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Comportamento

Há 10 anos, Ivani mantém república que valoriza trabalho de costureiras

Por Jéssica Fernandes | 29/03/2024 08:12
2º encontro da República das Arteiras em parceria com o Sesc Brasil, em 2023. (Foto: Arquivo pessoal)
2º encontro da República das Arteiras em parceria com o Sesc Brasil, em 2023. (Foto: Arquivo pessoal)

A costura é o que une mulheres de diferentes idades e histórias que encontraram na profissão uma forma de ter a própria renda. Em Campo Grande, Ivani Marques da Costa Grance, de 53 anos, é uma costureira de mão cheia que criou uma startup com a proposta de valorizar o trabalho de todas as profissionais do ramo igualmente.

Formada em Ciências Sociais, Ivani é idealizadora da ‘República das Arteiras’. Costureira há mais de 30 anos, ela usa a experiência e conhecimento que tem para auxiliar mais de 100 costureiras da Capital que têm entre 35 a 70 anos.

Através da plataforma digital, as profissionais fazem o cadastro no site que funciona como uma ‘vitrine de negócios’. Ivani fala que o website foi desenvolvido para divulgar os serviços e ajudar elas com clientes em potencial.

Ivani Marques, a criadora da startaup voltada para costureiras. (Foto: Liahfoto)
Ivani Marques, a criadora da startaup voltada para costureiras. (Foto: Liahfoto)

“Ela se cadastra e fica na nossa vitrine que tem 11 modalidades de serviço. O consumidor tem acesso ao contato e a comunicação é direta porque não interferimos. Tem essa característica de não monetizarmos em cima do trabalho da costureira”, explica.

O site é uma das conquistas mais recentes da ‘república’ que começou  percorreu um longo caminho a partir dos passos que Ivani deu. O primeiro foi ingressar na universidade pública e descobrir as respostas que há tempos precisava.

“Eu tinha uma inquietação do porquê o trabalho das minhas colegas era mal remunerado. Na faculdade explorei esse questionamento e percebi a invisibilidade da costureira como uma barreira de acesso ao consumidor final”, comenta.

1ª formação do coletivo na Incubadora Municipal Mario Covas. (Foto: Arquivo pessoal)
1ª formação do coletivo na Incubadora Municipal Mario Covas. (Foto: Arquivo pessoal)

Essa barreira, segundo a costureira, é representada na maioria das vezes por um terceirizado que fica entre a profissional e o cliente final. Nessa hierarquia, a costureira vem em último e consequentemente recebe menos do que deveria pelo trabalho. Isso ocorre porque o intermediador é quem lucra com o serviço.

Para remediar essa e outras situações, a empresária criou a ‘República das Arteiras’ em 2014. Antes de ser startup, a república era um coletivo feminino que começou com as alunas da ONG onde Ivani era voluntária. Em 2018, o trabalho na ONG foi encerrado, mas a costureira seguiu com o trabalho.

“Eles me cederam o equipamento e toda a oficina de costura saiu comigo. Fomos para a incubadora municipal, no Bairro Mário Covas, e começamos como um coworking para que as costureiras tivessem maquinário e suporte. Atendemos  clientes diretamente e a maioria do setor de moda autoral”, fala.

Costureiras no Instituto de Desenvolvimento Evangélico. (Foto: Arquivo pessoal)
Costureiras no Instituto de Desenvolvimento Evangélico. (Foto: Arquivo pessoal)

No mesmo ano, a cientista social elevou o negócio a outro patamar após ser desafiada a remodelar para o formato digital . “Tivemos acesso a um evento do Living Lab sobre ‘Negócios de Impacto’ e era isso que eu queria. Não era para ser ONG e nem empresa comum para lucrar em cima do trabalho de alguém”, esclarece.

Durante a pandemia, o site foi desenvolvido paralelamente ao trabalho das costureiras que na época faziam diversas máscaras de proteção. Apesar da república funcionar de forma online, Ivani fez muita pesquisa de campo conversando com colegas de profissão e explicando a proposta da startup.

Além de trazer as costureiras para o site, a cientista social destaca que o intuito da república é prestar suporte, aproximar a rede de costureiras e dar poder de negociação que não inclua o terceirizador.

“Temos um grupo do Whatsapp e quando elas precisam de suporte vem o socorro. Eu criei o grupo para dar esse pertencimento, formar vínculo porque o mercado incentiva a rivalidade. Elas sendo rivais é interessante para o terceirizador”, pontua.

O poder de negociação, conforme a empresária, também envolve o cliente final. Por isso, é essencial que as costureiras saibam como negociar matando o valor justo pelo serviço. “Quando você paga R$ 25 por uma barra de calça você não está pagando só a mão de obra dela, você paga pela máquina de costura, energia elétrica, internet que ela disponibiliza quando você faz o Pix”, afirma.

Com o sonho de expandir o negócio para outros estados, Ivani segue incentivando e empoderando outras costeiras a ocuparem o mercado de trabalho de forma consciente independente da idade ou escolaridade.

Quem quiser conhecer a startup, o perfil no Instagram é @republicadasarteirascg

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