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Comportamento

Do puxadinho que vira legado ao sonho rompido à luz da pandemia

Garimpamos histórias de ourives que, além do sustento, ajudam manter tradição da joia feita à mão na Capital

Cleber Gellio e Marcos Maluf | 29/06/2022 06:47
Atrás da banca, ourives manuseia ferramenta sobre anel cravejado (Foto: Marcos Maluf)   
Atrás da banca, ourives manuseia ferramenta sobre anel cravejado (Foto: Marcos Maluf)

“Oi, Cleber. É a mãe do Fá.”

O notificador de mensagens vibrou no celular às 14h35, do dia 12 de julho do ano passado, quando eu voltava para casa após receber a segunda dose do imunizante contra a covid-19. Naquele dia, uma segunda-feira cinzenta, o trânsito na Zahran, uma das avenidas mais movimentadas de Campo Grande, estava tranquilo. No entanto, ao apanhar o telefone, a inquietude de minha esposa, Jéssica, no banco do passageiro prenunciava que algo de muito sério estava acontecendo. Durante boa parte do percurso ela permaneceu em silêncio, até o momento em que não conseguiu mais segurar. Com voz tremula e embargada anunciou:

 “Ele faleceu, faz duas horas.”

 Fiquei sem reação, parado no sinal vermelho, enquanto ouvia lá no fundo, os sons distantes e perturbadores das buzinas dos carros que vinham logo atrás. A notícia que chegava do outro lado da ponte era da própria mãe, Sueli, informando sobre a perda precoce do filho, aos 43 anos.

Fabricio Lima trabalhou por 30 anos como ourives (Foto: Instagram)
Fabricio Lima trabalhou por 30 anos como ourives (Foto: Instagram)

Fá é o apelido de Fabrício Adriano Lima, um amigo de longa data e que faz parte da história da minha família. Tanto na de meus pais, em minha cidade natal, São José do Rio Preto, quanto na que formei depois de casado, aqui na Capital de Mato Grosso do Sul.

Fabrício era de casa. Em 2015, esteve em Campo Grande para oficialização do nosso casamento, juntamente com outros amigos do interior paulista. Foi a última vez que nos vimos pessoalmente.

Com o passar do tempo nosso contato foi ficando menos constante, mas sem deixarmos de nos falar. Em uma das conversas que tivemos, em 27 março de 2020, me confidenciava a felicidade por ter conhecido uma pessoa com quem estava se relacionando e que o fazia sentir preenchido novamente.

“Tô feliz, irmão. É uma pessoa maravilhosa. Trabalha comigo, mas na firma a gente fica sossegado.” Em outro momento, em dia 23 de agosto, me informou de seu novo trabalho. “Essa semana arrumei um trampo”.  E assim a gente ia tocando a vida. Até que no dia 27 de maio de 2021, fiquei sabendo que ele havia contraído o novo coronavírus e, dois dias depois, precisaria ficar internado. "Cara, tô internado. Mas, em cinco, seis dias, se Deus quiser, estarei em casa".

Durante os dias em que esteve no hospital trocamos mensagens quase que diariamente e tudo aparentava caminhar bem. Tanto que recebeu alta e chegou a receber cuidados médicos domiciliar. Mas, de repente e sem dar sinais, após 15 dias de recuperação, a doença mostrou sua perversidade. Ele teve um mal súbito e nos deixou.

Fá, para os mais íntimos, era um cara que gostava de liberdade, daquelas proporcionadas pelo vento na ‘cara’ das motocicletas, assim como nas viagens que fazia com meu irmão. Curtia música de gueto e de protesto, assim como eu. E além de todas as afinidades que tínhamos, havia outro elo que nos unia: a profissão de ourives. Não só a mim, mas a nossas famílias e uma ‘pá’ de amigos do São Deocleciano, bairro na qual crescemos e que revelava aos montes habilidosos profissionais às fábricas, oficinas e comércios de joias instaladas na cidade.

No próximo dia 12, faz um ano que a ourivesaria ficou desfalcada do talento de um dos 'Lima'. Foram pelo menos 30 anos dedicados à profissão, quando, por intermédio do irmão mais velho, Rodrigo, iniciou a carreira na década de 1990. "Hoje está fazendo um mês sem vc cara! Sem seu bom dia e sem sua companhia no trabalho, é muito difícil pra mim. Nesse mês chorei todos os dias! Você tinha muitos sonhos e medos, os sonhos vou tentar fazer por você, guiando o Pedro no caminho da justiça! Éramos muito colados cara, por isso sofro tanto! Amo você brother", publicou Rodrigo, um mês depois da perda do irmão..

A mãe, Sueli, lembra pouco sobre cada período do filho na profissão, mas da paixão e dedicação à atividade que exercia, ela faz questão de recordar. “Ele era um menino muito caprichoso, fazia tudo com muito carinho e não era aquela pessoa que fazia uma peça de qualquer jeito. Era muito detalhista”.

