Festa resgatou história de família que chegou ao Estado em 1952
Em Aquidauana, diferentes gerações se uniram para celebrar origem de comunidade quilombola
Tradição e um encontro de gerações marcaram os 71 anos de chegada dos Baianos em Mato Grosso do Sul. A Comunidade Negra Rural Quilombola Furna dos Baianos fica no distrito de Camisão, em Aquidauana, a 135 km de Campo Grande. Pela 1ª vez desde 13 de dezembro de 1952, a família organizou uma festa que resgatou e celebrou a história dos primeiros fundadores a virem da Bahia para o Estado.
O evento de celebração e união ocorreu no último final de semana através da iniciativa das primas Flávia da Silva Ferreira, de 37 anos, Elenilde Santos da Silva, de 48 anos e Renilde dos Santos Souza Freitas, de 45 anos. Ao Lado B, Flávia conta um pouco sobre a trajetória da tia avó, o avô e dos demais familiares.
Em busca de uma vida melhor, os primeiros fundadores saíram de Tapiramutá (BA) e Mundo Novo (BA) no grupo formado por 49 pessoas. Eles seguiram da Bahia para São Paulo de caminhão ‘pau de arara’. De lá, eles pegaram o trem rumo a Aquidauana na viagem que durou 15 dias e terminou em 13 de dezembro, que é o Dia de Santa Luzia - Protetora dos olhos.
Francisco Correia dos Santos e sua esposa Antonia Correia dos Santos, que são tios e avós de Flávia, foram os primeiros a adquirirem propriedade no local conhecido como ‘Córrego das Antas’. Em 1960 chegaram os avós de Flávia, o casal Deonísio Bento Ferreira e Maria Silva de Ferreira com o filho de seis meses.
Com o pai, Flávia morou anos em Furnas dos Baianos até se mudar para Campo Grande onde trabalha como professora. Apesar da distância, ela não perdeu a conexão com o local e parentes, como o tio Miguel Correia dos Santos, de 92 anos, que é o último fundador vivo.
Foi através de uma conversa com o tio que a professora soube que a família nunca celebrou a chegada em Mato Grosso do Sul. Com o apoio das primas, ela comenta que organizou a primeira festa dos Baianos em Furnas.
“Essa data tem passado batida, despercebida por muitos anos. A gente nunca comemorou essa data tão importante. Aí que surgiu a ideia e em parceria com mais duas primas e mais algumas pessoas da família nós fomos amadurecendo a ideia e conseguimos realizar esse ano”, conta.
Para realizar a festa todos se uniram e contribuíram de alguma forma. A celebração, que teve o apoio da Sectur (Secretaria de Cultura e Turismo) de Aquidauana, proporcionou homenagens às famílias, teatro com as crianças e reconto da história da chegada dos Baianos. Um dos momentos especiais foi o samba baiano em homenagem ao tio Miguel Correia. “Ele adorou, dançou e ainda bateu pandeiro”, diz Flávia.
O evento, segundo Flávia, possibilitou que os mais novos conhecessem a trajetória da família em Piraputanga e a criação da Comunidade Negra Rural Quilombola Furna dos Baianos. “A gente precisa compartilhar com as outras pessoas a nossa história, com os mais jovens da família porque eles não sabem, não tiveram a oportunidade de conviver, de conhecer. Através dessa festa a gente conseguiu mostrar um pouquinho”, afirma.
Desde fevereiro de 2007, a Comunidade Rural Negra Quilombola é reconhecida pela Fundação Cultural Palmares.
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