"É mais uma vitória", resume rainha de Carnaval que é mulher trans
Mulher trans, Bárbara luta pelo movimento LGBTQIA+ há 20 anos e narra que comentários transfóbicos são diários
Há 20 anos, desde que foi esfaqueada e vítima de homofobia, Bárbara Bismarck Araújo, uma mulher transexual, decidiu que lutar pelos direitos do movimento LGBTQIA+ era uma questão de sobrevivência. Neste ano, ela foi eleita rainha do Carnaval em Coxim e, em conjunto à alegria de mais uma vitória, tem lidado com os típicos comentários machistas.
Acompanhando as polêmicas e reações, Bárbara conta que os ataques vão desde falas em grupos em WhatsApp até comentários em Facebook. “Gente falando que não tinha mulher para concorrer, como se eu não fosse uma, dizendo que Coxim esperava uma coisa e ganhou outra. É triste”.
Narrando o processo, Bárbara diz que costuma participar do Carnaval de Corumbá, mas optou por valorizar sua cidade neste ano. “Não quis deixar de prestigiar, então fui convidada, me inscrevi, investi na minha roupa e é muito legal porque sou muito querida por aqui. Acho que essas pessoas que estão falando coisas ruins são uma minoria, no fim das contas”.
Por ter experiência com a festa, ela comenta que sabia como se preparar e se empolgou nas preparações. “Eu desfilei pela primeira vez no Carnaval há mais de 20 anos, recebi um convite para a Vai-Vai quando morava em São Paulo. Depois, voltei para Coxim e como não costuma ter muita festa, passei a ir para Corumbá. Lá desfilei por quatro Carnavais na Imperatriz Corumbaense”.
Se lembrando do dia em que a seleção ocorreu, Bárbara pontua que não acreditava que as pessoas realmente estavam dizendo seu nome. “O povo começou a comemorar comigo e um monte de gente falou ‘esse ano é de vocês’ porque as principais pessoas do Carnaval são LGBTQIA+”, relata Bárbara.
Sabendo que a cidade é conservadora, ela detalha que já esperava reações negativas após receber o título de rainha do Carnaval. “Nós somos uma das cidades com maiores números de agressão contra pessoas LGBTQIA+, então imaginava. Mesmo assim, quando me chamaram para participar da competição, eu fiquei super lisonjeada, ainda mais quando fui escolhida”.
Sobre sua trajetória no movimento, Bárbara explica que a história teve início de forma trágica. “Assim que cheguei em Coxim fui esfaqueada por causa de homofobia mesmo. Eu estava em uma festa e neguei ficar com esse homem, acho que por se sentir enfrentado, ele decidiu que podia me agredir”.
Conforme o relato da diarista, foram cinco perfurações e, no decorrer do tempo, novas agressões surgiram. “Tenho uma história longa, já fui agredida por um casal, meu ex-companheiro me agrediu também. Então minha luta pelos nossos direitos também é por essas agressões”, explica.
Mesmo assim, ela garante que nunca pensou em deixar as pautas que acredita para trás. E, tendo sido rainha do Carnaval, vê essas possibilidades e oportunidades como avanços apesar das polêmicas e comentários preconceituosos.
“Acho que, sinceramente, até agora não caiu minha ficha. Eu respondi alguns comentários maldosos, mas decidi deixar para lá e não alimentar essas pessoas. A gente precisa comemorar nossas vitórias”, completa.
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