde da noite, as pessoas saíam de outras festas e iam para lá. Tinha música boa, gente que cantava bem e um bartender que fazia inúmeros drinques”, recorda.
Quem visita o passado e não esconde a emoção é a auxiliar de serviços gerais Lenir Moura dos Santos, 50 anos. Ela sorri grande e fecha os olhos como quem ainda sente o vento que batia na janela do trem durante as viagens até o Pantanal. “Foi a melhor época da minha vida. Não tenho outra saudade maior do que a que eu sinto do trem”.
Enquanto ela conta lembrando a sensação, as filhas dão risada, e confirmam a paixão da mãe. “Ela sempre fala dele”. Lenir então descreve as primeiras viagens, aos 15 anos. “Era uma alegria desde a compra do bilhete. O trem significava diversão, sair da rotina, novas experiências. Íamos daqui para Corumbá felizes”.
Ao engolir a saliva ela garante que consegue sentir o gostinho dos biscoitinhos caseiros que eram vendidos. “Sei exatamente o gosto deles, mas nunca mais encontrei igual. Era uma delícia”.
Ainda hoje, ela diz que visita a região da Estação Ferroviária para ver o local e voltar ao passado. “Toda vez que eu passo por ali ou visito, fico observando por um tempo e lembrando das nossas viagens. Tempos que, infelizmente, não voltam mais”, lamenta.
Sem muitos detalhes, mas animação de sobra, o vendedor Carlos Alberto Bobadilha, 57 anos, diz que melhor diversão estava na lanchonete “Sem Nome”, que na década 90 funcionava na Avenida Afonso Pena, entre Calógeras e 14 de Julho. “Era de donos simpáticos. E o povo que tinha lá era da nossa idade, gostavam de trocar uma prosa”, ri.
Ela fala com uma saudade da lanchonete, que até hoje lembra o ponto e o aroma que o pastel alcançava. “Ele ia até o meio da quadra, todo mundo gostava, mas não era só isso. Era bom também para a cervejinha”. Sem muitos detalhes da história do lugar, ele só garante que o local era point de “parada demorada”. “Não era como as lanchonetes de hoje, onde as pessoas engolem a comida e vão embora. Lá todo mundo ficava”.
E você? Qual a sua saudade? Mande fotos do lugar que você não esquece e conta pra gente o porquê o endereço faz tanta falta.
Você pode enviar pelo Facebook, Instagram ou pelo nosso Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563 (chame agora mesmo).