Nem Alzheimer fez dona Leisle esquecer nome e rosto do querido genro Renato
Minha sogra é... Série aborda a relação entre sogras, genros e noras, e o quanto o amor pode ser forte e verdadeiro entre eles
Um fim de dia durante a semana, no sofá da sala, a família conta a história que nem o Alzheimer pode apagar. Quando dona Leisle, hoje com 73 anos, conheceu o genro Renato, a doença já tinha se manifestado e levado consigo parte das lembranças. De uma maneira que só o amor pode explicar, até o médico da família se surpreende diante da relação formada entre sogra e genro. Dona Leisle não só lembra o nome de Renato, como faz questão de demonstrar isso.
Para responder quantos anos tem, a simpática senhorinha precisa da ajuda da filha. Para dizer quantos filhos, também. Antes de numerá-los, ela os nomeia, começando por Andréa Tápia, a filha mais velha, esposa de Renato e mãe da pequena Júlia.
O primeiro encontro de Leisle e Renato aconteceu numa pastelaria na Avenida Afonso Pena, e desde que o namoro entre o casal começou, há oito anos, o genro se tornou pessoa cativa na memória da sogra.
Andréa e Renato já se conheciam desde a infância, pelo menos é o que o arquiteto conta. Os dois estudaram juntos no extinto colégio Perpétuo Socorro, mas as cenas vividas no pátio da escola não fazem parte das lembranças de Andréa, hoje advogada de 43 anos.
"Ele se lembra de mim na terceira série", brinca aos risos. Os anos se passaram e os dois se reencontraram quando Andréa passou a sair com a turma do irmão de Renato. Foram três encontros despretensiosos que os levaram ao altar, e transformaram dona Leisle na sogra querida. "Eu tinha receio da minha mãe não memorizar o nome do Renato. Ela falava: 'meu amigo, meu amigo'", recorda a filha que reforçava: 'Renato, mãe, Renato'.
Logo na primeira saída dos dois, Andréa abriu o jogo e passou todo o "b.o." da família, inclusive o Alzheimer da mãe. "Ela já tinha sido diagnosticada e estava em tratamento", relata a filha. No entanto, o que Andréa considera como "surreal" aconteceu. "Minha mãe sempre gostou do Renato, ela não gostava muito dos meus namorados não, mas dizia que ele era um menino bom, de família", conta a filha. O carinho é demonstrado diariamente quando a mãe não esquece o nome do genro.
"Ela não esquece o meu, do Renato e da Júlia. E tem amigo nosso que minha mãe conhece há muito mais tempo e não sabe mais o nome", compara.
Dona Leisle é conversadora, risonha e usa os mesmos adjetivos para definir o genro. "Por isso a gente se topou", diz. Até os gostos da sogra, Renato faz, como plantar na chácara. A explicação para este elo entre eles é feita por Renato de uma forma muito singela.
"Quando eu reencontrei a Andréa eu tinha acabado de perder a minha mãe, não digo que vejo na dona Leisle uma mãe, nossa relação é de respeito mesmo, de gostar, de ter simpatia ao ver que ela sempre cuidou da família", descreve Renato, de 44 anos.
A amizade que nasceu entre eles nunca foi no sentido de genro querendo agradar. Simples e automático, os dois se parecem e muito na hora de conversar. "Ela fica encantada com a Júlia e sempre me pergunta se meu pai tem mais netas. Eu respondo que sim, duas netas, e ela: 'três filhos homens'. Ela não esquece isso", exemplifica o genro.
Sobre lembrar ou esquecer nomes, dona Leisle pede a vez durante a conversa para explicar que não guarda mais todos, só de quem ela vê diariamente. "Eu tenho Alzheimer, sabe? A minha mente foi enfraquecendo", justifica. Ativa, a sogra faz Universidade da Melhor Idade, canta no coral e tem todo o carinho da família. O tratamento consiste em usar um adesivo que segura o avanço da doença.
Mais que amar o genro, ela gosta mesmo é de ser avó da pequena Júlia. "Para mim é fantástico, eu cuido bem dela, ela se dá comigo, porque eu gosto de brincar e gosto de criança também", diz. O maior medo de Andréa era que a mãe não tivesse consciência de que havia se tornado avó. Um dos seus grandes sonhos. "Quando eu conheci o Renato, ela só falava: 'mas eu não vou ser avó?'", lembra a filha.
Durante a gestação, até a mãe "fixar" que Andréa estava grávida, todo dia era como se fosse a primeira vez que ela ouvisse a notícia. "Era uma alegria todos os dias, ela me olhava e falava: 'você está grávida?'"
Filha de parteira, dona Leisle repetia o que aprendeu com a mãe para a filha, inclusive mandando-a fechar as pernas. "Engraçado que essas coisas antigas todas ela lembra", pontua Renato.
Quando Júlia nasceu, o pedido de Andréa era para que a mãe se lembrasse, todos os dias, que era avó. "Eu pensava: 'será que ela vai gravar?' E ela não esquece. Liga todo dia, pergunta como está a Júlia, minha neta? Minhas orações eram para que minha mãe tivesse memória para ainda ser chamada de vó Leisle", descreve.
Nas palavras do genro, o "minha sogra é" termina de uma forma emocionante, com o desejo profundo de que dona Leisle viva um tempão para ver todos juntos. "Enxerguei na dona Leisle uma coisa que eu não fazia dentro de casa com a minha própria mãe, você não enxerga, só quando perde e não tem mais. E hoje eu tento fazer a Andréa enxergar a mãe que ela tem", finaliza Renato.
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