Imagem de 2014 mostra o filho Pedro, brincando na banca do pai Fabríco Lima (Foto: Instagram)
Imagem de 2014 mostra o filho Pedro, brincando na banca do pai Fabríco Lima (Foto: Instagram)

Detalhes esses que ficaram gravados não somente nas joias que ele fabricava, mas também em minha mente. Fiquei durante um bom tempo remoendo o porquê do pai do Pedro, 12 anos, partir tão cedo.

Eu tinha medo de não dar conta o suficiente para assumir um compromisso. Senti uma certa insegurança", diz Marcos Maluf.

O recomeço - No período da despedida de Fabrício, as coisas por aqui também não andavam nada fácil, enfrentávamos uma batalha árdua contra um câncer que acometia um membro de nossa família. Antes disso, em 2018, havíamos dado uma pausa no jornalismo para tocar nosso próprio negócio, um pequeno comércio no setor de sorvetes. Porém, por circunstâncias que veremos mais adiante, fechamos as portas.

Após sete anos de minha primeira passagem, onde havia atuado na fotografia, retornei como repórter ao Campo Grande News. Confesso que ao entrar na redação do jornal não imaginava o representaria àquele reencontro. Não só com o ambiente de trabalhado e velhos colegas, mas comigo mesmo. Fui integrado à segunda equipe de rua, composta, além de mim, por motorista e fotógrafo. Uma das primeiras pautas a ser executada na minha volta à comunicação tratava-se sobre o movimento no comércio do centro, no pós-pandemia. Pegamos a 14 de Julho, logo no começo da manhã, e quando Erick Josemar, 42 anos, o motorista, dobrou a esquina pegando à direita para Marechal Deodoro, o fotógrafo, Marcos Maluf, interveio:

”Encosta aqui por favor, irmão. Conheço uma pessoa que deve saber de alguém para indicar e que possa nos ajudar nesta pauta, pois está há muitos anos no comércio.”

Maquinário em oficina de joias instalada há 20 anos em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Maquinário em oficina de joias instalada há 20 anos em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

O carro parou de fronte a uma porta antiga de vidro entreaberta e sobre o espaço que minha visão podia alcançar havia uma estreita escadaria que desembocava diante de uma grade em ferro maciço na qual só poderia ser destravada mediante severa inspeção de segurança. Naquele instante, um filme se passou em minha cabeça. Estava diante do ambiente que convivi por mais de 12 anos, antes de me habilitar para contar essa história. Era uma fábrica de joias, porém, o proprietário não se encontrava. Permaneci em meu silêncio nostálgico e voltamos para a base, sem nenhuma indicação de personagem, mas com a mente cheia de indagações a respeito do novo companheiro de trabalho que, agora, seria meu parceiro de imagens e que carregava algumas semelhanças no vocabulário.

No dia seguinte, antes mesmo de partirmos para nosso primeiro compromisso, o questionei:

“Como conheceu o dono daquele comércio?”.

Sem rodeios, ele me disse: “O proprietário da oficina é meu tio, trabalhei com ele na minha juventude. Venho de uma família com história no setor. São pelo menos quatro gerações envolvidas. Qualquer dia desses te conto”.

Mas como um bom jornalista, não demorou muito e no dia seguinte já estava me relatando a história por parte de sua família materna, em particular, a sua. Maluf, como é chamado pelos colegas, tinha sonho de se tornar jornalista e para realizá-lo precisava arranjar trabalho para bancar um curso privado, afinal vinha de uma família modesta financeiramente, segundo ele.

A primeira oportunidade surgiu aos 17 anos, como ourives, na empresa de um primo. Após seis meses, transferiu-se para a oficina do tio e por lá permaneceu cerca de um ano e meio. Tempo suficiente para se convencer de que não era capaz de crescer na profissão. “Eu tinha medo de não dar conta o suficiente para assumir um compromisso. Senti uma certa insegurança e resolvi abandonar. E percebi que foi uma frustação para a família, até para meu tio”.

A partir de então, o jovem passa a ganhar a vida como piscineiro, moto-entregador e servente de pedreiro. E foi nesse período que resolveu fazer um curso de mecânica industrial, o que lhe devolveu a confiança e um novo horizonte profissional. “Logo consegui um trabalho em uma metalúrgica, foi quando me toquei de que havia uma identificação com aquele ramo porque era exatamente tudo o que eu fazia quando eu era ourives, mas em uma escala muito maior”.

E foi neste seguimento, por mais de 15 anos, que conseguiu estabilidade e liberdade financeira. “Fiz uma casa, adquiri automóvel e investi na carreira porque, para mim, ter uma estabilidade naquele momento era fundamental. Eu pensava muito em proporcionar bem-estar à minha mãe”, exclamou, sobre o desejo que o acompanhara desde a infância, aos quatro anos, quando os pais se separaram.

Marcos Maluf na fábrica de joias em que iniciou carreira como ourives (Foto: Cleber Gellio)
Marcos Maluf na fábrica de joias em que iniciou carreira como ourives (Foto: Cleber Gellio)

Na indústria, o soldador virou mecânico, eletricista, chegando a ser analista. Porém, não se sentia realizado. Em 2015 virou a chave e ingressou na faculdade de comunicação social. “Eu tinha uma carreira sólida e abri mão disso para correr atrás do meu sonho e do que realmente eu gosto: o jornalismo. Sinto que estou no caminho, pois ainda estou engatinhando nesta área”.

