Fronteira entre Brasil e Paraguai é o escritório do raizeiro Kaiapó
De um lado Sete Quedas, Brasil e do outro Poty Porã, Paraguai. O canteiro central da Avenida Internacional que divide os dois países é o escritório de trabalho de Antônio Lopes, de 47 anos, mais conhecido como o Índio Kaiapó, o raizeiro.
Antônio nasceu em Mariluz, no Paraná e antes dos 20 anos já estava na estrada. O conhecimento sobre a função de cada planta medicinal passou de pai para filho. O raizeiro é descendente dos índios kaiapós, oriundos do Pará.
Com o sonho de conhecer o país, ainda menino, Antônio deixou o Paraná e começou a percorrer as cidades com as ervas medicinais a tira colo. A Praça da Sé, localizada no coração de São Paulo, já abrigou o índio.
“Eu fazia bastante sucesso, muita gente se consultava comigo e depois indicava conhecidos para acabar com os males da saúde”, explica o raizeiro.
A última parada, antes de montar a loja itinerante em Sete Quedas, foi a capital goiana. Há mais de um ano, o índio se estabeleceu na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, alugou casa em Sete Quedas e decidiu “dar uma parada”.
“Quando eu era bem novo conheci essa região e sempre tive na cabeça que voltaria para cá. Eu amo esse lugar”, diz Antônio.
Na Avenida Internacional, o escritório ao ar livre conta com uma mesa improvisava em uma tábua, um pneu que sustenta o mastro da placa que faz a publicidade do trabalho e todas as ervas ficam expostas em sacos plásticos sobre uma lona.
O índio conta que os mais de 50 tipos de ervas curam qualquer problema de saúde. Diferente do que muita gente pensa, os que mais procuram os serviços do Kaiapó não são idosos ou adultos. “Ultimamente muitos jovens vem aqui para curar a impotência sexual. Para esse male eu indico uma garrafada com catuaba, ginseng e outros segredos”.
Apesar de se estabelecer pouco tempo na maioria dos lugares onde passa, Antônio afirma que muitas pessoas viajam mais de 10 horas para buscar as ervas curandeiras. “Esse ano, já teve gente que veio de São Paulo, Santa Catarina e Goiás só porque ficou sabendo que eu estava aqui. Minha propaganda é de boca a boca”, completa o raizeiro.
Mesmo com a fama da violência nas fronteiras secas, o Kaiapó não desmonta a loja quando vai embora para casa. “Eu só cubro as ervas, não tem problema nenhum em deixar tudo aqui. Os guardas das lojas e a polícia gostam muito de mim e ficam de olho”.
Além de curar quem tem problemas de saúde, Antônio também divulga a fauna brasileira. Dois cascos de tatu, ferrões e couros de arraia estão expostos ao lado das garrafadas. Ao ser questionado sobre o motivo dos itens, o índio não vacila ao responder.
“Tem muita criança que nunca viu um bicho na vida. Eu divulgo a natureza desse Brasil e sou muito feliz fazendo isso”.