“Kaya vai morrer amanhã”, antecipou mãe 1 dia antes da dor da despedida
O Campo Grande News acompanha o caso da menina desde 2022, até morte cerebral na manhã de hoje
"Kaya vai morrer amanhã". A sentença antecipada partiu da boca da mãe, que após dias de internação já não acreditava em milagre para a filha com suspeita de morte cerebral. Aos médicos, ainda faltava finalizar o “protocolo de morte encefálica”, confirmado no fim da manhã desta quarta-feira, às 11h10.
Mas para os pais, a despedida já era inevitável.
Para menina, a pouca experiência de 1 ano e 5 meses de vida não teve nada de mansa. A história dela é acompanhada pelo Campo Grande News desde setembro do ano passado, quando Kaya foi diagnosticada com bronquiolite, entrou em coma e saiu do Hospital Regional com edema cerebral que causou paralisia. Hoje, o Lado B também se despede de Kaya.
Na semana passada, a equipe de reportagem encontrou os pais em situação bem semelhante a de setembro, ao lado dos outros dois filhos, de 4 e 8 anos, vivendo em uma Kombi no estacionamento do Hospital Universitário, para acompanhar a evolução da caçula internada novamente.
A mãe conta que primeiro veio a pneumonia, mas depois da alta médica em uma UPA da Capital, a menina voltou para casa onde o quadro se complicou. Ela voltou então para o Hospital Universitário, teve duas paradas cardíacas e progressiva falência de órgãos.
A melhora não veio e mesmo 24 horas antes do adeus se confirmar, nada dava esperança. “Eu não tenho onde me segurar mais, nessas horas eu não consigo acreditar em Deus ou milagre”, disse a mãe Patricia Olarte Franco, que já havia decidido, junto ao pai, Keuller Domingues, que não resistiria ou negaria ao diagnóstico de morte cerebral oficializado, como muitos fazem diante da notícia.
Dreadmaker, cabeleireira especializada em penteados afro, a mãe de 28 anos explica que na segunda-feira "falaram da morte encefálica, mas como precisa abrir um protocolo é bem complicado. Eles precisam fazer vários tipos de teste, mas não tem chance de sobreviver”.
Os pais estão juntos há 3 anos e escolheram o nome Kaya que no budismo significa “corpo”. Ironicamente, também batiza um dos discos clássicos de Bob Marley, gravado em 1978, quando o maior ícone do reggae falava em “jornada de cura”, após sofrer atentado político.
Moradores da zona rural de Campo Grande, os pais dizem que sempre tentaram fazer o bem para que nada de ruim acontecesse. Talvez por isso, a mãe diga que “ainda não caiu a ficha, de que eu tenho de correr atrás de velório para minha filha agora”.
A morte dada como certa pela família veio antes mesmo do coração da menina parar, o que tornou a contagem regressiva mais dura. “Os olhos tinham as pupilas dilatadas e ela dependia de uma máquina. A gente queria voltar para casa com ela, mas quem sabe um dia eu compreenda tudo isso”, lamenta Patrícia.
Para os pais, a vida continua, “com um passinho de cada vez” e uma roda de oração perto da Kombi, que nos últimos dias ficou conhecida no HU como a casa de Kaya.
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