Em pouco mais de um ano de formado se deparou com um dos maiores desafios da curta carreira: a pandemia de covid19. “Fiquei bem assustado. Foi muito pesado, algo que nunca esperei passar. A ficha só caiu quando decretaram isolamento total. Nunca tinha visto isso na vida. Era chegado a hora do maior desafio da minha carreira como fotojornalista. Como havia pessoas que eu convivia no grupo de risco optei por ficar fora de casa para exercer a função que eu havia escolhido para minha vida. O que me mais me tocou foi realmente o amor a essa profissão. Me sentiria acovardado diante do que eu havia jurado que é de levar a informação ao público, com responsabilidade, claro”.

Parecia que ele estava me esperando. Passei a mão na cabeça dele e saiu uma lágrima do olho que escorreu pelo rosto e eu limpei, Walquíria da Silva Murer

O peso do mês sete - Enquanto o fotógrafo enfrentava os riscos da pandemia para exercer sua nova profissão, muitas empresas fechavam as portas e trabalhadores perdiam seus postos de trabalho. Outros, infelizmente, suas próprias vidas.

Naquele mês de julho, segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa com dados das secretarias de Saúde, foram mais de 33 mil óbitos e o Brasil ultrapassava a marca dos 550 mil mortos por Covid na pandemia. A média móvel de óbitos seguia em queda, devido à intensificação na vacinação. Capitais como Campo Grande, por exemplo, retomavam a aplicação da primeira dose ao público geral.

Foi o que fez o ourives Maurilio Alves de Freitas, depois de sentir-se indisposto e se recuperar de sintomas leves. No entanto, o teste realizado entre o intervalo da recuperação e o imunizante, diagnosticou positivo. Em uma semana os sintomas vieram mais fortes e ele caiu de cama, precisando ser internado no Hospital Regional, referência para os casos de Covid-19, em na Capital.

Segundo a esposa, Walquíria da Silva Murer, 26 anos, logo nos primeiros dias o estado de saúde de Maurilio se agravou e ele precisou ser entubado. “Tentaram fazer de tudo, mas ele precisou da entubação. Perguntaram para ele se ele aceitaria o procedimento e ele respondeu que sim porque ele iria voltar. E voltou. Ficou oito dias e cumpriu o que disse”.

Mauriliotoma primeira dose em junho de 2021 (Arquivo pessoal)
Mauriliotoma primeira dose em junho de 2021 (Arquivo pessoal)

Porém, em menos de 24h de sua saída de seu momento mais delicado, até então, Maurilio voltaria a respirar com ajuda de aparelhos. Além do esforço para tentar se comunicar depois que foi extubado, ele ainda contraiu uma bactéria que resultou no comprometimento dos órgãos. Os rins, um dos principais alvos do vírus, foram afetados e Maurilio passou por hemodiálise.  Foi quando precisou, novamente, de respiração mecânica. O joalheiro passou também pelo procedimento cirúrgico de traqueostomia, uma incisão na região do pescoço, que tem o objetivo de facilitar a chegada de ar até os pulmões. “Ele foi um guerreiro, pois foi luta atrás de luta”, relata a companheira.

No dia sete de julho, há quase dez dias sedado, Walquíria já estava aflita com o quadro de saúde do marido e mesmo sem permissão, tomou a iniciativa de chegar até o CTI (Centro de Tratamento e Terapia Intensiva), para lhe desejar feliz aniversário. E foi a última vez que estiveram juntos, pois no dia nove, Maurílio faleceu.

“Parecia que ele estava me esperando. Passei a mão na cabeça dele e saiu uma lágrima do olho que escorreu pelo rosto e eu limpei. Para mim, era uma esperança no coração, achei que tudo ia dar certo e que ele iria superar. É uma dor muito grande para gente, nunca vou aceitar. Um homem bom, pai, marido parceiro, dedicado e de repente... É uma dor muito grande para mim e para meus filhos”, finaliza.

Além da esposa, o joalheiro deixou três filhos pequenos, José Guilherme, 11 anos, José Eduardo, 9 anos e José Henrique, 3 anos. Sem o marido, Walquiria não perdeu apenas sua melhor companhia, ficou também sem renda. Viúva aos 26 anos, teve que assumir as rédeas da situação e atualmente tem se desdobrado para manter o sustento de casa fazendo faxina e trabalhando até tarde da noite como auxiliar de cozinha. “Ele era o pilar da casa e arcava com tudo financeiramente. Não temos casa própria e agora sou eu que tenho que administrar. Teve um acerto do trabalho, mas não tenho uma renda fixa”, relatou.

