Kedney saiu das ruas e agora luta por quem ainda segue sem teto
Campo-grandense está terminando a graduação em Serviço Social e quer seguir na área
Há sete anos, Kedney Araújo não imaginava que hoje estaria lutando para ajudar quem vive nas ruas de Campo Grande. Isso porque ele mesmo já passou por essa situação e graças a um acolhimento é que conseguiu se reerguer.
Aos 26 anos, o campo-grandense é um dos exemplos da Associação Águia Morena quando o assunto é representatividade. Hoje, ele é diretor de comunicação do grupo e não pensa em sair da causa.
Contando sua história, Kedney explica que é filho de uma professora da rede pública e que seu pai é autônomo. Durante a adolescência, completou a escolaridade, mas acabou enfrentando caminhos complexos com o passar dos anos.
No período escolar, enquanto morava em São Paulo, conheceu a maconha e aos poucos a dependência química foi ampliando.
“Eu já estive na rua, morei na rua em Belo Horizonte. Sou daqui de Campo Grande, mas me mudei para Minas Gerais e fiquei lá por alguns anos. No tempo que fiquei lá, me envolvi com substâncias e assim é que fiquei sem casa”, descreve Kedney.
Ao relembrar os detalhes desse período, o estudante conta que além da dependência, também precisava lidar com a prostituição. Nessa época, suas memórias mais difíceis envolvem quase ter sido arrastado por uma enxurrada. "Eu estava com um problema de saúde e me lembro de estar deitado quando veio uma tempestade muito forte. Precisei da ajuda de outras pessoas da rua para não ser levado".
Com sua família em Campo Grande, a ajuda veio de desconhecidos através de um programa que atendia pessoas em situação de rua. O integrante da Águia Morena relata que foi assim que conheceu o Consultório na Rua.
Exemplificando a importância desse serviço, de acordo com a prefeitura de Belo Horizonte, em 2023, as equipes do Consultório atenderam cerca de 10 mil pessoas na capital mineira. “A atuação das equipes do Consultório na Rua é voltada para o público adulto em situação de rua e crianças e adolescentes que estejam em situação de risco e vulnerabilidade. As oito equipes multiprofissionais são compostas por psicólogos, redutores de danos, médicos, enfermeiros, arte-educadores e dois assistentes sociais”, relata a assessoria.
Retornando para Kedney, ele explica que além de ser acolhido pelo serviço, recebeu a oportunidade de atuar dentro do programa. "Esse convite foi o que salvou minha vida porque eu estava pensando em suicídio quando me ligaram para contar sobre a entrevista, sobre como me queriam no programa. O acolhimento me salvou de verdade".
Ao todo, foram dois anos trabalhando no Consultório da Rua e esse contato do outro lado fez com que ele desenvolvesse a vontade de lutar pela causa. No meio do processo, o campo-grandense precisou voltar para cuidar da mãe durante a pandemia, mas as ideias não foram deixadas de lado.
E, já por aqui, conheceu a diretora da Águia Morena, Edna Flores de Araújo. “Já estou há quatro anos na associação, desde que conheci Edna e ela me chamou para trabalhar junto”.
Apesar de ser responsável pela comunicação, sua atuação não se concentra apenas nessa área e, em contato com os usuários do serviço, é fácil ver seu envolvimento e dedicação.
“Agora, estou terminando a faculdade de Serviço Social e sigo bem ativo. É uma causa que me move muito até pelas experiências que já tive”, relata o estudante.
Completando seu depoimento, Kedney explica que a associação está envolvida na causa há 22 anos e atua em bairros como Dom Antônio, Tiradentes, região da antiga rodoviária, Vila Nhanhá, Coophavila 2 e Moreninhas. “Nós entendemos a importância que é que essas pessoas ocupem os espaços da cidade, principalmente os culturais. Sabemos que a arte e cultura são um meio de intervenção no tratamento de dependência psicoativa”.
Para conhecer mais sobre a associação e os trabalhos prestados, o perfil no Instagram é @aguiamorenaprd.
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