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Comportamento

Em véspera de feriado, histórias de quem não abriu mão do grito de independência

Evelise Couto | 04/09/2015 06:56
Independência ou morte!
Independência ou morte!

Oba! Segunda-feira é feriado e já tem muita gente fazendo dancinha da vitória porque vai poder dormir até mais tarde. Que beleza, né?

Mas se você olhar lá na folhinha vai ver que nesse dia comemoramos a Independência do nosso amado Brasil e já que ser independente é um tema tão recorrente nas conversas da Casa de Um, hoje decidimos recolher alguns depoimentos de gente que saiu de casa, foi atrás dos seus sonhos, do seu lugar no mundo e está em busca de sua independência tão almejada. Alguns já chegaram lá, outros acreditam que a independência vem na luta de todos os dias e outros se esforçam e desejam com todas as forças agarrá-la com unhas e dentes.

Esses depoimentos têm o objetivo de inspirar a todos aqueles que buscam a sua própria independência, seja financeira ou emocional.

Em véspera de feriado, histórias de quem não abriu mão do grito de independência

Fui expulso de casa pela vida, resolvi fazer faculdade fora e o único lugar em que fui aprovado foi na UnB. Num dia eu morava com meus pais em Ipatinga (MG), no outro eu estava numa outra cidade a mil quilômetros de casa e tinha que me virar. Minha mãe e meu pai me sustentavam no começo, mas era coisa pouca. Eles moram no interior, não tinham a menor noção do custo de vida aqui em Brasília. No final do primeiro semestre eu já queria ser independente e cheguei a entrar em depressão por depender do dinheiro deles.

Meu pai pagava o aluguel, que era a maior despesa, minha mãe me dava dinheiro pro resto. Depois de alguns meses eu já estava de saco cheio de ter que pedir dinheiro pra minha mãe toda vez que eu queria ir ao supermercado. Aí entrei em acordo com minha mãe: ela me dava ‘X’ por mês e não pedia prestação de contas, e eu não tinha direito de pedir mais a não ser em casos extremos. Ficou sustentável por um ano, parecia que eu tinha um salário, eu aprendi a me tornar responsável com meu dinheiro, mas era completamente diferente.

Daí eu arrumei uns freelas e comecei a ganhar MEU dinheiro mesmo, que não era nem de longe suficiente pra me sustentar. Sempre quis jogar tudo pro alto e trabalhar só pra pagar minhas contas, mas minha mãe sempre insistia que eu me preocupasse com os estudos porque o emprego viria naturalmente. Dito e feito. Quando comecei a trabalhar no meu TCC me ligaram da Câmara, fui contratado como editor de vídeo antes mesmo de me formar com horário integral. Nunca tinha feito estágio nem nada, não conhecia ninguém daqui, fiz uma entrevista e ‘puf’, deu certo. Desde então eu não aceito nem meio centavo dos meus pais.

Eu sou uma pessoa que acredita no indivíduo como partícula mínima da sociedade, eu acho importantíssimo que cada um seja capaz de se sustentar não só economicamente, mas em todas as tarefas do dia a dia. Se eu não sei cozinhar, arrumar casa, eu tenho que aprender a fazer isso. Minha independência dos meus pais foi uma coisa meio que necessária pra minha vida como adulto, eu sentia que eu não seria capaz de amadurecer e ser um indivíduo completo, um cidadão de verdade, se eu não me tornasse independente. Foi um processo muito natural que acompanhou meu desenvolvimento intelectual e quanto mais eu aprendia, mais minha independência era algo que eu desejava.

Gustavo Lyra, editor de áudio e vídeo, 26 anos

“Independência é um conceito muito amplo. Independência emocional, financeira, de expressão? Meu primeiro lampejo de independência aconteceu quando percebi que eu era uma cópia dos meus pais (em grande parte, uma cópia dos defeitos). A ansiedade, a bagunça, a falta de pontualidade... Além disso, descobri que grande parte do que eu era tinha como objetivo agradar minha mãe. Essa é a primeira liberdade: se livrar de sua própria criação. De certa forma, isso é mudar o passado. A independência financeira é, talvez, a mais fácil de ser conquistada.