O ourives Maurlio na oficina de joias que trabalhava (Foto: Arquivo pessoal)
O ourives Maurlio na oficina de joias que trabalhava (Foto: Arquivo pessoal)

Muito querido por todos, ela prefere se recordar de quando conheceu o marido e sua admiração pelo ofício que exercia com destreza. “Ele amava a profissão e tinha muito orgulho do que ele fazia. É admirável o talento dele. Além de alianças e correntes que são os mais comuns, ele via uma imagem que o cliente mostrava e fazia igualzinho, como a face de jesus ou de um cavalo, por exemplo, e esculpia.  A coisa mais linda! Era um homem muito trabalhador e vivia em prol do trabalho.”, lembra Walquiria, interrompendo o raciocínio tomada pela emoção.

A parceira do ourives também faz questão de citar os momentos de angústia que passou enquanto o esposo esteve hospitalizado. Como último recurso para tentar combater a bactéria que acometia o paciente Maurilio Alves de Freitas , os médicos receitaram um medicamento que, segundo Wlaquiria Murer, não havia disponível na rede pública e custava muito caro. Na esperança de melhoras ao quadro de saúde que não evoluía, a esposa iniciou uma campanha de arrecadação na internet para levantar fundos. “Ele precisava de 36 ampolas e chegou a tomar 22, mas não teve melhora alguma. Foram cerca de R$ 10 mil que conseguimos com amigos e familiares. Fizemos rifas e os patrões dele chegaram a doar quase a metade para que ele pudesse começar o mais rápido possível tomar a medicação”.

 “Ele trabalhou três vezes comigo, sempre quis ter alguma coisa para ele e chegou a montar oficina, mas quando se apertava ele voltava. Era muito bom profissional e caprichoso, com espaço para trabalhar em qualquer lugar”, disse o ex-patrão Nagib Maluf Neto.

Não, não é coincidência o sobrenome de Nagib já ter aparecido neste texto, pois ele revela quem é o tio do fotógrafo que nos leva a conhecer as histórias que garimpamos na capital. Aquelas escadas, mencionadas anteriormente, não me guiaram somente ao meu passado, mas também à memória do setor joalheiro de Mato Grosso do Sul e até do Brasil. Como veremos a seguir.

Acho que minha aptidão vem de sangue, pois meu avô era comprador de pedras preciosas ali na região de Rochedo, Nagib Maluf

O caminho das pedras – Da cidade de Zalé, no Líbano, para o Brasil, aos 36 anos o jovem Nagib Maluf recebia, sua identidade em solo nacional por meio da Carteira de Registro de Estrangeiros e naquele momento influenciaria até sua quarta geração no ramo da joalheria. O documento datado de 1º de abril de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, é verídico. Quem nos garante é Nagib Maluf Neto, 59 anos, que não à toa, foi batizado com o mesmo nome do avô. Mais do que nome e sobrenome, Maluf Neto carrega a tradição do comércio de pedras preciosas, como o avô paterno, um comerciante de diamantes que fez carreira, na primeira metade do século passado, em garimpos na região de Rochedo, a cerca de 80 quilômetros de Campo Grande.

“Acho que minha aptidão vem de sangue, pois meu avô era comprador de pedras preciosas ali na região de Rochedo, como os municípios de Corguinho e Fala Verdade. Antes passou por Cuiabá e Corumbá. Ele pegava uma equipe de garimpeiros e bancava as despesas aos trabalhadores, que na época demandavam por querosene, açúcar, cachaça e demais mantimentos, pois não tinham salário. Ganhavam mesmo quando encontravam uma pedra e o valor era dividido em partes iguais. Por isso a expressão ‘meia praça’, ou seja, uma comissão sobre os achados no terreno que exploravam, mas que não os pertenciam. Ele vendia essa produção para compradores do Rio de Janeiro.”

Foto do registro de nacionalidade do libanês Nagib Maluf (Foto: Arquivo pessoal)
Foto do registro de nacionalidade do libanês Nagib Maluf (Foto: Arquivo pessoal)

Rochedo chegou a receber 5 mil pessoas, durante a década de 1930, em busca do minério nas margens do Rio Aquidauana. No local não havia nenhuma estrutura para receber os garimpeiros e a região precisou se reordenar para atender o grande fluxo de pessoas e o movimento financeiro. Surgiram pensões, pontes, mercearias e as primeiras famílias de imigrantes japoneses, árabes e portugueses, conforme relatam os dados do Projeto Mídia Ciência de Jornalismo Científico, ofertado pela UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul).

Comecei na casa de meus pais em um quarto que ficava nos fundos, na qual transformei em oficina. Às vezes ficava até meia noite trabalhando para dar conta do serviço, Nagib Maluf Neto

O Fusca que virou ouro – A vocação para o comércio apareceu logo na infância, quando aos oito anos, Neto se aventurava nos negócios com a venda de hortaliças na cidade de Rio Negro, diferente do pai, Clóvis, que foi por quase toda a vida servidor público. Mas, foi mesmo na adolescência que a atividade, que o acompanharia até os dias atuais, floresceu. Aos 16 anos, ele foi convidado para trabalhar em uma oficina de joias que funcionava na casa de um conhecido e foi ali que tudo começou a mudar.

