Em terminal, ônibus não sai lotado e medo caminha com passageiros
Lado B passou 1h30 em terminal de ônibus e não viu desrepeito à lotação, e sim medo das pessoas em pegar covid-19
Os raios de sol ainda nem cortaram o céu de Campo Grande, faltam 20 minutos para às 6h da manhã, e o Terminal Bandeirantes já está lotado. Apesar da quantidade de gente no local, paira certo silêncio no ar, as pessoas andam sem falar muito, sem gesticular, assim como permanecem na fila. De manhã, tudo é diferente.
O ônibus da linha 080 dirigido por Eduardo Pompeu chega pouco depois das 6h vindo do Terminal Aero Rancho. O coletivo já está relativamente cheio, podendo receber só mais alguns passageiros.
Aos que esperam na metade do final da fila, a certeza de que aquela ainda não é hora de embarcar. Um fiscal entra primeiro no ônibus, faz a contagem, permite que alguns da fila entrem e depois cessa o andamento.
Aquele ônibus já está com lotação máxima, de 30 passageiros sentados e sete em pé, como determina o decreto municipal que estabeleceu regras para atenuar o impacto do coronavírus.
Conversamos brevemente com o motorista, que disse não encontrar resistência da população em respeitar o decreto. “Eu tive problema uma vez só nesses meses com um rapaz que não poderia entrar porque já estava com ônibus lotado, mas que insistiu para subir. Mas logo fiz ele entender que não podia, que ele estava atrapalhando os outros usuários, e ele desistiu”, lembra Eduardo.
Todos no ônibus usavam máscara, muitos carregavam álcool em gel, mas nenhum passageiro carregava a confiança de que estavam seguros.
Diogo da Silva, de 21 anos, auxiliar de manutenção em uma empresa que arruma ar-condicionado, diz que só pega ônibus porque tem que trabalhar. “Eu, pessoalmente, não me sinto seguro, mas fazer o quê?”.
A prestadora de serviço no Banco do Brasil, Lilia Aparecida Soares, de 53 anos, além de não estar se sentindo segura, ainda tem testemunhado alguns casos de desrespeito às regras.
“Principalmente no Centro da cidade, eu vejo que as pessoas não estão ligando pra distanciamento. Isso deixa a gente com medo né”, afirma Lilia.
A doméstica Maria Paulino espera para entrar em um ônibus da linha 080. Ela diz que nunca pegou um ônibus lotado, mas depois refaz a resposta com outra pergunta. “Mas o que é lotado? Pra mim do jeito que está aí já está lotado. Eu mesmo vou porque minha patroa tá me esperando, precisa de mim e eu preciso do dinheiro, mas é um risco, com certeza”.
Outra doméstica, Valquíria Soares Ferreira, ia ao Centro fazer exame médico. “Eu trabalho perto de casa, não preciso pegar ônibus. Essa é a primeira vez que pego, na verdade, nesses últimos tempos. Tô meio assustada com a quantidade de pessoas”.
Em geral, em todas as linhas, por mais que houvesse longa fila de espera, era possível notar organização entre as pessoas. A equipe de reportagem ficou cerca de uma hora e meia no terminal e não flagrou nenhum ônibus com lotação acima do permitido pelo decreto, nem qualquer tentativa de desrespeitá-lo.
O que se percebeu, claramente, é que a letra fria das regras está, de certa forma, em dissonância com sentimento das pessoas. A regulamentação do uso dos ônibus, por mais compreensível que seja nesse momento, não traz o alento necessário para quem acorda cedinho pra trabalhar.
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