Não costumamos nos apegar muito ao dinheiro. Se você o perde, pode recuperá-lo. Não é como em relacionamentos, em que tendemos a ser vitimistas, julgadores e egoístas. Com o dinheiro é simples: ter ou não ter. Pagar ou dever. Morar com os pais ou sozinho.

Casa de um ou de dois. Acho muito mais fácil entender as altas e baixas da taxa SELIC do que as altas e baixas do meu humor. No entanto, a independência financeira (acompanhada de uma certa dose de solidão) traz autoconhecimento e reforma íntima. Só depende de você saber ser independente. Ser independente é arriscar e pensar fora dos padrões. É viver com o coração aberto, mesmo que sinta dor. É ter a coragem de tomar suas próprias decisões, mesmo que elas pareçam meio malucas.”

Sammy Leal, professor, 29 anos

“Acredito que hoje é muito normal as pessoas ficarem na casa dos pais por mais tempo que antes, pois é mais fácil a gente se acomodar ao luxo e conforto que temos com eles e ir levando as coisas assim, mas eventualmente a gente percebe que precisa fazer as coisas de um jeito diferente. Eu queria fazer uma pós que só tem aqui em São Paulo e por isso, precisei sair de casa. Era uma oportunidade e uma possibilidade que eu não teria ficando em Campo Grande e por isso fui.

Eu já tinha feito intercâmbio antes e isso tinha me ajudado bastante a crescer e tudo mais, mas aqui as coisas são diferentes, tenho mais responsabilidades e preciso cuidar mais de mim. Ainda não alcancei a independência completa, mas tenho trabalhado bastante e tentado criar uma rotina saudável, fazendo as coisas por mim mesma, mesmo que ainda conte com a ajuda do meu pai. É impressionante o quanto a cabeça da gente muda quando começamos a andar com as nossas próprias pernas, por isso é tão importante ir atrás de nossa independência.”

Gabe Mosena, jornalista, 24 anos

O desejo de ser independente sempre existiu. O primeiro baque foi aos meus 17 anos quando saí de Três Lagoas para Campo Grande fazer cursinho. Na época ainda morava com uma tia, mas era eu quem dava meus pulos. Tive que aprender a andar de ônibus, aprender a cozinhar e perder um pouco da vergonha. Dai passei em psicologia em Paranaíba, lá morei em uma república dividindo despesas com meninas que tinha conhecido na matrícula.

Ninguém conhecia a cidade, foi uma fase engraçada. Larguei a faculdade, fiz cursinho de novo e ai quando vim pra Campo Grande fazer jornalismo descobri o que era morar sozinha. Foi um misto de emoções. Eu tinha medo, no começo ainda ligava para minha avó pedindo socorro, à distância ela me dava algumas instruções e já ajudava muito. Com o tempo realmente me desprendi desse hábito.

Ia ao mercado fazer compras, voltava cheia de sacolas e sempre pensava como era bom saber que tinha capacidade de cuidar de mim. Às vezes acho que nem percebi essa mudança de menina pra mulher que paga as próprias contas, foi muito natural. A independência, foi quase uma questão de honra, uma conquista pessoal, mas também é um presente pra minha família. Sempre quis retribuir todo o amor, cuidado e apoio financeiro que ganhei. Acho que nada paga isso! Ainda não posso ajudar tanto, mas é pra isso que trabalho. Um dia a gente chega lá, né?”

Izabela Borges, jornalista, 25 anos

E você, quer enviar seu depoimento pra gente? Envie até esse domingo (6) no inbox para postarmos lá na fanpage!

*Evelise Couto é jornalista, colaboradora do Lado B e autora do blog Casa de Um , com dicas e experiências para quem mora sozinho.

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