“Eu não tinha noção de nada, foi na prática. No início você apanha, queima os dedos, a solda sai toda torta, mas depois de uns 15 dias começa a pegar jeito. Para não correr risco de estragar começávamos na prata, depois passávamos para o ouro. Só depois de um mês que passei a fazer algo sozinho. Na época que fazia muito cartier, um tipo de peça que utilizava fios de ouro e que era muito delicado e dependia muito da criatividade de cada um. Assim fui me aprimorando.”.

Nagib Maluf Neto vendeu carro para montar empresa na casa dos pais (Foto: Marcos Maluf)
Nagib Maluf Neto vendeu carro para montar empresa na casa dos pais (Foto: Marcos Maluf)

Já com certa habilidade, o rapaz passa a consertar e fabricar suas próprias peças, nos mesmos moldes de seus colegas da época, ou seja, fazendo do inativo cômodo no fundo da casa dos pais um ‘puxadinho’ para seu sustento. Logo formou clientela e conquistou independência financeira, chegando a comprar casa e um carro fusca. Após sete anos trabalhando como funcionário, o jovem montou o próprio negócio, arriscando tudo o que tinha. “Vendi o fusca e fui para São Paulo comprar equipamentos. Trouxe o básico para montar minha empresa. Comecei na casa de meus pais em um quarto que ficava nos fundos, na qual transformei em oficina. Às vezes ficava até meia noite trabalhando para dar conta do serviço”.

Com três anos de trabalho o ourives decidiu se instalar no centro da cidade e àquela pequena empresa, do menino que vendia verduras e do jovem do fusca que virou ouro, resistiu ao tempo e já está há mais de 30 anos estabelecida no mercado.

De acordo com Nagib, o setor ainda carrega as velhas e boas características da joia artesanal sob medida, fabricada exclusivamente ao cliente, além dos tradicionais consertos e alianças de casamentos, que mantêm o fluxo dos negócios. “Consertos é o que segura o negócio, que nos mantêm, mas a maioria da fabricação própria é sob encomenda, mais artesanal mesmo. De uns dez anos para cá nos especializamos ainda em alianças e investimos em correntes”.

O verdadeiro ourives é aquele que se você der um ouro na mão dele, ele começa com uma barra e termina com uma joia, Edison Roza

O elo – “Aqui em Campo Grande tem mais menos uns cinco ou seis ourives que vieram de lá, porque não havia mão de obra. Ainda hoje o perfil do mercado não mudou muito, as joias fabricadas em grande escala vêm tudo de fora, pois não temos grande produção aqui dentro da cidade. Nosso processo é mais artesanal mesmo”, explicou Maluf Neto, enquanto nos despedíamos.

O vendedor de pedras, referia-se aos ourives de São José do Rio Preto, que há cerca de três décadas viram uma oportunidade de progredir em terras campo-grandenses. Considerado o segundo maior polo joalheiro do Brasil, o município conta com mais de 150 empresas e gera mais de 4 mil empregos diretos e indiretos, conforme dados da Ajoresp (Associação dos Joalheiros e Relojoeiros). E foi neste cenário que eu e meus dois irmãos passamos a maior parte de nossas vidas.

Ali, no quartinho dos fundos na casa de meus pais, perdi as contas de quantas vezes, ao som de Racionais MCs, entrava noite adentro para terminar um lote de cartie e charneiras (modelos artesanais) que seriam endereçadas aos compradores de MS.

Jamais poderia imaginar que um dia a Capital Morena seria a cidade natal de meus filhos, um casal com diferença de apenas um ano entre eles. Esta frase é minha, mas poderia muito bem estar tomada por aspas. Pois, foi exatamente essa expressão que ouvi ao encontrar um senhor que atende pelo apelido de Edinho e que parecia ser o elo que eu buscava nesta caminhada.

Falando dos filhos, o homem de mãos ásperas e marcadas pelo tempo de profissão, me conduz ao futuro ao relembrar seu passado na ourivesaria.  Aos 15 anos, Edison Alves Roza, 62 anos, o Edinho, aprendia, em Rio Preto, o ofício que o levaria conhecer a mulher de sua vida e mãe de seus dois filhos, Inayara,32 anos e Thiago, 31 anos.

Edison saiu de Rio Preto para trabalhar em Campo Grande e formou família (Foto: Marcos Maluf)
Edison saiu de Rio Preto para trabalhar em Campo Grande e formou família (Foto: Marcos Maluf)

Tudo começou em 1984, quando um amigo arrumou emprego em Campo Grande e ele o acompanhou para conhecer a cidade. Acabou foi conhecendo a também ourives Cirene Roza, 61 anos, na oficina de joias em que começou a trabalhar.

"Ela era da montagem e soldava correntes como ninguém. Mas com a chegada dos filhos acabou se afastando", disse Alves, ressaltando a habilidade da companheira, uma das poucas mulheres a exercer a função.

Ele me conta que o setor não mudou muito desde sua chegada e que o perfil do mercado campo-grandense é mesmo para os pequenos e que a profissão está entrando em extinção. “Aqui havia poucas oficinas de joia, então as oportunidades para quem realmente conhecia a profissão eram muitas. Essa é a diferença, pois antigamente tinha que ser ourives mesmo para trabalhar. Hoje dá até dó de ver a profissão, porque a pessoa entra no mercado, mas não sabe nem o que está vendendo porque não teve um base sólida”.

