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Comportamento

Há 10 anos, Júlio viaja levando histórias e comida raiz de comitiva

Ex-peão, ele virou cozinheiro especialista em feijão gordo, macarrão frito e outras delícias pantaneiras

Por Jéssica Fernandes | 26/03/2024 07:13
Júlio Pipoca monta acampamento para cozinhar pratos de comitiva. (Foto: Silas Ismael)
Júlio Pipoca monta acampamento para cozinhar pratos de comitiva. (Foto: Silas Ismael)

Feijão gordo, arroz carreteiro, macarrão frito e outros pratos típicos da cozinha pantaneira são a especialidade de Júlio Norberto Gomes, de 55 anos. Mais conhecido como ‘Júlio Pipoca’, ele roda várias cidades de Mato Grosso do Sul com a ‘Comitiva dos Amigos’.  Por onde passa, o cozinheiro leva um pouco do tempero de comitiva para pessoas que nunca tiveram a chance de experimentar.

Natural  de Aquidauana, Júlio mora em Coxim e foi nessa cidade que a carreira como cozinheiro despontou. Na época, ele era proprietário de uma selaria quando surgiu a oportunidade de cozinhar em um evento da cidade.

“Aqui tem a Festa Pantaneira, do dia do Pantaneiro e o pessoal do Sebrae perguntou se tinha algum cozinheiro para fazer um arroz carreteiro. Como fui peão do Estradão, viajei com os bois, com o pessoal do Lúdio Coelho, eu fui lá fazer essa comida”, conta.

Veja o vídeo:

Preparar o carreteiro foi o começo da história que já dura uma década entre Júlio e a culinária pantaneira. O trabalho com a selaria ficou para trás e ele investiu na Comitiva dos Amigos, que funciona como uma espécie de cozinha ambulante.

Acompanhado das panelas e usando o chapéu de palha, Júlio visitou quase todas as cidades do Estado. “Tem tempo que a gente vai cozinhando nessa vida nossa, no Estradão”, resume. Sem agenda fixa, o cozinheiro viaja conforme a demanda de eventos, como festas de cidade, rodeios, leilões e festas beneficentes. Quando está em Coxim ele faz o almoço de comitiva na praça toda quinta-feira.

Independente do lugar, o cozinheiro faz questão de mostrar todos os detalhes da cultura e gastronomia pantaneira. “A gente gosta de levar o nosso sistema e vestir o estilo que a gente usa no Pantanal. É o chapéu carandá, de palha, a faixa na cintura e a faca. Eu levo isso para dentro da minha cozinha”, afirma.

Cozinheiro há dez anos, ele tem o próprio sistema de trabalho. (Foto: Silas Ismael)
Cozinheiro há dez anos, ele tem o próprio sistema de trabalho. (Foto: Silas Ismael)

Antes mesmo de preparar a comida, o aquidauanense expõe todas as ‘tralhas de arreio’ que guardou dos tempos de peão. O acervo é composto pelas bruacas de carga, a trempe com fogo de lenha, a guampa de tereré, as latas d’água e outras peças decorativas. Em seguida, o cozinheiro inicia os preparativos do feijão gordo, arroz carreteiro, quibebe de mandioca, vaca atolada e a costela fogo de chão.

Os ‘acompanhamentos’ desses pratos reforçados são as histórias de Júlio Pipoca. O cozinheiro gosta de relembrar os tempos de peão e falar para as pessoas como era a vida percorrendo o Pantanal sul-mato-grossense.

“A gente passou pela vida do pantaneiro, então a gente fala sobre nós.  Na época de peão eu trabalhava descalço por causa da água. Aí a gente corria atrás de onça, pegava um porco. A gente conta essas histórias que aconteceram com a gente”, explica.

Mostrar a simplicidade dessa vida e dos pratos que fazem parte dessa cultura é uma das alegrias de Júlio Pipoca. Em abril, entre os dias 4 a 14, o cozinheiro vem à Capital para participar da Expogrande. Na ocasião, ele estará com a Comitiva dos Amigos fazendo as refeições caprichadas no tempero.

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