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Comportamento

Na fronteira, portão separou Mari da família que ela sonha reencontrar

Venezualana que trabalha em restaurante luta para voltar a abraçar marido e filho que foram impedidos de entrar no país

Thailla Torres | 01/02/2021 06:52
Mariana é venezuelana e trabalha em restaurante indiano de Campo Grande (Foto: Thailla Torres)
Mariana é venezuelana e trabalha em restaurante indiano de Campo Grande (Foto: Thailla Torres)

A venezuelana Mariana Youselet Milano Torres, de 23 anos, que chegou ao Brasil pela fronteira com Roraima passou por um longo caminho até chegar a Mato Grosso do Sul e, enfim, recomeçar a vida. O processo de interiorização da imigrante facilitou a ela a retomada do trabalho, a adaptação ao país e um novo lar. Mas nada disso alivia a saudade da família que ela luta para reencontrar.

Diante do colapso econômico venezuelano, conta Mariana, não havia escolha senão deixar para trás a cidade onde vivia e procurar abrigo no Brasil, já que alguns amigos tinham tomado a mesma decisão.

Em agosto de 2019, viajaram Mariana, marido, um filho de quatro meses e outro de três anos. A ideia era sair de Ciudad Guayana (Venezuela) e chegar até Pacaraima (RR) para depois viajar até Florianópolis (SC) e recomeçar próximo a um primo que já morava no Brasil.

Vinte e quatro horas depois, o casal chegou até a fronteira, onde ficaram em uma fila para cruzar um portão e entrar no Brasil. Após uma longa espera, Mariana conta que uma pessoa ficou entre ela e o marido na fila. A mãe segurava o bebê caçula e o esposo o filho mais velho. Ela conseguiu entrar segurando o filho nos braços, mas quando chegou a vez do marido “o portão foi fechado”, conta.

Havia militares, eles fecharam o portão depois que a pessoa que estava atrás de mim entrou. Eu falei que era meu marido logo atrás com meu filho, mas não adiantou. Eu gritei, chorei, pedi por socorro, mas disseram que não dava mais para entrar”, conta.

Separada por “uma pessoa”, Mariana diz que, naquele dia, 5 de agosto de 2019, se viu distante do marido e do filho mais velho. Sem ter como ficar na fronteira pela falta de dinheiro, acomodação e alimentação, pai e filho retornaram para casa e a imigrante iniciou uma jornada sofrida.

Marido e filho mais velho de Mariana, que ela sonha reencontrar (Foto: Arquivo Pessoal)
Marido e filho mais velho de Mariana, que ela sonha reencontrar (Foto: Arquivo Pessoal)

As mãos são usadas a todo momento para secar as lágrimas durante entrevista. Mariana treme quando lembra dos olhinhos do filho e do marido, “desesperados”, segundo ela, com a possibilidade de nunca mais se reencontrarem. Desde o último aceno com as mãos, segurando um bebê no colo, ela diz que não para de lutar por esse reencontro.

Quando entrou no Brasil, ela enfrentou uma verdadeira peregrinação até chegar a Campo Grande. Recebeu ajuda de brasileiros, amigos venezuelanos, passou por Manaus, Florianópolis, Boa Vista, vendeu marmitas de porta em porta, fez limpeza, cuidou de crianças até conseguir a documentação para permanecer no país.

Foi com ajuda de voluntários e uma amiga que vivia no Bairro Nova Lima, em Campo Grande, que ela conseguiu uma passagem e chegou por aqui na 1ª semana de fevereiro de 2020.

O processo para encontrar uma oportunidade no mercado de trabalho foi longo. Mariana se viu em meio as dificuldades com o preconceito e a exploração. Tudo mudou quando resolveu entregar currículos em massa pela cidade e tentar um trabalho a qualquer custo.

Foi quando seu currículo foi parar em um restaurante indiano do bairro São Francisco no período que o local ainda estava em fase de construção.

“Fiz a entrevista e esperei dias. Foi quando resolvi ligar para a dona que me entrevistou. Ela me disse que o restaurante ainda estava em fase de acabamento, mas que eu seria contratada. Fiquei confiante”.

Nesse percurso de espera, uma oportunidade para trabalhar em um supermercado surgiu, mas Mariana resolveu esperar pelo restaurante.

Pouco tempo depois, Mariana iniciou como ajudante de cozinha, onde lavava pratos e talheres. Um mês depois subiu de cargo e passou a ser auxiliar de cozinha. Na voz de uma das gerentes que ouvia a entrevista, “Mari é uma das funcionárias mais aplicadas” e, se tudo der certo, “pode se tornar uma grande chefe de cozinha”, diz a outra funcionária.

Mãe só deseja ter o sorriso do filho de volta (Foto: Arquivo Pessoal)
Mãe só deseja ter o sorriso do filho de volta (Foto: Arquivo Pessoal)

Emocionada, Mariana diz que sonha em crescer profissionalmente e que as oportunidades a façam trazer para o Brasil o marido e o filho, que hoje estão novamente na fronteira à espera de uma chance para entrar no país.

Amigos e colegas de trabalho têm ajudado Mariana a levantar uma grana para conseguir trazer a família para perto, inclusive, para comprar passagem e sustenta-los até o processo de interiorização do marido para finalmente conseguir um trabalho, assim que ele chegar aqui.

“Tudo que eu mais quero é que ele consiga chegar e eu possa abraçá-lo junto do meu filho. Eu sinto muita saudade, todos os dias”.

Em lágrimas, Mariana lembra do pedido do filho nos últimos dias. “Ele falou que estava com saudade e queria tirar uma foto comigo. Então tivemos de conversar por vídeo e fazer um print. Só assim para matar um pouquinho da saudade. Mas nada se compara ao abraço que preciso deles”, finaliza.

Como ajudar – Voluntários e pessoas que tiverem o interesse de ajudar a venezuelana a abraçar sua família, podem contribuir com doações de qualquer quantia. Dados para transferência: (Banco Bradesco – Agência 3408 –  C/C 36734-6) em nome de Mariana Youselet Milano Torres no CPF 708.320.532-95.

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