Para Edison, que já prestou serviço para grandes lojas do ramo, hoje o setor conta com poucos profissionais que saibam todo o processo de produção de uma joia do início ao fim, “pois manusear o metal e transformá-lo em joia é uma arte e para poucos”. “O verdadeiro ourives é aquele que se você der um ouro na mão dele, ele começa com uma barra e termina com uma joia. Desde a fase bruta quando o metal é derretido, passando pela confecção que é a montagem da peça, até a cravação das pedras e o brilho final”, explica.

A oficina desse veterano perfeccionista fica na Dom Aquino com 14 de Julho, em cima de uma loja de roupas com entrada lateral por uma porta antiga de vidro e um estreita escadaria que desemboca diante de uma grade... Bom, o restante você já sabe. Saí dali eufórico, feito criança e tomado por um sentimento de 30 anos atrás.

Fiquei bastante assustado achando que iria parar de vez, mas para minha surpresa neste retorno muitos clientes vieram me procurar para comprar diamantes, Maluf Neto

Os impactos da pandemia  - Pesquisa realizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) sobre o impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios, mostra que 59% dos empreendedores sul-mato-grossenses tiveram redução no faturamento mensal se comparado a antes da pandemia, enquanto 19% permaneceram igual e 18% tiveram ganhos de rendimentos. Outros 4% não souberam ou quiseram responder.

De acordo com o levantamento realizado pela 14ª Pesquisa de Impacto do Coronavírus nos Pequenos Negócios, os empresários do estado estão faturando 47% menos em relação a antes da crise sanitária. Já o índice dos que estão ganhando mais é de 31%.

Embora a pesquisa revele dificuldades para a maior parte do empresariado local na retomada dos negócios, o resultado parece não interferir muito no setor joalheiro, pelo menos na pequena amostra, por meio de relatos, que tivemos a oportunidade de colher.

O empresário Nagib Maluf, está no grupo dos que aumentaram faturamento durante a pandemia, sobretudo no setor de pedras preciosas, o que acabou sendo uma surpresa, chegando a triplicar o volume de negócios.

“Fiquei bastante assustado achando que iria parar de vez, mas para minha surpresa neste retorno muitos clientes vieram me procurar para comprar diamantes como investimento. Este setor é diferente do metal, pois algumas variedades podem valorizar com o passar do tempo. Eu tinha pedras de anos atrás, por serem um pouco maior não saía e de repente os clientes começaram a procurar. Tenho pedra de 25 anos. Na área da pedra posso dizer que depois da fase mais crítica da pandemia dobrou e até triplicou”, comemora Maluf.

Fábrica de Nagib conta com cerca de 25 laminadores para confecção de joias (Foto: Marcos Maluf)
Fábrica de Nagib conta com cerca de 25 laminadores para confecção de joias (Foto: Marcos Maluf)

A pesquisa, feita em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), também revela que 54% dos empreendedores entrevistados em MS informaram que fizeram investimentos nos últimos dois anos. O maior percentual, 40%, investiram em máquinas e equipamentos. “Investi em maquinários, hoje conto com 25 laminadores para fabricar alianças. Além de equipamentos para confecção de correntes”, revela Maluf.

O levantamento também tratou do acesso dos empresários ao crédito. Conforme a pesquisa, 35% dos entrevistados não possuem dívidas, outros 35% estão inadimplentes, enquanto os empréstimos em dia somam 30%.

A pesquisa quantitativa, por meio de formulário online, entrevistou 13.205  respondentes, sendo 60% de microempreendedores individuais (MEI), 34% donos de pequenos negócios (ME) e 6% empresas de pequeno porte (EPP), entre os dias 25 de abril e 2 de maio, em todos os estados e no Distrito Federal. O erro amostral é de 1% para mais ou para menos para os resultados nacionais. O intervalo de confiança é de 95%.

Em 2016 me desvinculei da empresa e abri meu próprio MEI para poder atender à demanda que era cada vez mais crescente, Sandro Del Ponte

O perfil do setor – Mato Grosso do Sul possui 285.617 empresas ativas, sendo 148.190 microempreendedores individuais (MEI), 87.201 microempresas (ME) e 15.225 empresas de pequeno porte (EPP). Deste universo, apenas 20 empresas estão cadastradas como fabricação de artefatos de joalheria e ourivesaria, segundo banco de dados da Receita Federal.

Cabe lembrar que estes números podem estar subestimados caso os empresários tenham informado no cadastro CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), outra atividade como sendo principal.

Destas duas dezenas de empresas ligadas ao setor joelheiro, 17 estão instaladas em Campo Grande, já as outras três ficam nos municípios de Coxim, Dourados e Ponta Porã. A de Sandro Alves Dal Ponte, 36 anos, é uma delas, na região oeste da Capital. Diferentes da maioria de seus colegas de profissão, quando garoto ele sonhava em ser jogador de futebol e chegou bem próximo, quando atuou nas categorias de base do Operário, time de prestígio no futebol sul-mato-grossense. No entanto a idade chegou e o jovem rapaz decidiu buscar outra profissão.

