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Comportamento

Histeria no grupo de Whats de mães não ajuda nada a evitar coronavírus

Verdade seja dita: os compartilhamentos e mensagens somado aos sintomas que podem ser de qualquer coisa só estão causando pânico

Paula Maciulevicius Brasil | 14/03/2020 09:25
Participo de alguns grupos que reúnem mães e tenho visto muito mais histeria do que medidas para evitar, não só o coronavírus, como qualquer outra doença. (Foto: Henrique Kawaminami)
Participo de alguns grupos que reúnem mães e tenho visto muito mais histeria do que medidas para evitar, não só o coronavírus, como qualquer outra doença. (Foto: Henrique Kawaminami)

Perdi as contas de quantos áudios e vídeos de especialistas recebi nos últimos dias. Nem entro no mérito das fake news, e sim do pânico que o compartilhamento de mensagens pelo WhatsApp tem causado nos pais. Participo de alguns grupos que reúnem mães e tenho visto muito mais histeria do que medidas para evitar, não só o coronavírus, como qualquer outra doença. 

A todo instante surge alguém, acredito eu que na ânsia de se mostrar "por dentro do assunto" repassando mensagens e dando opiniões até sobre quem foi ou quem deixou de ir na Valley. (Vide aqui a reportagem Boate se manifesta após onda de boatos sobre coronavírus em MS)

Não sei bem dizer se são as escolas ou as mães que desesperadas dizem que o filho tossiu e a direção já chamou para tirar ele da sala. Não questiono aqui a medida tomada e sim a forma como os pais estão encarando a pandemia. Repassando tudo a todo tempo

Até quem compartilha mensagem vinda de alguém próximo de alguém que teve contato com alguém que teve o coronavírus, por mais que esteja fazendo isso na boa intenção, está disseminando o medo.

Agora qualquer tosse, espirro ou febre, o desespero toma conta e as mães já querem levar as crianças ao hospital. Atitude que eu, particularmente, evito ao extremo em qualquer caso, justamente porque emergência não é lugar de consulta. 

Por acreditar que ao mesmo tempo em que WhatsApp é uma benção, também pode ser uma arma, a mãe Marina Carvalho Dobashi, compartilhou um pensamento sensato. "Hoje sentei com as funcionárias e dei uma aula. Acho que as pessoas precisam de ajuda, cada uma de nós deve fazer isso para ajudar na informação correta. Precisamos ajudar a desfazer o pânico e com os nossos filhos é a mesma coisa. Só tem algo mais disseminador que vírus, o WhatsApp". 

Considerando o tempo seco, a imunidade dos bebês ainda em "construção", é muito fácil qualquer criança ter qualquer sintoma, em especial tosse ou espirros que podem ser de alergia ou consequência da baixa umidade, já que aqui chegamos aos 35,6 graus no termômetro e umidade abaixo de 31%.

Mãe, Débora Testoni, foi uma das que também levantou a bandeira da sensatez. "Gente, acho que precisamos de mais calma. Cada nariz escorrendo agora vão falar em corona. Não é assim. Influenza mata mais que corona, dengue mata mais que corona... Tem gente fazendo estoque de remédios. É uma boa hora para revermos nossos hábitos de higiene, mas o pânico do que vai ajudar?", questionou.

A conversa se estendeu e ela chegou a nos lembrar que daqui a pouco a gente vai ter alguém ao nosso redor diagnosticado, seja amigo, conhecido ou familiar, o que dispensa muita cautela. "Temos que pensar em que mensagem estamos passando aos nossos filhos quando somos confrontados com uma ameaça como em uma situação dessa. Estamos dizendo para eles entrarem em pânico, serem medrosos, desconfiados e até hostis ao invés da sermos racionais, altruísta e usar a razão para analisar essa pandemia e tomar as medidas de prevenção".

Morando em Mato Grosso do Sul, relembro que temos mais casos e mortes relacionadas à dengue do que ao coronavírus. Conforme boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, a doença transmitida pelo Aedes aegypti já provocou pelo menos 14 mortes só neste ano. "Todo mundo tem medo do novo, mas já pensaram se a gente direcionasse toda essa energia que estamos gastando falando do corona para a dengue?", expõe Débora.

Administradora do grupo de WhatsApp da Aldeia Materna e uma das fundadoras do coletivo, a advogada Fernanda Gomes de Araújo, afirma ser até esperada certa preocupação dos pais por conta dos filhos, como manda a ordem natural da vida. 

"Acho que está mais claro que o problema maior é o impacto que isso, chegando em Mato Grosso do Sul ou no País como um todo, impactaria nas vidas das pessoas, no nosso sistema de saúdePor outro lado, com relação aos grupos de WhatsApp, muitas informações inconsistentes e falsas são compartilhadas, mas percebo que, quando acalmamos os pais, por causa da baixa incidência em crianças, conseguimos voltar os olhos para quem realmente está no olho do provável furacão: nossos antecedentes", diz sobre os avós. 

A mensagem que ela deixa para mim e também nos grupos é de tranquilidade. "Que tenhamos mansidão e pensamento no coletivo quando e se chegar aqui: podemos até falar no WhatsApp para aliviar a tensão, mas ficar em casa para respeitar a saúde sua e a alheia".

Orientações médicas - Depois de tanto bombardeio de perguntas, os pediatras da cidade estão tentando orientar os pais quanto aos cuidados, a fim de também minimizar a histeria. Pediatra, Gabriela Paro Elias Marin, fez uma lista com dicas de prevenção que não valém só para o corona, como para qualquer outro vírus. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

👉 Se tiver contato com algum caso suspeito, estiver com sintomas gripais e febre e tiver voltado de viagem de algum país com casos confirmados, IDENTIFIQUE-SE imediatamente às autoridades de saúde ou compareça à unidade de saúde mais próxima! Mas só se tiver contato com casos confirmados ou ter vindo de países com casos confirmados mesmo! Não criemos pânico! Não se deve superlotar pronto-atendimentos!
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👉 Lave muito as mãos! Várias vezes ao dia!
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👉 Use álcool gel sempre que tocar em superfícies potencialmente contaminadas;
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👉 Utilize lenço descartável para higiene nasal e não se esqueça de lavar as mãos ao tossir ou espirrar;
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👉 Evite tocar mucosas (nariz, olhos, boca);
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👉 Não compartilhe objetos de uso pessoal;
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👉 Mantenha os ambientes ventilados;
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👉 Evite frequentar ambientes aglomerados;
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👉 Não visite recém nascido ou gestante se estiver doente!
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👉 Mantenha hábitos saudáveis e medidas de higiene pessoal adequados, bem como as vacinas em dia.

Do aeroporto em São Paulo, a pediatra Natacha Dalcomo Castilho tenta acalmar os pais, principalmente quanto ao uso desenfreado de máscaras. "Essa máscara comum não previne que você entre em contato com o vírus. Na verdade ela previne que as pessoas que tenham o coronavírus não propagem este vírus. Essa correria desenfreada de busca pelas máscaras cirúrgicas, para quem não está com sintoma, na verdade seria desnecessário", enfatiza.

Formas de contágio, sintomas e como evitar o coronavírus. Campo Grande News também está na campanha pela prevenção. (Arte: Thiago Mendes)
Formas de contágio, sintomas e como evitar o coronavírus. Campo Grande News também está na campanha pela prevenção. (Arte: Thiago Mendes)
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