Em 2008, aos 21 anos, chegou a vez de sua convocação, não para integrar alguma equipe em busca de bom volante nos gramados, mas para atuar no time dos ourives. Dal Ponte foi convidado por um vizinho para aprender o ofício na oficina em que trabalhava, especificamente no setor da cravação. “Este é um setor em que são fixadas à joia as pedras preciosas. É um trabalho muito minucioso e leva tempo e dedicação para aprender”, explicou.

Ourives Sandro Dal Ponte cravejando ouro no espaço montado em casa (Foto: Marcos Maluf)
Ourives Sandro Dal Ponte cravejando ouro no espaço montado em casa (Foto: Marcos Maluf)

Entretanto, ele teve apenas um mês de acompanhamento e a partir dali, seguiu sozinho o desafio de cravejar. Com muito treino, o ex-atleta, ao invés da bola, percebeu que poderia se tornar um craque em outro campo, o das joias. Foi contratado e permaneceu por oito anos na mesma empresa, até seguir seu próprio destino.

“Em 2016 me desvinculei da empresa e abri meu próprio MEI para poder atender à demanda que era cada vez mais crescente. Comecei a divulgar para as empresas porque o pessoal do ramo me falou que não havia muita mão de obra nesta área. E é o que vem acontecendo”.

Até então, Sandro dividia espaço com outros colegas em salas alugadas no centro, próximo ao local de trabalho da esposa Evelin Paiva Albuquerque Oliveira, que era vendedora de loja de semi-joias. Com a chegada da pandemia e a descoberta de que estava grávida da pequena Agatha, acabou deixando o emprego. Foi quando o casal passou a trabalhar e investir de casa, ele recebendo serviços de clientes fixos e novos pedidos e ela na administração do lar e das redes sociais, com divulgação dos produtos. O casal, integra os 67% dos empresários de MS que comercializa usando a internet.

“Com a pandemia ficamos bastante preocupado porque não sabíamos como o mercado iria se comportar, mas os negócios se multiplicaram. Acabei trazendo a oficina para casa, é bem pequenininha, mas é daqui que tiramos o sustento da família”, disse Sandro.

Embora a renda da família tenha reduzido pelo fato da esposa perder o trabalho, o cravador foi outro profissional da ourivesaria que cresceu durante a pandemia devido aos investimentos que fez adquirindo equipamentos.

“Meu ganho na pandemia aumentou, porque o cravador ganha pela mão de obra e com a quebra, que é o material [ouro] que sobra. Antes eu vendia esse material que sobrava a um preço pago no mercado pelo metal bruto. Agora eu agrego valor com a oficina que montei em casa, confeccionando outras joias, como uma aliança de casamento, por exemplo”, explica.

Neste momento de pós-pandemia, o que se é que podemos assim chamar, as perspectivas são as melhores possíveis à dupla, pois durante nossa conversa, ele revelou que acabara de fechar contrato de aluguel para retornar ao centro em um espaço só deles. “Agora vamos ter um espaço para novos clientes, porque em casa, embora tenhamos a internet e aplicativos como ferramentas, ficamos mais restritos aos clientes que já atendemos. Com o novo espaço poderemos divulgar ainda mais nosso trabalho”, ressalta.

Com as restrições sanitária a maioria das pessoas não queria nos receber. Pensando nisso, eu e minha esposa abrimos uma lojinha, Vinícius Martelo

O 17º empreendedor – Os dados da Receita Federal também revelam que durante a pandemia o quadro de empresas ativas no setor de joias da Capital se manteve estável. Destaque para o 2020, ano do início de casos do coronavírus no país, que teve quatro novas empresas em relação ao ano anterior. Em 2021 houve uma baixa, ficando em 16 empresas e já em 2022, retornou para 17.

Mais uma vez, com se não bastasse, um detalhe me chamou atenção nestes números. No pequeno mercado de joalherias em Campo Grande, quem seria o décimo sétimo empreendedor que estaria disposto a apostar suas fichas? Pois descobrimos.

Natural de Alta Floresta, mas vivendo em Paranaita, cidade do Mato Grosso com pouco mais de 11 mil habitantes, Vinicius Antônio da Silva Martelo, 26 anos, tinha o sonho de conhecer a praia e viver em uma cidade grande. Até que há cinco anos aproveitou a oportunidade e se mudou para Campo Grande, acompanhando um amigo que por lá residia e voltava para casa.

Vinícius aprendeu ofício para atender demanda no comércio de vendas (Foto: Arquivo pessoal)
Vinícius aprendeu ofício para atender demanda no comércio de vendas (Foto: Arquivo pessoal)

“Quando eu cheguei pensei em ficar uns três meses apenas, mas como eu tinha carro próprio e fui trabalhar de motorista de aplicativo, acabei batendo o carro. Pois tive que vender o meu veículo para pagar o conserto do outro e trabalhar novamente para conseguir dinheiro”, lembra.

Trabalhou com carro alugado até conseguir quitar as dívidas, no entanto, quis o destino que uma campo-grandense cruzasse seu caminho. “Dessa vez pensei: agora vou embora, mas foi quando conheci minha esposa”.

Com apenas R$ 1.000 no bolso, o ex-acadêmico de direto dividia as despesas com outra pessoa e vivia sem muitas perspectivas de carreira profissional. Foi quando um amigo o incentivou a trabalhar com vendas de semi-joias, em 2019. A partir de então sua trajetória começou a mudar e nessa caminhava já contava com a, agora, esposa Kethellin Portilho do Nascimento, 19 anos.

 “Eu não tinha muito dinheiro para investir, então comprei R$ 700,00 em mercadoria e vendi tudo. Comprei mais, mas demorava uns 10 dias para chegar e quando chegava não dava nem para dois dias. Trabalhava visitando os clientes e apresentando o produto que ficava acomodado em uma maleta”, recorda Martelo.

Porém, em março de 2020 os casos de Covid explodiram no Brasil. “Com as restrições sanitária a maioria das pessoas não queria nos receber. Pensando nisso, eu e minha esposa abrimos uma lojinha para atender esse público e nos surpreendeu. Com a demanda em alta, em plena pandemia, conseguimos arrumar a loja e comprar mais mercadoria”, lembra o comerciante.

De acordo com o casal, a escolha do local foi determinante para o bom andamento nos negócios, pois o ponto que escolheram fica na Rua da Divisão, no Bairro Parati, no qual era bem movimentado e o valor do aluguel mais acessível do que em outras regiões.

Vinícius relata que devido às dificuldades financeiras chegou a morar por alguns meses dentro da própria loja sem móveis ou eletrodomésticos. “Cozinhar, por exemplo, não dava. Só tínhamos o básico mesmo”.

Com a abertura do espaço físico o faturamento da loja dobrou e a dupla investiu em capacitação e novos serviços aos clientes, como consertos e fabricação própria, tanto em banhados, quanto ouro, além de divulgação maciça pelo Facebook. Vinícius não perdeu tempo e buscou uma oficina de joais para aprender a profissão. “Fui aprender para atender a essa demanda porque a procura pelo ouro e consertos era muito alta”.

De acordo com Martelo, no último ano eles tiveram mais um salto nos rendimentos com fabricação própria e reformulação visual da loja. Em janeiro deste ano, mais uma conquista aos empreendedores: a formalização do comércio. O alvará de funcionamento é destaque na parede do comércio.

Aos 19 anos Kethellin Portilho em seu comércio na Rua da Divisão, no Parati (Foto: Marcos Maluf)
Aos 19 anos Kethellin Portilho em seu comércio na Rua da Divisão, no Parati (Foto: Marcos Maluf)

“Temos planos de ampliar e até abrir uma outra loja em outro bairro ou no centro. A tendência é melhorar”, vislumbra Kethellin.  Mas, o marido garante que não deixará, de forma alguma, o ponto que estão atualmente, na região do Aero Rancho. “Aqui o custo é bem em conta. Digo que é meu pontinho. Não largo, porque foi aqui onde tudo começou”.

Ele queria ensinar os filhos quando crescessem, pois dizia que era para eles terem uma profissão, Walquíria Murer

Memória viva -  Todo ourives que se preze tem que ter uma banca (mesa de trabalho) em casa. Afinal, levar o serviço que ficou incompleto no horário de expediente da empresa para terminar em casa é de lei. Pois, neste seguimento, muitas vezes, o profissional ganha por produtividade e recebe somente pelo que produz.

Com Fabrício não foi diferente ele tinha a sua e a mantinha sempre impecável na organização. Após sua partida, quem herdou, segunda a mãe, Sueli, foi a sobrinha Letícia, 19 anos, que também já inserida no ambiente da joalheria rio-pretense.

Levando em consideração que atualmente, os pequenos negócios respondem por 99% das empresas brasileiras, não há como negar que este segmento foi fundamental para garantir aos trabalhadores deste setor, mesmo que em baixo número, uma vida mais digna durante a pandemia.

E é justamente este modelo de negócio que muitas vezes leva o trabalhador à informalidade e perda de garantias de uma aposentadoria segura. Já por outro lado, cria naturalmente um ambiente propício para se empreender. Afinal, a mesa equipada com as ferramentas básicas já está ali, no pequeno cômodo, e para transformá-la em empresa é um pulo, a exemplo do que fizeram alguns de nossos personagens.

Maurilio estava no caminho e deixou, além dos trabalhos prestados e exemplo aos filhos o seu  símbolo de resistência: a banca.

“Com muita luta Maurilio conseguiu montar uma banquinha para trabalhar em casa, pois pegava serviços por fora ou quando não terminava no trabalho levava para terminar. Nos fundos tinha uma peça onde ele colocava o que foi comprando aos poucos. Ali trabalhava de madrugada para entregar no dia e hora certa o que havia combinado. Ele queria ensinar os filhos quando crescessem, pois dizia que era para eles terem uma profissão. Tomara que sim”, proferiu Walquíria Murer.

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